quinta-feira, 23 de agosto de 2012

LENDAS DE PORTUGAL -XLV - AVEIRO -

A herança do Tio Marcos

Esta lenda é dos antigos tempos aveirenses, em que a festa de S. Pedro marcava a vida das populações dali. E começa com o Tio Marcos, tombado no seu leito de morte, segurando as mãos dos seus filhos Albino e Jorge, se prepara para a longa jornada sem regresso. Tinha-os educado no caminho da rectidão e do trabalho e queria assim se mantivessem.
"Meu querido Albino, tu és o mais velho. Não deves esquecer-te de quanto te ensinei, ouviste?"
E o filho jurou ao pai que nem um só momento esqueceria as lições recebidas.
"Respeita sempre o teu irmão, Jorge, ele é o mais velho. Gostaria que vocês fossem um nó tão apertado que ninguém o pudesse desatar!"
Comovidos, os filhos disseram ao velho que poderia confiar neles. O Tio Marcos disse-lhes que assim poderia morrer descansado mas, antes, queria entregar-lhes a herança. E de debaixo da sua almofada tirou um pequeno saco.
"Está fechado e só o abram quando estiverem verdadeiramente aflitos. Não é muito, mas é o que vos posso deixar. Guarda-o tu, Albino, mas lembra-te que isto é de ambos! É leve, mas vale uma fortuna. Mas primeiro contai com o vosso trabalho!"
E lá se foi o bom Tio Marcos. Os dois rapazes guardaram o saco e voltaram ao trabalho, que tinham bons braços para isso. E corria tudo muito bem para eles até que, um dia, chegou uma rapariga muito bonita à aldeia. Dizia-se que fugira de casa por não querer casar com o homem que o pai queria por força e ela odiava. E muitos rapazes da aldeia ficaram enamorados dela, incluindo o Albino e o Jorge. E ela a todos dava esperanças. Porém, aquela situação começou a criar problemas entre os dois irmãos, que chegaram a relaxar o próprio trabalho, além da amizade que os unia. Chegaram mesmo a discutir. Qualquer deles presumia ser o rapaz de quem ela gostava. Depois da discussão, cada um deles procurou a bela rapariga e combinou fugir com ela da aldeia logo depois das festas de S. Pedro. Um e outro se prontificou a deitar a mão ao saco, onde estava a herança do Tio Marcos. Porém, a rapariga conseguiu dar cabo da cabeça a um e a outro, sugerindo-lhes que matasse o irmão. E eles, na inconsciência da paixão, nem se lembravam das palavras amigas do pai.
Ora a noite de S. Pedro, em pleno arraial, Albino e Jorge encontraram-se frente a frente. O primeiro tinha na mão o saco da herança do Tio Marcos. Ali mesmo os irmãos engalfinharam-se. Pareciam dispostos a matar. De repente, ouviu-se uma voz: "S. Pedro, valei-me!" E o próprio S. Pedro apanhou o saco e abriu-o. Dentro estava apenas um nó apertadíssimo. Os irmãos olharam-no e caíram em si. Houve um estrondo e a rapariga por quem lutavam desfez-se em fumo. Abraçaram-se e entenderam que estiveram a ponto de ceder ao demónio tudo de bom que neles havia!

sábado, 18 de agosto de 2012

TELESCÓPIO HUBBLE CAPTOU IMAGENS DE ESTRELAS PRESTAS A COLIDIR ENTRE SI


A 170 mil anos da Terra - o que é muito, muito longe - há dois grupos gigantes de estrelas que estão prestes a colidir entre si, o que deverá proporcionar um fogo de artifício cósmico digno de se ver, quando acontecer. A descoberta foi feita por acaso em imagens do telescópio Hubble, por um grupo de astrofísicos que procurava na região das nebulosas de Magalhães e de Tarântula estrelas fugitivas dos seus berços originais. Sabe-se que há estrelas jovens que são expulsas a altas velocidades das suas "creches" de origem e a equipa de Elena Sabbi, do Instituto Científico do Telescópio Espacial, em Baltimore, nos Estados Unidos, andava à procura delas. Foi então que viu estrelas com formas alongadas, característica manifestada da mesma maneira pelas galáxias que estão em colisão. Aquela região do céu tem sido nos últimos 25 milhões de anos uma ativa fábrica de estrelas, mas esta colisão iminente deixa no ar a dúvida sobre quanto tempo mais vai a "fábrica" funcionar.

