sábado, 31 de dezembro de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 97ª - ALMODÔVAR

O CAVALEIRO NEGRO

A lenda do Cavaleiro Negro é a mais simples de contar. Pois não é que quando começava formar-se a povoação de Almodoura, um cavaleiro de armadura negra, que não gostava do sítio onde se construíam as casas, passava a noite a desfazer o que os pedreiros faziam de dia? Até que a população decidiu fixar-se ali perto, mas em sítio mais apaziguador de ânimos. E é curiosa esta lenda porque ainda hoje, junto de Almodôvar há uma pequena localidade chamada Almodôvar-a-Velha, decerto que mais antiga. Mas vamos  é passar a uma outra lenda, que poderíamos chamar de complementar.
Assim, quem for a Almodôvar, dirija-se à igreja da Misericórdia, que está voltada para a Praça da República. Essa capela é dedicada ao Senhor do Calvário, o Cristo Crucificado de amplas tradições locais. Os milagres atribuídos ao Senhor Jesus do Calvário ganharam muita fama. Ora isto fez criar invejas em muitas localidades, que queriam ter nas suas igrejas imagem tão importante. E, assim, num belo dia de sol, um batalhão de cavaleiros, armados de lanças e espadas, encaminhou-se para Almodôvar para conquistarem à força o Senhor Jesus do Calvário!
Porém, ao aproximar-se essa força da vila, formou-se um nevoeiro tão escuro que ocultou a povoação. Mesmo os habitantes, que escutavam o tropel dos cavaleiros e o tilintar das armas, iam às janelas e às portas e nada viam! E, no dia seguinte, quando perceberam que Almodôvar tinha sido milagrosamente salva de um bando de ladrões da imagem, a população fez uma procissão e passeou o Cristo Crucificado pelas ruas floridas de Almodôvar. Por esta razão a vila é designada por Vila Negra e é tão venerada a imagem.


segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

MÁRMORE - AS CATEDRAIS INVISÍVEIS DO ALENTEJO PROFUNDO


A natureza criou há milhões de anos uma jazida do melhor mármore do mundo entre Sousel e Alandroal. Existem poços desde o tempo dos romanos, alguns já com 140 metros de fundo, e de onde seguiram blocos até para construir o Taj Mahal na Índia.
Há números para todos os gostos quando se quer radiografar a indústria mineral desta região, uma língua de terra estreita e única no planeta localizada entre o Alandroal e Sousel, passando por Vila Viçosa, Estremoz e Borba. Foi aí que há milhões de anos, quando a crosta terrestre estava em formação, nasceu um oásis do melhor mármore do mundo. Este carácter único da região é também sinónimo de várias qualidades de mármore, desde os cinzentos, azul, ruivina, claros, cremes e róseos, ou de vergada fina castanha e acinzentada. Variedade que se pode observar no Museu do Mármore, em Vila Viçosa, que se intitula Capital do Mármore, ou nos espaços expositivos para clientes das muitas empresas que ali existem.
Há números fascinantes e existem os trágicos nesta indústria. Neste último caso, cada vez em menor quantidade, como era a morte de muitos operários dentro dos poços. Hoje é difícil imaginar como era retirar blocos com muitas toneladas à força dos músculos, como quando os faziam deslizar desde o fundo sobre paus ensebados. De vez em quando, lá faltava a força, e era a tragédia. Uma situação fácil de imaginar enquanto o elevador vai na sua corrida até ao fundo do poço e se observa um bloco de mármore a subir, preso em cabos de aço que suportam o seu peso gigantesco. Se os cabos se rompem, o impacto no fundo da pedreira fará o bloco partir-se em milhares de bocados que se espalharão como estilhaços de uma granada em todas as direções.
Há escultores que comprem  bocados nas pedreiras para fazer esculturas e estátuas. Estes bocados para as pedreiras é lixo.


