domingo, 30 de julho de 2017

LENDAS DE PORTUGAL - 104ª - ARRONCHES

A NOVA AROCHE

É uma história de amor e intriga a lenda que nos conta a origem de Arronches. 
Situa-se no ano 39 da nossa era e começa quando o cruel Caio Germano Calígula obrigou um jovem nobre romano a comer à sua mesa na companhia do seu cavalo Incitatus, que tinha a categoria de primeiro cônsul! Irritado com a situação, Licínio Balbo abandonou Roma e viajou para a Andaluzia. E foi para a cidade de Aroche, governada por Flávio Valério, émulo de Calígula. Seja, em Aroche ele estava no centro de todas as intrigas, e os seus sicários maltratavam e matavam quem a sua arbitrariedade ordenava.


Quando Júlio Decêncio, oficial romano, entrou com a sua bela filha Márcia no salão de Flávio Valério, este fez comentários grosseiros em relação a ela. O pai, que ali fora convocado a comparecer com a filha enfrentou o governador, mas o poder do tiranete fazia-se senti. Depois Valério acusou Márcia de práticas cristãs, ameaçando-a. Entretanto,  os seus soldados trouxeram-lhe Licínio Balbo, que ele mandara prender nas ruas de Aroche. O rapaz, desenvolto, manifestou admiração pela jovem e o interesse em conhecer a religião cristã, desafiando abertamente o governador. Na frente deste disse em voz alta que ainda não conhecia Deus, mas não lhe repugnava acreditar que será mil vezes superior a Calígula.
E a conversa foi de novo encaminhada para o velho Júlio Decêncio e a sua filha. E no final quer estes, quer o jovem puderam sair, mas no ar pairavam as ameaças de Flávio Valério, que tinha a noção deles não poderem sair  de Aroche nem escapar ao seu controlo.
Prudentemente Márcia e Licínio estiveram alguns dias sem se deixarem ver, por fim encontraram-se. Tiveram então uma conversa, pela qual o jovem romano mostrou de novo interesse em conhecer o universo secreto dos cristãos, mesmo a sua doutrina. E a paixão instalou-se nos corações dos dois jovens, que passaram a andar juntos, frequentando Licínio Balbo a casa de Júlio Decêncio.
Porém, um dia, o namorado da Márcia soube que Flávio Valério tinha preparado uma emboscada para raptar Márcia, tencionando fazê-la ceder pela força aos seus apetites carnais. Decêncio dispôs-se a ir ao palácio do governador e matá-lo como a um cão. A prudência não lho consentiu e dispuseram-se abandonar a Andaluzia, fazendo-se acompanhar da centena de soldados da casa do oficial roman o, que estavam decididos a não abandonar o comandante. E assim fizeram.
Em pequenos grupos, Júlio, Márcia e Licínio saíram de Aroche, porém com saudades daquela terra que amavam como a sua. Porém, Márcia suspirou: "Formaremos uma nova Aroche... E lá, sob signo de Deus, poderemos ser felizes!"
E assim os persiguidos de Flávio Valério caminharam muitas léguas até chegar a Lusitânia e aí findaram a Nova Aroche, n ome que, com o andar dos tempos, se tornou Arronches.

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