terça-feira, 30 de julho de 2013

LENDAS DE PORTUGAL - LVI - PENEDONO

UM DOS DOZE DE INGLATERRA

Alexandre Herculano o apurou na sua ronda por terras da Beira: o belíssimo castelo de Penedono foi morada dos antecessores do Magriço, u, dos Doze de Inglaterra, imortalizado opor Camões nos "Os Lusíadas". O seu verdadeiro nome era Álvaro Gonçalves Coutinho, que alguns autores dão como nascido na vila de Penedono. E no poema a lenda é contada por um marinheiro, numa das naus do Gama, quando seguiam de Melinde para a Índia. Vale a pena evocar-se esse feito de um notável filho desta vila.
Pois a lenda, para quem não estiver para ir buscar o seu exemplar do grande poema camoniano e repassá-la em versos alexandrinos, a lenda conta que, no reinado de D. João I, na corte da nossa recém-aliada Inglaterra, nada menos que doze damas foram agravadas por outros tantos cortesãos. Pois queixando-se as ditas ao duque de Lencastre, sogro do monarca português, logo este pensou que seria interessante  que as mesmas fossem desagravadas por doze cavaleiros portugueses. E lembrava-se ele de alguns bem galantes e possantes, que conhecera quando por cá andara a apoiar o futuro genro contra os castelhanos. E o desafio ficou no ar, tendo os nomes dos Doze de Inglaterra sido sorteados pelas damas ofendidas.
Tanto quanto se sabe, cada dama escreveu ao cavaleiro português que lhe coubera por sorteio, todas ao rei de Portugal e o Duque de Lencastre a todos. Assim, chegaram as cartas ao nosso país e não tardaram a partir do Porto os que viriam a consagrar-se como os Doze de Inglaterra. Houve, no entanto, um que não quis embarcar, preferindo  a Inglaterra ir por terra. Exactamente o cavaleiro de Penedono, o Magriço.

E não é que o Magriço foi u último a chegar ao torneio de Londres, mesmo em cima da hora? E os cavaleiros portugueses venceram os cavaleiros britânicos. Porém, é curioso como ao cabo de tanto protocolo arrolado na lenda esta história não seja descrita por nenhum cronista da época, seja ele português ou inglês. Por isso se inclinam as gentes a supor tratar-se de uma lenda. E está muito bem que o seja.
Bruno, por exemplo, entende que se trata da adaptação de uma justa ao tempo de Ricardo II, realizadas em Londres, em 1390. Mas Teófilo Braga, Faria e Sousa e Jorge Ferreira da Vasconcelos, entre outros, aceitam o episódio dos Doze de Inglaterra como facto histórico. Mas a verdade é que o livro "Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda"(1561), deste último, é a única obra que a tal se refere anteriormente ao poema de Camões. Na 2ª edição dos "Diálogos de Vária História" (1599), de Pedro de Mariz, é incluída pela primeira vez em prosa a narrativa do torneio de Londres. No seu estudo sobre a "Relação ou Crónica Breve das Cavalarias dos Doze de Inglaterra", Magalhães Basto refere que lá não diz que o Magriço chegou em cima da hora do torneio, afirmando que o primeiro combate foi com maças de ferro e depois à espada, não permonorizando se combateram a cavalo ou a pé.
Assim, o interessante desta lenda é a romântica façanha portuguesa em que participa destacadamente o Magriço, que, com um bocado de paciência, acabaremos por ver passear entre as barbacãs do castelo de Penedono, enquanto lemos em voz alta sua lendária aventura!

domingo, 28 de julho de 2013

UMA LAGOA PERDIDA NO MEIO DA LEVADA


Fica de cerca de mil metros de altitude e para lá chegar é preciso ter um pouco do espírito de Indiana Jones. De pequenas dimensões mas gigantesco encanto natural, a lagoa das 25 Fontes, no Rabaçal, na ilha da Madeira, apela àquele mergulho merecido de criança que acabou de fazer uma enorme proeza: andar cerca de seis quilómetros por caminhos de terra serpenteados. Alguns locais salpicados a pedra. Outros bastante estreitos. E outros ainda escorregadios, devido ao musgo, e revestidos de arbustos.
É na levada das 25 Fontes que fica a lagoa como o mesmo nome. E se a caminhada de 12 quilómetros vale por si só, o encontro, a meio do percurso, com a lagoa torna-a inesquecível. O primeiro chamariz para o mergulho vem da ruidosa cascata que verte a pique na lagoa, ora esverdeada ora azul, conforme o tempo. O canto de uma ou outra ave de rapina, que rasga os céus do Paul da Serra, concorre com o som da imensa cascata e dos pequenos riachos que brotam da rocha vulcânica e que deram origem ao nome "25 Fontes". Mas, na realidade, os curso de água são bem mais.
A vontade é de tirar os ténis ou botas de caminhada, o impermeável e restante roupa adequada para a levada, e abandonar o farnel. Contornar pedra a pedra até chagar à água pela cintura, ou a gosto de cada um, e mergulhar é o desejo imediato. Os guias dizem que há quem o faça. Mas mais do que a temperatura de poucos graus positivos não o permitir, há horários a cumprir porque a noite pode cair depressa em forma de nevoeiro. E ainda há outros seis quilómetros do tal caminho serpenteado para percorrer de volta.