sábado, 17 de dezembro de 2016

OS SAPATOS E AS SUAS HISTÓRIAS



O Museu do Calçado de São João da Madeira proporciona uma viagem no tempo através da moda do design, dos processos de produção e dos pés que andaram calçados com alguns modelos em exposição.
Seis anos de investigação deram nisto: a evolução do calçado desde a pré-história, máquinas e processos explicados do início ao fim, modelos de criadores nacionais e internacionais, exemplares de diferentes épocas. O novo Museu do Calçado de São João da Madeira instalou-se na antiga metalúrgica Oliva, um enorme edifício emblemático da cidade, e da sua tradição industrial.
Tudo o que diz respeito a esta indústria pode ser ali visto, ao perto. Maquinaria pesada, como o balancé que corta a matéria-prima e o pantógrafo que tira medidas às peças conforme os tamanhos. A máquina de costura que as gaspeadeiras usam para coser as peças. Ou ainda a máquina de fechar calcanheiras que dá a primeira forma e a máquina de polir materiais.
Neste museu, os sapatos não são apenas resguardos para os pés. Valter Hugo Mãe doou os sapatos cinzentos com ares de turista com que voltou a pisar Saurimo, em Angola. Eunice Muñoz cedeu os sapatos pretos com que pisou o palco na peça "Mary May" em Dezembro de 1964. Manuela Azevedo enviou os botins que calçou na digressão do álbum "Cintura" e que perderam o salto várias vezes. Há também sapatos castanhos e simples de António Guterres. E sapatos de Mário Zambujal, sapatilhas azuis de Pedro Abrunhosa, sapatos altos de  Catarina Furtado, sapatos-luva de Carlos do Carmo. As sapatilhas Sanjo, outrora as mais procuradas do mercado, têm espaço reservado, assim como os grandes estilistas portugueses e estrangeiros desta arte.
O recuo ao passado é obrigatório. O túnel do tempo é feito em ziguezague com réplicas de sapatos. Cascas de árvores, folhas, peles e fibras vegetais entrelaçadas no pé durante a pré-história. Sandálias encontradas no túmulo de Tutancámon no Egito. O sapato branco com fivela de metais preciosos e salto vermelho de Luís XIV de França. Sabrinas rasas, macias e decotadas do século XIX. Cunhas e plataformas dos anos 30, os Chelsea boots popularizados pelos Beatles nos 60, saltos altos e rasos nos loucos 70, o glamour dos 90, o design cada vez mais apurado no século XXI, Tudo isso num museu de dois pisos.



Evasões # 90

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL


A pequena Pepita não sabia o que oferecer ao Menino Jesus. Muito triste e desolada foi consolada por seu primo Pedro quando disse que o Amor a Deus é a melhor de todas as oferendas. Mesmo assim Pepita em sua fé e devoção sente a necessidade de oferecer algo ao Menino Jesus e pelo caminho até a capela vai colhendo plantas e folhagens as quais deposita aos pés do altar. Ali a menina chora e suas lágrimas caem sobre as plantas e diante de toda congregação estas assumem um lindo tom avermelhado e se transformam em poinsétias e desde então esta é a Flor do Natal.

(Luís Alves)

sábado, 10 de dezembro de 2016

CRAVO DOS POETAS



Nome científico: Dianthus barbatus L.
Nomes comuns: Cravo-dos-poetas, Mauritânias, Cravina-dos-poetas
Família: Caryophyllaceae
Origem: Europa e Ásia



O cravo-dos-poetas é uma planta herbácea bianual que pode atingir 25 a 50 cm de altura. As suas flores perfumadas formam cachos densos e arredondados, podendo ser vermelhas, brancas, cor-de-rosa ou lilás. A sua floração ocorre de maio a agosto.

Utilizações: No jardim, esta planta pode ser usada em vasos, canteiros e floreiras. 
A sua floração atrai abelhas, pássaros e borboletas.

As suas flores possuem uma longa duração, pelo que podem ser usadas como flor de corte. 

As suas flores são comestíveis, têm um sabor suave e podem ser utilizadas para enfeitar saladas, bolos, sobremesas ou bebidas.

Cultivo: Deve ser cultivada em locais com boa exposição solar e cresce facilmente em solos soltos e férteis. Devemos fertilizar abundantemente a planta no início da primavera para obtermos muitas e bonitas flores. A primeira floração ocorre no ano seguinte à sementeira. Multiplica-se por semente ou divisão da planta.

Curiosidades: O nome Dianthus significa “flor divina”, pois deriva da palavra grega dios(divino) e anthous (flor); O nome da espécie barbatus deriva do latim e significa 'barbudo' em referência às marcas que cercam a entrada do pólen e que atraem os insetos polinizadores; Esta planta em Inglaterra é comumente conhecida como Sweet William (William doce), pelo que no casamento do príncipe William e Catherine Middleton, a noiva incluiu esta flor no seu bouquet em homenagem ao noivo.



