Possivelmente, é pergunta que nenhum leitor fez. Por que cantam os rouxinóis?
Pois era uma vez um rouxinol que num entardecer se perdeu do seu bando e fechou-se a noite sem que ele tivesse dado com os seus manos e primos. E lá foi voando até pousar na latada do passal. Como não era lido, não conhecia aquela história do melro que fez o ninho na horta do senhor abade e ali adormeceu...
Como o melro, também o rouxinol adormeceu. Mas acordou com os primeiros raios de sol, é verdade, a manhã sorria-lhe e ele decidiu fazer o voo matinal, mas não conseguiu. Estava preso por uma gavinha e preso ficou até que morreu. Ora os outros rouxinóis deram por falta dele e, depois de muita procura, lá deram com ele, morto. Choraram-no porque eram todos muito amigos. No entanto, os rouxinóis também pensam, pelo que voaram para o cruzeiro ao pé da igreja, mesmo diante do passal. Aí deliberaram rogar a Deus, pelas cinco chagas do Filho, que lhes desse a faculdade de cantar. O Senhor meditou a situação e atendeu-os, com a única condição de que só cantariam hinos à liberdade. E durante muitos anos os rouxinóis cantaram sempre em liberdade.
Agora, querem ouvir a lenda de S. Domingos, tal como no-la conta Frei Luís de Sousa na sua obra sobre a ordem:
... e foi a razão de se edificar aqui, que andando uma menina guardando gado, deu com uma imagem de vulto entalada entre dois penedos. E sem saber de que santa era, nem se era de santo, com tanta simplicidade, continuava a fazer oração diante dela.
Vindo à notícia dos vizinhos e moradores da ribeira, acudiram vê-la, e achando que era de S. Domingos, nos sinais do hábito e insígnias que trazia consigo, edificaram-lhe, no mesmo lugar uma pequena ermida, na qual fundaram depois a freguesia.
Porque, como da Ribeira a Pedrógão, donde eram fregueses, há duas grandes léguas e de fragoso caminho, aproveitaram-se da comodidade, alargando a ermida.