-DN 28.07.2013-

sexta-feira, 26 de julho de 2013

NAVEGANDO NA TUA MEMÓRIA

Deixei as certezas na praia
Quando a última onda te levou
E as gaivotas choraram a perda.

Em cada grão de areia
Uma estrela te acolheu
No sal que deixaste preso a mim.

Foste a maré que me trouxe aqui
A saudade de quem parte para a tempestade.
Foste a minha plenitude, a minha verdade.

As marés não pararam o seu balanço.
As gaivotas continuam à tua procura
Na espuma de cada onda que beija a costa.

E eu fico sentado, ali, chorando cada lágrima
Como se mais uma memória tua me sorrisse
E me banhasse na nossa história.

Por fim viajo em mais uma fase da lua
Regressando sempre ao memso lugar
Esta saudade minha e tua será sempre nossa.

Seremos sempre nós a navegar.

Ricardo Vercesi

quarta-feira, 24 de julho de 2013

OS SETE CORVOS

Um homem tinha sete filhos e nunca tinha uma filha, por mais que desejasse. Até que, finalmente, sua mulher lhe deu esperanças de novo e, quando a criança veio ao mundo, era uma menina. A alegria foi enorme, mas a criança era franzina e miúda e, por causa dessa fraqueza, foi preciso que lhe dessem logo os sacramentos. O pai mandou um dos filhos ir correndo até a fonte, buscar água para o batismo. Os outros seis foram atrás do irmão e, como cada um queria ser o primeiro a puxar a água para cima, acabaram deixando o balde cair no fundo do poço. Aí eles ficaram assustados, sem saber o que deviam fazer, e nenhum dos sete tinha coragem de voltar para casa. Foram ficando por lá, sem sair do lugarComo estavam demorando muito, o pai foi ficando cada vez mais impaciente e disse: - Na certa ficaram brincando e se esqueceram de voltar, aqueles moleques levados..
Começou a ficar com medo de que a menininha morresse sem ser batizada e, com raiva, gritou:
- Tomara que eles todos virem corvos!
Mal o pai acabou de dizer essas palavras, ouviu um barulho de asas batendo no ar, por cima da cabeça. Levantou os olhos e viu sete corvos negros como carvão. voando de um lado para outro.
Os pais ficaram tristíssimos, mas não conseguiram fazer nada para quebrar o encanto.
Felizmente, puderam se consolar um pouco com sua filhinha querida, que logo recuperou as forças e cada dia ia ficando mais bonita. Durante muito tempo, ela ficou sem saber que tinha tido irmãos, porque os pais tinham o maior cuidado de nunca falar nisso. Mas um dia, ela ouviu por acaso umas pessoas comentando que era uma pena que uma menina assim tão bonita como ela fosse a responsável pela infelicidade dos irmãos.
A menina ficou muito aflita e foi logo perguntar aos pais se era verdade que ela já tinha tido irmãos, e o que tinha acontecido com eles. Os pais não puderam continuar guardando segredo. Mas explicaram que o que aconteceu tinha sido um desígnio do céu, e que o nascimento dela não tinha culpa de nada. Só que a menina começou a ter remorsos todos os dias e resolveu que precisava dar um jeito de livrar os irmãos do encanto. Não sossegou enquanto não saiu escondida, tentando encontrar algum sinal deles em algum lugar, custasse o que custasse. Não levou quase nada: só um anelzinho como lembrança dos pais, uma garrafinha d'água para matar a sede e uma cadeirinha para descansar.
Andou, andou, andou, cada vez para mais longe, até o fim do mundo. Aí, ela chegou junto do sol. Mas ele era quente demais e muito terrível, porque comia os próprios filhos. Ela saiu correndo, fugindo, para bem longe, até que chegou junto da lua. Mas a lua era fria demais e muito malvada e cruel. Assim que viu a menina, disse:
- Huuummm sinto cheiro de carne humana...
A menina saiu correndo bem depressa, fugindo para bem longe, até que chegou junto das estrelas.
As estrelas foram muito amáveis e boazinhas com ela, cada uma sentada em uma cadeirinha separada. Então, a estrela da manhã se levantou, deu um ossinho de galinha à menina e disse:
- Sem este ossinho, você não vai conseguir abrir a montanha de vidro. E é na montanha de vidro que estão os seus irmãos.
A menina pegou no ossinho, embrulhou-o com todo cuidado num lenço e continuou seu caminho, até que chegou à montanha de vidro. A porta estava bem fechada, trancada com chave, e ela resolveu pegar o ossinho de galinha que estava guardado no lenço. Mas quando desembrulhou, viu que não tinha nada dentro do pano e que ela tinha perdido o presente que as boas estrelas tinham dado. Ficou sem saber o que fazer. Queria muito salvar os irmãos, mas não tinha mais a chave da montanha de vidro. Então, a boa irmãzinha pegou uma faca, cortou um dedo mindinho, enfiou na fechadura e deu um jeito de abrir a porta. Assim que entrou, um gnomo veio ao seu encontro e lhe perguntou:
- Minha filha, o que é que você está procurando?
- Procuro meus irmãos, os sete corvos - respondeu ela. O gnomo então disse:
- Os senhores Corvos não estão em casa, mas se quiser esperar até que eles cheguem, entre e fique à vontade.
Lá em cima, o gnomo pôs a mesa para o jantar dos corvos, com sete pratinhos e sete copinhos. A irmã então comeu um pouco da comida de cada prato e bebeu um gole de cada copo. Mas no último, deixou cair o anelzinho que tinha trazido.
De repente, ouviu-se nos ares um barulho de gritos e batidas de asas. Então o gnomo disse:
- São os senhores Corvos que estão chegando.
Eram eles mesmos, com fome e com sede. Foram logo em direção aos pratos e copos. E, um por um, foram gritando:
- Quem comeu no meu prato? Quem bebeu no meu copo? Foi boca de gente, foi boca de gente...
Mas quando o sétimo corvo acabou de esvaziar seu copo, o anel caiu lá de dentro. Ele olhou bem e reconheceu que era um anel do pai e da mãe deles, e disse:
- Quem dera que fosse a nossa irmãzinha, porque aí a gente ficava livre.
Quando a menina, que estava escondida atrás da porta, ouviu esse desejo, apareceu de repente e todos os corvos viraram gente outra vez. Começaram todos a se abraçar e se beijar e a se fazer mil carinhos e depois voltaram para casa muito felizes.