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 96ª - PONTE DE LIMA

D. SAPO E OS QUATRO ABADES

O fidalgo chamava-se D. Florentim Barreto, mas era conhecido por D. Sapo. Tinha a sua torre e o seu solar em Cardielos, Ponte de Lima. E possuía o abominável direito de pernada, seja de dormir a primeira noite com cada recém-casada dos seus territórios. Era um enxovalho para o povo de Cardielos, mas o fidalgo amparava-se numa data de outros poderosos fidalgos na corte. Arrogante e ruim, D. Sapo tinha aquele povo na mão.
No entanto, não há mal que sempre dure. E não durou a partir do momento em que um rapaz de Cardielos decidiu casar e não consentir que o D. Sapo lhe gozasse a noiva no dia do casamento. E quis levantar o povo, mas a reunião deu para o torto. Toda a gente receava, mais do que D. Sapo, as represálias do rei e dos amigos de D. Sapo.Então, o moço noivo sugeriu que uma representação se deslocasse à corte e procurasse ser recebida pelo monarca. E assim aconteceu.
"Majestade, viemos dar-lhe conhecimento do que se passa na nossa terra, em Cardielos. Há lá um sapo que tira a virgindade às raparigas casadoiras..." O rei sorriu daquela notícia que lhe pareceu ingénua. "E nós precisamos de Vossa Majestade  para nos autorizar em acabar com o peçonhento..."
Achando que era um divertido jogo, o rei disse ao secretário que escrevesse uma declaração. Nela dizia que autorizava o povo de Cardielos a acabar com o sapo que assim fazia. E assinou.
Regressados da corte, os homens de Cardielos armaram-se e lançaram-se contra o D. Sapo matando-o, destruindo-lhe o solar e a torre. Mas não tardou que ali se apresentassem os fidalgos amigos de D. Florentim com as suas tropas para vingarem aquele morte. Mas os de Cardielos recorreram ao rei, exibin do a carta que autorizava o extermínio do sapo. E o rei, sabedor do ocorrido, deu-lhes razão, mandou retirar de Cardielos os amigos do tiranete e protegeu aquela gente que, com expediente, soubera salvar-se das ruindades de D. Sapo.



domingo, 13 de novembro de 2016

IMMANUEL KANT


A amizade é semelhante a um bom café:
uma vez frio, não se aquece sem perder bastante do primeiro sabor.


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

1959 - QUENTINHAS E BEM REGADAS

A 11 de Novembro, com provas de vinhos, água-pé e castanhas, o país rende louvores a São Martinho. Um santo que, apesar de austero e abstémio, põe toda a gente a comer e beber em seu nome.
As castanhas assadas têm uma influência fundamental em quase todas as infâncias. Podemos preferi-las cruas, cozidas, em purés, recheios, na sopa, mas não há como as dos assadores de rua, com cheiro a fumo (diferente do cheiro a fumo de fogueira), para nos lembrar de que é quase Natal - mesmo que o "verão de São Martinho" traga calor.


A 11 de Novembro de 1959, dia de São Martinho, o "Diário de Notícias" publicava esta fotografia, referindo que os magustos, "segundo as normas clássicas, têm por base a castanha assado ou cozida, que à maravilha se casa com o néctar das cepas a fulgurar e a crepitar no bojo das canecas e das taças". É verdade, o repasto pede bebida para não embuchar.
"Em dia de São Martinho prova o teu vinho, assim proclama o adagiário que diz respeito a Novembro e assim a recomendação é cumprida, na generalidade, pelo vinicultor amador que se preza de ter vinha ou mesmo parreiral em quintelho".
Observações multisseculares mostraram aos produtores de vinho ser esta a época precisa para provar o produto, após a vindima, a pisa e a sazão do mosto. "Mas que isso ritualmente seja feito sob a égide do bom São Martinho, santo por de mais austero e abstémio, é que não se atina com facilidade."
Portugal é, atualmente, o segundo maior produtor mundial de castanha, depois da China, mas as ameaças climáticas e de pragas estão a colocar o negócio em risco.

Noticias Magazine


domingo, 6 de novembro de 2016

CICHORIUM INTYBUS

Cichorium intybus
Sinónimos
         Cichorium balearicum Porta

   
Cichorium byzantinum Clementi
         Cichorium caeruleum Gilib.




Cichorium intybus conhecida popularmente como chicória é uma erva bianual da família das Compositae, nativa da Europa e da Ásia posteriormente cultivada em todo o mundo, é utilizada na alimentação e como planta medicinal.

Outros nomes

Na culinária italiana é usada como salada.

Descrição

Sua altura varia entre 20cm e 50cm, tem talo cilíndrico, suas folhas são lanceoladasdos sinuosos, suas flores são de um azul vivo e reúnem-se sempre inflorescências abrindo-se sob forma de estrela e florescem da primavera até o Outono.

