domingo, 30 de junho de 2013

LENDAS DE PORTUGAL - LV - PENICHE

AFINAL, OS AMIGOS NÃO SÃO FALSOS
Pois quantas vezes proferiram a expressão "amigos de Peniche" na acepção de falsos amigos? Pois se o fizeram mais do que uma vez, outras tantas cometeram uma recortada injustiça. É bom que se preparem para uma revisão do conceito. Ora vamos lá por os ponto nos ii:
Falecendo o Cardeal D. Henrique, não deixando descendência confessada, logo três netos de D. Manuel I apresentaram-se com pretensões à coroa portuguesa. Eram eles Filipe II de Espanha, D. Catarina de Bragança e D. António o Prior do Crato. O primeiro fez prevalecer o poder da força e do dinheiro, D. Catarina pouco contou, mas o Prior de Crato obteve para a sua causa uns vinte mil homens e cento e vinte navios grandes e pequenos, num generoso gesto de Isabel Tudor, a monarca inglesa. Ora esta tropa desembarcou em Peniche a 26 de Maio de 1589. A guarnição da fortaleza não demorou a render-se, o mesmo acontecendo com Peniche. O general John Norris, que comandava a força, convenceu-se imediatamente que aquilo eram favas contadas para tomar Lisboa. Aliás, D. António julgava que a população. a um gesto seu, se poria do seu lado.
Assim, o Prior de Crato e os ingleses meteram-se a caminho de Lisboa. Na viagem, sem que o pretendente ao trono o pudesse evitar, por absoluta falta de meios, os ingleses assaltavam quanto podiam, apanhando as populações desprevenidas. E ao chegarem perto de Lisboa, foram recebidos a tiro de canhão pelos ocupantes espanhóis, o que os desconsertou. Os lisboetas estavam perplexos pois tinham ouvido falar que viriam os amigos de Peniche salvá-los do inimigo espanhol e, afinal era aquela horda indisciplinada, que logo se retirou do campo de luta, não cumprindo o acordado. E muitas esperanças se desvaneceram, estendendo-se aquela decepção aos próprios moradores de Peniche que, afinal, não tinham nada que estar envolvidos! E D. António teve de passar à clandestinidade. Conta Mariano Calado, historiador local, que um seu amigo ante a expressão "amigos de Peniche" na boca de alguém dizia sempre: "Olhe, meu caro, amigos de Peniche são uma cáfila de patifes que eu tenho encontrado por toda a parte, menos lá!"
Assim haja respeito pelos amigos de Peniche e cuidado é com as súcias que se arranjam, por muito boas que sejam as causas!

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