Na freguesia de Válega, Ovar, há uma capela de Nossa Senhora de Entráguas. Na realidade, o pequeno templo é dedicado a Nossa Senhora da Purificação ou das Candeias, tendo no entanto absorvido o nome do lugar. Ora o lugar de Entráguas tem essa designação porque se situa entre as águas de duas ribeiras, a Negro e a Gonde. No início do Sec. VXIII, Frei Agostinho de Santa Maria, eremita descalço da Ordem Reformada de Santo Agostinho, na sua obra "Santuário Mariano", recolheu diversas lendas, entre as quais esta, que vem no Tomo V:
Entre estas duas ribeiras, é fama, e tradição constante, aparecera a santa Imagem; e porque apareceu entre elas, lhe puseram o título de Nossa Senhora de Entre as Águas. Dizem mais que aparecera dentro de uma barca formada de pedra, da qual ainda hoje se conservam vestígios, e por esta causa os Romeiros, que vão buscar a esta milagrosa Senhora, tiram pós da mesma pedra, que bebem em suas enfermidades, em que experimentam as maravilhas daquela poderosa Senhora.
Foi achada junto a uma fonte, onde ainda hoje por memória se conserva uma Cruz de pedra, no sítio que se chama Portinho, um quarto de légua distante do lugar, aonde a igreja está fundada, que é junto ao mesmo rio de Aveiro.
Está com grande veneração esta santa imagem, recolhida em um nicho de vidraças, no meio do altar mor. Tem três palmos de altura; é de pedra, no braço esquerdo tem o amorosa Filho Jesus, Menino muito lindo, e assim o Menino, como a Mãe, têm ricas coroas de prata em suas cabeças. Também a adornam com vestidos. Festejam a esta Senhora no dia da sua Purificação, em 2 de Fevereiro; a igreja é formosa, e grande, e tem três altares. Não dão aqueles moradores notícia do tempo em que esta imagem apareceu; mas obre de muitas maravilhas e milagres; e assim é servida de uma grande Irmandade, que a festeja com grande liberalidade, e devoção, tem muitos ornamentos, e a lâmpada de prata.
A lenda diz-nos que a imagem apareceu sobre a pedra branca de calcário, que terá meio metro de altura e é guardada na ermida, a mesma onde se retiram os pós para as curas. O local do achamento terá sido fronteiro ao da capela que se pode visitar e não o Portinho indicado pelo frade. Tanto quanto se sabe a imagem, logo que apareceu, foi levada para a igreja paroquial de Válega, donde desapareceu, tendo regressado ao seu poiso na pedra. Isto aconteceu várias vezes, excepto a partir do momento em que se decidiu erguer a capela no sítio onde se encontra.
Mas, atenção, nem a capela nem a imagem são as primitivas. Segundo José de Figueiredo, a imagem actual é já do Sec. XV. Porém, na realidade faltam dados para um melhor esclarecimento da situação..