Fitoterapia

Popularmente é usada para tratar problemas hepáticos e também como tónico e depurativo do sangue e ainda como laxante.
As raízes torradas e moídas possuem propriedades tonificantes e são usadas como substituto do café, é hipoglicémico, aumenta a secreção biliar, hepatoprotetor, atua no glicogénio do fígado e promove a digestão.

sábado, 29 de outubro de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 95ª - MORTÁGUA

QUEM MATOU O JUIZ?

Aqui há uns anos ainda não se podia perguntar em Mortágua: Quem matou o juiz? Os mais velhos levavam a mal e podia ser que houvesse pancadaria. Porém, hoje já ninguém liga a essa brincadeira que atravessou os tempos com foros de tragédia. Há, mesmo, duas versões da lenda. Começaremos pela que joga com mais dados históricos. Pois vamos ao reinado de D. Afonso IV, façam favor.
Gil Fernandes de Carvalho, um dos senhores de Carvalho e Cercosa, nascido ainda em tempos de D. Dinis, era um homem poderoso e rico. Por qualquer razão, o juiz de fora de Mortágua mandou açoitar-lhe um moço de esporas, sentença esta que foi confirmada pelo corregedor da comarca. Gil Fernandes entendeu que o magistrado abusara dos seus poderes afrontando a sua fidalguia e mandou espancá-lo até à morte. E enquanto apanhava, o juiz e quem mais fosse escutava o pregão "Justiça que manda fazer Gil Fernandes!" Ao que se disse, o juiz de fora não só perdeu a vida como as orelhas e o nariz!

Mas há uma versão um pouco diferente. Nesta, o juiz de fora terá exorbitado de funções perante a população. Esta tocou o sino a rebate e prendeu o juiz, levando-o para os limites do concelho de Mortágua. Aí foi assassinado, usando os seus executores sachos, forquilhas, foucinhas, etc.
D. Afonso IV, sabedor deste crime, mandou indagar e o funcionário régio que se deslocou à terra, perguntando a cada pessoa quem matara o juiz, ouvia sempre a mesma resposta: "Foi Mortágua!" Agora com o que Mortágua não contava era com séculos de engraçadinhos que a primeira coisa que faziam ao chegar ao largo principal era perguntar, com ar de mofa: "Quem matou o juiz?" E alguns, embora levassem orelhas e nariz à saída do concelho, também levaram os lombos aquecidos...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

CLARICE LISPECTOR



Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

ZÍNIA

Classificação científica:
Reino: Plantae
Ordem: Asterales
Género: Zinnia
Sinónimos: Zabumba, Flor-de-São Jacó,
                    Canela-de-Velha, Moças-e-Velhas



Zinnia (nome botânico, popularmente zínia, é um género botânico pertencente à família Asteraceae, são nativas em pastagens que se estendem desde o sudoeste dos Estados Unidos até a América do Sul, com um centro de diversidade no México.
Plantio
As zínias são geralmente cultivadas a partir de sementes plantadas directamente no local definitivo e com bastante luz solar. A luz solar e a boa ventilação previnem o míldio que também aparece nas plantas em locais de clima húmido ou por excesso de irrigação.
Destaca-se como tendo forte potencial económico por ser de fácil cultivo, pode ser plantada em qualquer época do ano, dentre as espécies de maior potencial destaca-se a Zinnia elegans (Jacq), devido à abundância e à diversidade de cores de suas flores, à grande variedade de forma das pétalas e à possibilidade de ser cultivada durante todo o ano. Uma característica de grande importância na cultura da zínia, é o seu longo período de florescimento, pois após cada colheita, as gemas localizadas na base do ramo se desenvolvem, resultando na emissão de novos ramos e, consequentemente, de novas flores.
Género e espécies
género Zinnia consiste de 19 espécies de ervas anuais ou arbustos perenes ou semi-perenes. O género foi nomeado em homenagem ao professor de anatomia e botânico Johann Gottfried Zinn,  que descreveu a espécies agora conhecida como Z. peruviana.
Zínia parece ser uma das flores preferidas de borboletas e muitos jardineiros adicionam zínias especificamente para atraí-las.



quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 94ª - BEJA

A MORTE DO LIDADOR

Eis uma história de guerra e outra de amor impossível. Vamos encontrar o Lidador, Gonçalo Mendes da Maia, fiel companheiro de armas de D. Afonso Henriques, no ocaso da sua vida. Com 95 anos, mesmo assim senhor da sua figura possante, fronteiro de Beja, onde vivia na mira dos combates com os sarracenos. Com ele estavam duas figuras igualmente lendárias da fundação da nacionalidade. Precisamente Mem Moniz e Lourenço Viegas, o Espadeiro, cuja sepultura se encontra na capelinha de S. Brás, no cemitério velho de Vila Real. Diz a lenda que o Lidador reservara para o seu dia de aniversário uma surtida contra os mouros de Almoleimar, que perigosamente se aproximavam da cidade de Beja. Em vão os seus amigos tentaram dissuadi-lo. As suas mãos podiam com a espada e isso bastava-lhe. Assim, preparou uma força de trinta cavaleiros e mais trezentos homens a pé e saiu em busca do inimigo. Este estava calculado em dez vezes mais.
Saíram cedo, atravessando as searas, onde havia claros sinais do inimigo. Assim, aproximando-se de uma mata, o Lidador mandou um batedor. Porém, este, pouco tinha avançado quando recebeu uma flecha em pleno peito, caindo redondo. Parecia o sinal de combate. E se do lado cristão a invocação era a Santiago, era Alá o grito dos mouros. A diferença numérica não parecia afectar o Lidador, que logo se viu face e face com o próprio Almoleimar. Este era mais novo que o português, mas o Lidador tinha muita experiência de combate. Os golpes eram violentos e por pouco Gonçalo Mendes da Maia não ficou estendido no campo da refrega. O cavalo, sentindo afrouxar as rédeas quis fugir-lhe, mas o velho soldado, recobrando os sentidos, trouxe-o de volta à luta, procurando o chefe mouro. Novamente combateram e a adaga deste  atravessou a malha metálica do Lidador, entrando-lhe no ombro até ao osso. Respondeu-lhe o Lidador com um golpe que acabou com o inimigo.

A batalha estava longe do fim. Aproximavam-se reforços para os mouros. Um milhar de guerreiros, capitaneados pelo rei de Tânger, Ali-Abu-Hassan, acabavam de entrar na liça. O Lidador mandou que lhe substituíssem a montada por uma mais folgada. Mem Moniz e o Espadeiro lutavam com uma bravura que os transformava de homens em máquinas de guerra. Mas o velho Lidador, que fazia tremendos estragos na mourama, a data altura, no esforço supremo de um golpe que abriu ao meio um sarraceno, sentiu a vida ir-se-lhe numa golfada de sangue, que lhe saía pelo seu ferimento. E caiu morto. Eram oitenta anos de combate que se cumpriam, pois terçara armas pela primeira vez ainda rapaz de quinze anos!
Seria o Espadeiro a matar o rei de Tânger, fazendo com que o inimigo retirasse. Todavia, a alegria de mais uma vitória alcançada foi sufocada pela morte do Lidador.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

TORÁ DE 400 ANOS


Há dez anos um construtor civil encontrou um pergaminho com 30 metros de comprimento e 60 centímetros de largura durante uma demolição na Covilhã. Não sabia do que se tratava, mas enrolou-o num lençol e manteve-o guardado em casa. Há seis meses, por causa de uma outra obra, o empreiteiro falou do achado e mostrou-o a arqueólogos. Ficou então a saber que tinha nas mãos uma Torá, livro sagrados para os judeus, com cerca de 400 anos.O achado estará patente na Câmara da Covilhã entre a próxima sexta-feira e o fim do mês, no âmbito das Jornadas Europeias do Património, mas hoje a autarquia apresentou esta importante descoberta, que tem a ver com a contextualização histórica.


domingo, 11 de setembro de 2016

LONDRES A ARDER


O grande incêndio de Londres foi há 350 anos e os londrinos assinalaram a data com fogo.
No domingo passado, 4 de Setembro de 2016, ardeu no rio Tamisa uma maqueta de 120 metros de uma Londres do século XVII, de madeira, como eram a maioria das casas, ainda de estilo medieval, que levaram ao alastrar de um fogo que começou na casa do pasteleiro do rei, Carlos II, a 2 de Setembro de 1666 e só foi extinto quatro dias depois, tendo  destruído quase toda a cidade, incluindo a Catedral de São Paulo, 44 edifícios públicos, 87 igrejas e milhares de casas. O imortal Orlando, de Virginia Woolf,  muito no grande incêndio de Londres, mas não a vida. E, como ele, embora mortais, não foram muitos os que a perderam, tendo em conta a dimensão da catástrofe. 