DN -18.08.2012-

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

ELVIS PRESLEY - It's Now Or Never - 1960

ELVIS PRESLEY 1935 - 1977

A cidade de Memphis (Tennessee, Estados Unidos), onde viveu e morreu Elvis Presley, vai assinalar os 35 anos da morte do “rei do rock” com várias iniciativas, incluindo um concerto de tributo.


Elvis Aaron Presley morreu a 16 de agosto de 1977, aos 42 anos, na mansão Graceland, que se transformou nas últimas décadas num local de culto para os fãs do cantor.
Em Memphis, onde são esperados este ano cerca de 75 mil fãs do músico, está a decorrer a “Elvis Week” (Semana de Elvis, em português), evento que inclui várias iniciativas, como uma vigília nas imediações de Graceland e um concerto tributo.
A ex-mulher de Elvis Priscila Presley e a filha Lisa Marie Presley são as presenças mais aguardadas no concerto.
Durante o evento, vários músicos vão tocar ao vivo os grandes êxitos de Elvis, acompanhando imagens de arquivo de algumas atuações do “rei”.
“Hound Dog”, “Jailhouse Rock”, "Loving You" ou “Love Me Tender” são alguns dos temas que poderão constar no alinhamento do concerto.
Também por ocasião do 35.º aniversário da morte de Elvis, um hotel de Memphis vai promover um leilão com vários objetos pessoais do cantor, incluindo frascos de comprimidos, uma gabardina, óculos, pistolas ou um recibo de biblioteca que o artista assinou quando tinha apenas 13 anos.
Uma das peças mais valiosas e mais aguardada pelos fãs e colecionadores será uma guitarra branca que Elvis utilizou em 1950, anos antes de conhecer o sucesso.
A peça está avaliada em 7.500 dólares (cerca de seis mil euros), mas o preço base de licitação será de 9.375 dólares (cerca de 7.600 euros).
Elvis Presley nasceu a 08 de janeiro de 1935, na cidade de East Tupelo (Mississipi).
Trinta e cinco anos depois da morte do artista, continuam a existir várias teorias que defendem que Elvis Presley ainda está vivo.



sábado, 11 de agosto de 2012

ÍRIS

Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Asparagales
Família: Iridaceae
Género: Íris


Íris L. é um género de plantas com flor, muito apreciado pelas suas diversas espécies, que ostentam flores de cores muito vivas. São, vulgarmente, designadas como lírios, embora tal termo se aplique com mais propriedade a outro tipo de flor. É uma flor muito frequente em jardins. O termo íris é compartilhado, contudo, com outros géneros botânicos relacionados, da família Iridaceae. O termo pode ainda aplicar-se a uma subdivisão neste género.
Podemos considerar os seguintes subgéneros:
Iris: com caule subterrâneo (rizoma).
Limniris: também com rizomas.
Xiphium:  por vezes considerado como um género à parte (Xiphion), que constitui o grupo principal de íris bulbosos.
Nepalensis: por vezes considerado como o género, à parte, Junopsis; também bulboso.
Scorpiris: por vezes considerado como o género Juno; também bulboso.
Hermodactyloides: por vezes considerado como o género Iridodictyum, incluindo a pequena espécie Íris reticulada e outras semelhantes


