quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

LENDAS DE PORTUGAL - 122ª - ARCOS DE VALDEVEZ

A CABEÇA DA VELHA

Aqui há uns anos, perto da aldeia chamada Gavieira, freguesia de Arcos de Valdevez, uma mole granítica, que tinha a configuração da cabeça de uma velha, pelo que assim lhe todos lhe chamavam, precipitou-se pela encosta de um dos montes da serra, acabando por desfazer-se. As pessoas então comentaram que se tinha acabado o castigo e a alma da velha fora juntar-se às almas dos namorados que ela protegeu e se viu obrigada a denunciar. Vamos à lenda. Pois entre os rios Minho e Lima, junto à fronteira, é a Serra da Peneda, a oeste da serra onde havia a tal Cabeça da Velha. Pois no espaço que hoje corresponde a Gavieira existia um domínio onde vivia Leonor, uma menina muito bela e rica, órfã de pai e mãe. Encontrava-se sob a tutela de um tio, D. Bernardo, um fidalgo com poderes e de maus tratos. Todos lhe obedeciam cegamente, da menina aos criados. Ora uma vez, a menina apaixonou-se. Apaixonou-se por um belo rapaz, D. Afonso, fidalgo, mas arruinado, que queria ganhar riquezas para a pedir ao tio. Ela já sabia que o tio iria contrair os seus amores e o que ele não seria capaz de fazer ao moço! No entanto, encontravam-se os apaixonados, encontros fugazes, secretos.
Protegendo estes encontros havia uma velha criada, Marta. Pois um dia, a mulher encontrou-se com D. Afonso que lhe deu uma carta para Leonor e lhe pediu ainda outros recados. Ela prometeu e até jurou por Deus que nunca os denunciaria, tanto mais que quando D. Bernardo se enfurecia...
Só que a conversa entre o moço fidalgo e a criada foi interrompida pela súbita chegada do velho fidalgo. Desconfiou por ver Marta  no jardim e apercebeu-se do vulto de Afonso esgueirando-se. Apertou com a mulher, ameaçou mandar executar-lhe um sobrinho a quem ela muito queria. Por fim, apanhou-lhe a carta. A carta era marcação de um encontro num monte próximo, devendo a velha acompanhar a sua menina, Leonor. No dia seguinte, ao cair da tarde, a rapariga foi ter com o namorado. Marta também foi, mas ficou a alguma distância.


D. Afonso queria despedir-se de Leonor, pois dirigia-se à Galiza arranjar fortuna que lhe permitisse pedi-la em casamento ao terrível D. Bernardo. Juraram amor eterno, mas não tardou que escutassem vozes. Era o tio dela e a sua soldadagem que os queria apanhar. Foram ao encontro de Marta e viram que ela se tinha transformado numa cabeça de pedra. Só podia ser castigo divino por ter quebrado a jura que fizera. E os namorados, receosos de serem apanhado por D. Bernardo e os seus, subiram para o cavalo de D. Afonso e fugiram. Ora com isto não contava o tio, que não os conseguiu apanhar.
Depois, do outro lado da fronteira, os jovens casaram e D. Afonso demorou alguns anos a reunir fortuna. E quando voltaram a Portugal já o tio morrera e eles foram ao local do encontro e verificaram que, de facto, eram da cabeça de Marta as formas daquele penedo. E ali perto fizeram uma capelinha, que ainda hoje lá está.

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