Magazina Nº 1268

domingo, 4 de setembro de 2016

TORENIA FOURNIERI

Nome Científico: Torenia fournieri
Nomes Populares: Torênia, Amor-perfeito-de-verão
Família: Scrophulariaceae
Categoria: Flores Anuais
Origem: Ásia


As torênias são floríferas herbáceas e anuais de verão. Da família Scrophulariaceae, elas são aparentadas com as dedaleiras e as bocas-de-leão. Seu porte é pequeno, atingindo cerca de 30 cm de altura. A ramagem é compacta e bastante ramificada, dando a planta um aspecto simétrico e arredondado. As folhas são glabras, verdes e opostas, com margens serrilhadas. As flores são abundantes, axilares e terminais. Elas são lindas, aveludadas, em forma de trompete, com corola azul e garganta branca-amarelada. A floração se estende pela primavera e verão.
Atualmente estão disponíveis muitas variedades de torênias, com portes diferentes, assim como plantas mais densas e outras pendentes. Há ainda uma grande diversidade de outras cores além do azul, desde o branco, passando pelo rosa, amarelo, roxo, violeta até o vermelho. No paisagismo elas substituem perfeitamente os amores-perfeitos no verão, formando belos e densos maciços e bordaduras. Também podem ser plantadas em vasos e jardineiras, e as variedades pendentes ficam excelentes em cestas suspensas.


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 93ª - SETÚBAL

NOSSA SENHORA DO CAIS
Em cada tarde que descia à praia, dispondo-se a embarcar para a faina, o pescador Valentim de Jesus erguia os olhos. Erguia os olhos ao seu céu mais azul, a varanda da casa do palácio de D. Manuel Vaz de Castro, buscando um vulto feminino. Tratava-se de Ester, a judia com quem o fidalgo casara e por quem o jovem estava apaixonado. Bastava-lhe vê-la, às vezes, raras. Sabia lá o que é que a dama pensava dele, mas uma tarde houve em que se apaixonara.  E levava sempre consigo para o mar aquela lembrança de beleza.
Ora o pai de Valentim logo reparou que o filho fora apanhado nas redes do amor. Confessou-lhe o rapaz o que se passava. E o velho apenas disse: "Esquece-a! Olha que o fidalgo não é para brincadeiras!" Mas Valentim explicou que, apesar de todo o amor dele por Ester, ela nem sabia que ele existia... 
"Isso não interessa! Repara é nas raparigas que estão de olho em ti  e escolhe a que mais te agradar! Essas sim são para o teu dente!" Azedou-se a discussão, distanciaram-se pai e filho.
Ora uma bela tarde, estando Ester na varanda do seu palácio reparou que o pescador nesse dia ainda não passara e surpreendeu-se por pensar nisso. É que lhe doía mesmo aquela ausência.  Nunca falara com ele e julgava nem sequer ter dado pela sua existência e, no entanto, sentia-lhe a falta. Sabia lá quem ele era, que feitio teria! Andava o marido na guerra e ela com aqueles pensamentos tão tolos! Então percebeu que aquela não era tarde, por tempestuosa, em que os pescadores fossem ao mar. Pelos sinais, via-se o dia seguinte seria soalheiro e calmo. E então... Então sorrir-lhe-ia quando ele passasse. Afinal, lembrava-se dos olhos dele, tão ternos, envolvendo-a, a ela que, por judia, era desmerecida pelos demais. E no dia seguinte, Ester e Valentim sorriam um ao outro. E assim  todas as tardes seguintes. O velho receava que as vozes dessem disso notícia ao fidalgo.

Numa tarde aconteceu que Valentim saiu para o mar, levando o sorriso da Ester. Deu uma volta, mas amarrou de novo o barco e subiu a varanda. A judia não esperava tamanha audácia, assustando-se. Valentim disse-lhe que apenas a queria ver mais de perto e falar-lhe, tocar-lhe as mãos. Ela mandava-o embora, tanto mais que o marido regressara da guerra na véspera. O pescador declarou-se, mas ela tremia de medo. E tinha razão, porque apareceu D. Manuel que, vendo o que se passava, desembainhou a espada e matou o jovem, atirando o corpo ao mar. A mulher. mandou-a para o convento. E o velho pescador não mais perdoou a Ester a atracção exercida sobre o filho. Nem um milagre o faria acreditar noutra coisa, garantia ele. 
E uma tarde, discutindo os pescadores na praia, num gesto violento, a imagem de Nossa Senhora do Cais foi cair à água, lançando-se o velho a buscá-la, a nado. Quando regressou com ela ao areal quase enlouquecia. O rosto da imagem era o da judia a quem ele ia insultar ao parlatório do convento. 
Assim, quem em Setúbal hoje procura a imagem de Nossa Senhora do Cais, terá oportunidade de conhecer o rosto de Ester, a paixão de Valentim...