domingo, 5 de agosto de 2012

A CHOCA

Aquela tarde, a Choca recolhera ao poleiro mais cedo do que o costume. Atrás dela, lembrando doze novelitos de ouro a mexerem-se como por milagre, os doze filhinhos tinham seguido a mãe, – e lá dentro, qual deles com mais dificuldade, um a um tinham-se encarrapitado no velho cesto de palha onde faziam a cama, aninhando-se, o melhor que puderam, debaixo da asa materna.
Eles mesmos tinham estranhado recolher tão cedo aquela tarde, os pequenitos; – mas, cá fora, o rancho das outras galinhas atribuía isso à doença da Choca, porque a pobre, com o gogo, metia dó com tamanho sofrer! Um pouco aterradas, tinham assistido havia três dias a essa operação que a Choca sofrera, e que certas delas, na grei, sabiam muito dolorosa. A pena que lhe espetara no pescoço a velha que cuidava delas, fora o mesmo que nada, – e se mal estava, pior ficara, a pobre! Ainda a trazia, essa pena, mas quase seca porque não purgava; e entretanto, sem bem lhe fazer, afligia-a como se fosse um estigma, – tanto ou mais que a própria doença...
Por isso recolhera cedo, a Choca; deixando fora, pelo terreiro, gozando ainda o seu resto de tarde, o rancho das companheiras.
Ai, eram bem felizes, essas! Pelo buraco do poleiro, sentia-as agora cacarejar, – e não tardaria que o milho do recolher, que a velha, todas as tardes, trazia para elas no seu mandil, alvoroçasse no prazer do costume, em que por via de um grão, às vezes, havia entre todas rixas alegres, o bando das companheiras...
Só ela, doente, quase já não sabia o que era comer; – e ainda essa tarde, morta de sede, invejara a gotinha de água que um ou outro dos seus pintainhos, beberricando na pia, deixava, depois de saciado, cair do biquinho como uma pérola.
Mas nem comer nem beber, ela, que era muita a gosma, e não podia! E pelo que tocava a cacarejar, nem o bastante para a ouvirem os filhos, para os admoestar, para os dirigir, – quanto mais para uma dessas tiradas que outrora lhe haviam feito, ao romper da manhã, a sua fama de cantadeira! Galos que ela apaixonara, ciúmes em que fizera arder tantas rivais, ralhos, intrigas, combates, – como tudo isso ia longe, agora! Nos bebedouros, ela mesma se namorara da sua figura esbelta, muitas vezes; – e que o não adivinhara na devoção dos galos, de tantos que a tinham amado, e que ao aclarar das manhãs, todos os dias, lhe declaravam o seu amor dos poleiros à roda,– adivinhara-o na inveja das outras, esse prestígio mágico da sua beleza...
Certo galo, sobretudo, agora já velho, – e, como ela, agora já também sem entusiasmos, dir-se-ia que o enfeitiçara; e agora mesmo, vendo-a recolher cedo com a ninhada, esse velho e trôpego apaixonado (mas belo, ainda assim, na sua justa decrepitude) não tardara a recolher-se também. Subtil, passara, sumira-se ao fundo na sombra densa; e erguendo um voo pesado, sentira-o aninhar-se onde passava as noites, numa trave a um canto do poleiro. Cansaço talvez da vida, talvez doença também, – quem lhe dizia a ela, entretanto, que ele se não recolhera por a ver recolher, por a ver doente, por um impulso de compaixão, que era agora, talvez, como a agonia do seu velho amor?!
Pelo que respeitava às companheiras, as da sua geração eram já poucas; e essas, como ela própria, mais saudosas da mocidade, do que lembradas; e quanto às novas, muitas criara-as ela, – e, sobretudo, não era já dela que tinham ciúmes...
De resto, ela mesmo era boa companheira; e tirante algum fogacho de génio por amor dos filhos, se tinha de os proteger ou se lhos ofendiam, até no comedouro era moderada e no bebedouro; – e muitos pintainhos doutras ninhadas queriam-lhe como se fosse avó, e os frangos, uma vez por outra, ela própria, de manhã, ensinava-os a cacarejar.
Ah, mas esse bom tempo ia passado! Já chocara a ninhada com pouca saúde; e surpreendendo-se, às vezes, sem paciência para aturar os filhos, ignorava se seria por isso, se por a verem talvez doente, que eles mesmos, coitadinhos, pareciam às vezes também doentes!
...Entretanto, eles tinham-se aninhado todos, o melhor que lhes fora possível, debaixo da asa materna; – e embora muito enferma, ela era feliz, ainda assim, por ter tão quentes os seus pequeninos, – e agora, por certo, todos a dormir e talvez sonhando..

Trindade Coelho







sábado, 4 de agosto de 2012

A PAZ

Se eu te pedisse a paz, o que me darias
pequeno insecto da memória de quem sou
ninho e alimento? Se eu te pedisse a paz,
a pedra do silêncio cobrindo-me de pó,
a voz limpa dos frutos, o que me darias
respiração pausada de outro corpo
sob o meu corpo?
Perdoa-me ser tão só, e falar-te ainda
do meu exílio. Perdoa-me se não te peço
a paz. Apenas pergunto: o que me darias
em troca se ta pedisse? O sol? A sabedoria?
Um cavalo de olhos verdes? Um campo de batalha
para nele gravar o teu nome junto ao meu?
Ou apenas uma faca de fogo, intranquila,
no centro do coração?
Nada te peço, nada. Visito, simplesmente,
o teu corpo de cinza. Falo de mim,
entrego-te o meu destino. E a morte vivo
só de perguntar-te: o que me darias
se te pedisse a paz
e soubesses de como a quero construída
com as matérias vivas da liberdade?

Casimiro de Brito