Plataforma de gelo está em risco de colapso
Recuo do gelo está ligado a alterações climáticas globais
Uma gigantesca placa de gelo na Antárctida está à beira do colapso, revelaram peritos da British Antarctic Survey (BAS), que seguem o fenómeno. A gigantesca massa de gelo, denominada plataforma Wilkins, diminuiu de tal forma neste verão (no hemisfério sul) que ficou presa de forma precária entre duas ilhas. Uma fenda profunda está a formar-se e apenas uma estreita faixa mais sólida, com 500 metros, impede que a placa de 40 quilómetros de comprimento se liberte no mar.
Um pedaço mais pequeno de 100 quilómetros quadrados já se desprendeu. A destruição destas plataformas (que são flutuantes) não terá efeito directo na subida do nível dos oceanos. No entanto, existe o perigo de ser acelerado o processo de colapso de glaciares de maior dimensão, que assentam no continente.
A plataforma Wilkins tem um total de 13 mil quilómetros quadrados de superfície e forma rectangular. Quando foi baptizada, em 1929, tinha mais de 16 mil quilómetros quadrados. O seu colapso começou nos anos 90. Esta massa situa-se sensivelmente a meio da Península Antárctida, presa à ilha Alexander. (Esta península é uma língua de terra, pontuada por ilhas, que se distingue da massa sensivelmente redonda da Antárctida, continente coberto por quilómetros de gelo).
O alerta de colapso iminente foi dado pelo glaciologista Ted Scambos, da Universidade de Colorado, que desencadeou a investigação aérea dos ingleses. Segundo David Vaughan, da BAS, a plataforma Wilkins está "presa por um fio".
Vaughan esperava este desenvolvimento e, nos anos 90, previu que a Wilkins poderia desaparecer num prazo de 30 anos, caso prosseguissem as tendências de aumento das temperaturas. "Esta é a maior plataforma da Península Antárctida a estar sob ameaça, mas não esperava que as coisas acontecessem tão depressa", explicou o perito britânico, citado no site da BAS.
As plataformas de gelo existem há pelo menos dez mil anos, mas nas últimas cinco décadas perderam pelo menos 25 mil quilómetros quadrados, num total de nove plataformas. O caso mais famoso foi o colapso da Larsen B, também na península, em 2002. Entre Janeiro e Março, desintegraram-se os 3250 quilómetros quadrados de gelo desta placa, que em certos pontos tinha 220 metros de espessura.O fenómeno está intimamente ligado ao aumento das temperaturas, que na Península Antárctida terão atingido 3 graus centígrados no último meio século, ritmo superior a meio grau por década.
O aquecimento especialmente rápido nesta região é considerado uma das provas das mudanças climáticas globais, por sua vez consequência do aumento da proporção da Terra. A Antárctida e o oceano à sua volta têm enorme importância na estabilidade do sistema de clima mundial e o continente é um vasto laboratório congelado.
Mudança de clima é mais visível no oceano sul.
As mudanças de clima estão ligadas ao aumento de gases de efeito de estufa, nomeadamente ao teor de dióxido de carbono atmosférico. Este fenómeno está ligado a actividades humanas. Antes da industrialização, a atmosfera do planeta tinha uma concentração de dióxido de carbono igual a 289 partes por milhão. E, 1958, a concentração atingira 315 partes por milhão. O valor do ano passado era de 383. Na Antárctida, as mudanças climáticas são dez vezes mais fortes do que na média do planeta. No oceano sul, a força dos ventos aumentou 15% desde 1980 e a temperatura da água subiu pelo menos um grau centígrado. Estas mudanças têm um efeito dramático sobre as plataformas de gelo, destruindo a sua coesão.
Diário de Notícias 21.01.2009