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

GRUTA MARAVILHOSA



O Algar de Benagil foi eleito a gruta mais bonita do mundo pela revista britânica "Another".
Segundo a publicação, a zona costeira de Benagil, em Lagoa, no Algarve, alberga "grutas, pequenas baías e praias escondidas", destacando a mais famosa por ser "gigante, arejada e iluminada", com a sua "praia interior" e abertura na rocha, que forma uma clarabóia perfeita para ver o céu, muito procurada por fotógrafos.

Dica da Semana 

domingo, 28 de agosto de 2016

1959 - A MODERNA ESCADA ROLANTE DO GRANDELA



Foi a primeira escada rolante montada em Portugal numa casa de comércio, custou 2500 contos, tinha cinco lances de 12 metros de comprimento e podia transportar seis mil pessoas  por hora.
Os Armazéns Grandela arderam há 28 anos .

AINDA CABE AÍ MAIS UM?



Bem apertados, talvez fosse possível encaixar ali mais algumas pessoas e respectivas bóias. As ondas de calor que têm afectado regiões do Sudoeste da China têm levado as autoridades a emitir alertas, aconselhando a população a reduzir ao máximo a actividade fora de casa. Mas quando não há ar condicionado entre portas e os termómetros marcam mais de 36 graus, para onde podem ir milhões de pessoas de um dos países mais populoso do mundo? Pelo menos quinze mil cabem nesta piscina de água salgada em Daying, na província de Sichuan - conhecida como "Mar Morto" da China. Pertence ao maior parque aquático indoor do país, com trinta mil metros quadrados.

Notícias Magazine -nº 1266-

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

19 DE AGOSTO - DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA

Hoje é Dia Mundial da Fotografia. Foi no dia 19 de agosto de 1839 que a Academia Francesa de Ciências anunciou ao mundo o Daguerreótipo, a primeira câmara fotográfica funcional do mundo. O equipamento foi criado por Louis Daguerre em 1837 tendo como base as descobertas de Joseph Niépce que havia conseguido, em 1826, registar a primeira imagem permanente em um processo que ele chamava de Heliografia. Niépce morreu em 1833, antes do lançamento da invenção que mudaria o mundo. Daguerre, em um ato de bondade (ou de muita esperteza) cedeu a patente da câmara para o governo francês (em troca de uma pensão vitalícia) que, por sua vez, tornou o processo de domínio público.



domingo, 7 de agosto de 2016

IPOMOEA PURPUREA

Classificação científica:

Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Solanales
Família: Convolvulaceae
Género: Ipomoea