Irmãos Grimm



domingo, 21 de julho de 2013

BOLAS DE BERLIM

Como estamos no verão e com as praias cheias de gente aparecem também os homens vestidos de branco a vender as famosas Bolas de Berlim. Aqui vai um pouco de história destas “Bolinhas”:

A Bola de Berlim ou sonho é um bolo tradicional semelhante à Berliner alemã. Ao contrário desta, normalmente recheada com doces vermelhos (morango, framboesa, etc.), é recheada com um doce amarelo chamado creme pasteleiro. O recheio é colocado através de um golpe lateral, sendo sempre visível.
As bolas de Berlim são fritas e polvilhadas com açúcar, antes de serem recheadas com o creme pasteleiro. As suas congéneres alemãs têm um diâmetro um pouco menor e são normalmente polvilhadas com açúcar mais fino.
Em Portugal, é possível encontrar bolas de Berlim na maioria das pastelarias, que, por vezes, também as apresentam sem recheio. São muito consumidas nas praias do sul do país.
No Brasil, são conhecidas como sonho e são muito consumidas no país. Sua comercialização passou a se dar no início do século XX em padarias de São Paulo, com o aproveitamento das sobras das massas de pão. São apresentadas recheadas, geralmente com creme pasteleiro ou doce de leite.

Na Alemanha e no mundo

A versão alemã da bola de Berlim é denominada Berliner Pfannkuchen (bolo berlinense de frigideira), Berliner Ballen (bola de Berlim) ou simplesmente Berliner (berlinense), fora de Berlim. É confeccionada com uma farinha doce com fermento, frita em óleo ou outra gordura, recheada com compotas e polvilhada com açúcar em pó. Por vezes, são também recheadas com chocolate, champanhe ou licor advocaat, ou apresentadas sem qualquer recheio. O recheio é injectado com uma seringa grossa, após a fritura, não sendo visível antes de o bolo ser trincado ou partido.
Para além dos nomes referidos, existem ainda outras variações regionais de bolas de Berlim na Alemanha. Apesar de a maior parte das regiões as chamarem Berliner (Ballen), os habitantes de Berlim, Brandenburgo e da Saxónia conhecem-nas como Pfannkuchen, designação utilizada no resto do país para panquecas.
Em certas zonas do sul e do centro da Alemanha, assim como em grande parte da Áustria, são conhecidas como Krapfen. Em Hessen, são designadas como Kreppel e na Renânia-Palatinado como Fastnachtsküchelchen ("bolinhos de carnaval").