Ipomoea purpurea, a Glória da Manhã, Corda-de-viola, é uma espécie do gênero Ipomoea, nativa do México e da América Central. Esse nome que designa muitas das 500-700 espécies de Ipomoea, se deve ao comportamento das suas flores abertas durante a noite ou na luz. A palavra grega "Ips" designa verme (σκουλήκι), "ipomoea" refere-se ao seu entrelaçamento. As ipomoeas já foram designadas como "Convolvulus" e essa espécie por Convolvulus pupurea por sua cor, somente no século 20 recebeu seu nome atual Glória da Manhã (Morning Glory).
Como todas glórias-da-manhã a planta se enlaça ao redor de estruturas com seus galhos. Crescendo a uma altura de 2 a 3 metros. As folhas tem forma de coração e os galhos tem pêlos marrons. As flores são hemafroditas, com cinco pétalas, tem forma de trombeta, predominando o azul para púrpura ou branco, com 3 a 6 cm de diâmetro.
Composição bioquímica
Segundo Meira et al. foi isolada a partir Ipomoea purpurea (L.) Roth. uma glicoresina chamada ipopurpuroside, constituída da glicose, glicose , ramnose e 6-desoxi- D -glicose ligados glicosidicamente ao ácido ricinoleico. Outros glicoresinas chamadas marubajalapins I-XV, foram isolados a partir da fracção jalapina da parte de série (folhas e caules) de I.purpurea (Pharbitis purpurea). Das flores dessa espécie foram isolados e cianidinas e pelargonidinas Em estudo para a investigação de novos fontes de alcalóides ergolinicos dentro do gênero Ipomoea, a I. purpurea foi considerada uma espécies alcalóide-negativo, embora os relatórios anteriores indicaram a presença de alcalóides ergolinicos. Talvez porque I. purpurea é muitas vezes confundida com  I.tricolor uma espécie alcalóide-positivo.
Cultivo e utilização
A Ipomoea purpúrea tem ampla utilização como espécie ornamental nas regiões temperadas e tropicais, uma gama de variedades e cores tem sido selecionadas com diversas hibridizações. Uma das utilizações medicinais dessa espécie são os preparados conhecidos como essências florais Como essência floral a Ipomeia existe em vários sistemas, como no Sistema Floral de Minas, com o nome de "Ipomea", no Sistema Floral do Nordeste com o nome de "Água Azul", no Sistema Florais da Califórnia com o nome de "Morning Glory". O grande número de variedades e dificuldades de classificação por outro lado dificultam sua utilização que fundamenta-se inclusive em conhecimento étnico - tradicional da civilização asteca destruída pela colonização. Possivelmente correspondendo ou sendo similar a uma das plantas denominadas "Ololiuqui" cujas sementes triangulares tem histórico de uso como psicodélico; É possível que tanto estas assim como as sementes da Ipomoea tricolor (para alguns autores I. violacea  contenham ergina. Os efeitos da ergina são relatados como quase idênticos ao do LSD. Há controvérsias ainda quanto a ser a Ipomoea corymbosa (L.) a planta considerada mágico-medicinal conhecida na culturaasteca como ololiuhqui. Para Shultes e Hofmann (2010)  Ipomoea violacea é a planta utilizada como enteógeno nas áreas de descendentes dos Astecas (zapotecas e chatinos) em Oaxaca (México) onde é também conhecida por badoh negro, tlitlitzin além de ololiuhquium nome que designa várias sementes.
Entre as ipomoeas a espécie com maior produção e cultivo talvez seja a a Ipomoea batatas em função do aproveitamento de seus tubérculos na alimentação. Entre outras espécies do gênero (Ipomoea) podem ainda ser citadas, por seu efeito farmacológico no sistema nervoso, a Ipomoea pes-caprae com efeitos analgésicos, antiinflamatórios e a jalapa ou batata de purga Ipomoea purga também com analgésica, antiinflamatórias além de depurativa laxante, purgativa.



terça-feira, 2 de agosto de 2016

LENDAS DE PORTUGAL - 92ª - BATALHA

A SENHORA DO FÉTAL

Não longe da Batalha fica o Reguengo em cuja periferia se situa um fétal onde há dois templos. Um deles, o mais antigo, uma pequena capela; o outro já uma igreja que beneficia de regulares restauros. 
Desapareceu dali uma lapide que dava notícia da sua fundação. Alguém a copiou e por isso que se torna possível sabermos os seus dizeres:
No ano de 1585 se fez esta igreja de Nossa Senhora do Fétal, com esmolas dos fieis cristãos e se vai renovando e se vão fazendo obras com estas ditas esmolas.
Por isso poderemos localizar cronologicamente a lenda nos inícios do século XVI. E tudo começou com uma pastorinha que guardava o seu pequeno rebanho no Fétal. A rapariguinha estava triste porque a fome a apertava. Chorava, tanto mais que não podia fazer mais nada. Porem, numa nuvem de luz, apareceu junto de si uma linda senhora, que lhe fez uma festa e lhe recomendou que não chorasse. Respondeu-lhe a pastorinha que não podia com a fome. Disse-lhe a senhora que fosse ela a casa para buscar de comer que ela ficaria com o rebanho. Respondeu-lhe a menina que não valia a pena, pois a arca estava vazia. A senhora insistiu de tal modo que a rapariga desatou a correr para a aldeia, o Reguengo.
A mãe, ao escutar o que a rapariga lhe disse, desatou a rir, chamou-lhe tonta e mentirosa, ameaçando-a de se zangar. A pastorinha continuou a insistir que a mãe fosse a arca. Só para lhe ver a cara de parva quan do lhe mostrasse a arca há tanto vazia, a mulher abriu-a. Ah, mas havia lá pão para a família toda que duraria a semana inteira! Ficaram boquiabertas e deram notícia a aldeia. E a pastorinha, já regalada, foi a correr para o Fétal. Chegou lá cheia de sede e a um gesto da senhora brotou água fresca de um lugar, onde hoje há uma fonte. E que boa água!


Soube a pastorinha que estava com Nossa Senhora e ela pretendia ter ali uma capelinha. Mal o souberam, os de Reguengo meteram mãos a obra e então começaram as romagens e as festas de todas as partes da província. E quando a pequenina capela se tornou  insuficiente, ergueram a igreja maior. E a família da pastorinha sempre zelou pelas casas da Senhora do Fétal que lhes matou a fome.