O nome Bismarck, em homenagem ao chanceler alemão Otto von Bismarck, também já foi utilizado. Em outras regiões da Áustria, são conhecidas como cruller. Na Eslovénia, chamam-lhes krof, enquanto que na Croácia, na Bósnia e Herzegovina e na Sérvia as chamam Krafne. Na Polónia, são designadas como Pączki. Todas estas variedades são essencialmente idênticas. Os polacos têm por tradição comer Pączki na quinta-feira que antecede as celebrações carnavalescas. Na República Checa, são conhecidas como Kobliha.
Nos países de língua inglesa, são conhecidas genericamente como doughnuts e são normalmente recheadas com compota. Nos Estados Unidos, são sobretudo conhecidas como Bismarcks. Na Austrália, o termo berliner também é utilizado, sendo o recheio aplicado após um corte transversal.
Na França, são conhecidas como Boules de Berlin. Mais a norte, na Finlândia, são designadas como Hillomunkki ("bolos de marmelada") ou Berliininmunkki, possuindo neste último caso uma cobertura de açúcar vitrificado. Na cidade de Turku, no sul do país, são conhecidas como Piispanmunkki ("bolos do bispo").
Na Itália, são conhecidas como krapfen, na região do Tirol Meridional, no norte do país, e como bomba ou bombolone no centro e sul do país. A tradição deste doce foi introduzida na Itália por influência austríaca, existindo duas interpretações sobre a origem do nome. A primeira indica que a palavra alemã antiga "krafo" (fritura) teria dado origem a krapfen, enquanto que a segunda aponta para que uma certa Sra. Krapfen, pasteleira vienense do fim do século XVII, tenha sido a autora de uma receita deste doce, dando assim origem ao nome. Na cidade de Turim, as bolas de Berlim são também consideradas doces de Carnaval, podendo ser recheadas com compotas de ameixa e de alperce.
Em Israel, são conhecidas como Sufganiyah , sendo consumidas na festa judaica de chanucá.
Na Hungria, as bolas de Berlim são conhecidas como farsangi fánk.
Na Argentina e no Uruguai, são conhecidas como borlas de fraile, sendo recheadas com diversos doces e cremes e consumidas à hora do desjejum ou como acompanhamento do chimarrão. No Chile, são conhecidas como berlines. Foram introduzidas na América do Sul por imigrantes alemães, tendo-se tornado parte das culinárias nacionais locais.
Na Ucrânia, as bolas de Berlim são designadas como Пампушки (pampúchqui), podendo ser recheadas com cereja e polvilhadas com açúcar. Quando não recheadas, podem também servir de acompanhamento da sopa borsht.



quarta-feira, 10 de julho de 2013

OLEANDRO

Classificação científica:
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Gentianales
Família: Apocynaceae
Género: Nerium
Espécie: N. oleander


O oleandro (Nerium oleander), também conhecido como loendro, loandro, loandro-da-índia, loureiro-rosa, adelfa, espirradeira, cevadilha ou flor-de-são-josé, é uma planta ornamental extremamente tóxica, da família Apocynaceae.
É um arbusto grande, podendo ter por volta de 3 a 5 m de altura. Suas flores podem ser brancas, róseas ou vermelhas. É uma planta pouco exigente se tratando de temperatura e humidade.

Toxicidade
Toda a planta é tóxica. Tem como princípios ativos a oleandrina e a neriantina, substâncias extraordinariamente tóxicas. Basta que seja ingerida uma folha para matar um homem de 80 kg, no entanto, muitas vezes a ocorrência de vómitos evita o desfecho fatal.
Os sintomas da intoxicação, que podem aparecer várias horas depois da ingestão, são dores abdominais, pulsação acelerada, diarreia, vertigem, sonolência, dispneia, irritação da boca, náusea, vómitos, coma e morte.
Está registado pelo menos um caso de intoxicação por ingestão de caracóis alimentados com folhas desta planta, devido à acumulação de toxinas ao longo da cadeia alimentar.

Localização
Esta planta é originária do norte da África, do leste do Mediterrâneo e do sul da Ásia. É muito comum em Portugal e no Brasil, quer espontânea quer cultivada.