quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LENDAS DE PORTUGAL - XIV - MONÇÂO

Deu-la-Deu e os figos de ouro

O brasão de armas de Monção tem a figura de uma mulher. Trata-se de Deu-la-Deu Martins e comemora um acto de coragem praticado no tempo das guerras de Fernando de Portugal com Henrique de Castela. Figura lendária da nossa História, registamos o seu feito.
Deu-la-Deu era casada com Vasco Gomes de Abreu, capitão-mor de Monção. Pois ausentando-se este da sua praça, em serviço do rei de Portugal, D. Pedro Rodrigues Sarmento, adiantado da Galiza e general do rei de Castela, entendeu que aquela era a melhor altura para cercar a fortaleza fronteiriça. Mesmo em tais circunstâncias, utilizou um grande exército para a conquista, tanto mais que pretendia que acção fosse rápida e eficaz. Monção tinha então poucos soldados e escassos recursos, pelo que teve de enfrentar um cerco terrível. Porém, Deu-la-Deu assumiu o comando da praça com invulgar saber e desenvoltura, travando os ímpetos dos sitiantes. Ela era comandante e enfermeira, parecendo estar em toda a parte, galvanizando a vontade de resistência dos monçanenses. Porém, a verdade é que tudo escasseava já dentro das muralhas e isso feria o ânimo dos sitiados. E foi precisamente num desses momentos mais agudos de desespero, que a castelã mandou recolher os restos de farinha e fazer pães.Os monçanenses rejubilaram porque iam matar a fome. Assim, lambiam os beiços quando os pães saíram quentes do forno....
Mas Deu-la-Deu mandou levá-los ao alto das muralhas e de lá começou a lançá-los aos inimigos, gritando bem alto:
"Já que não podeis conquistar-nos pelas armas e pretendeis render-nos pela fome, cuidado! Graças a Deus, estamos bem providos de pão e como me parece que estais com falta dele, aí tendes esses pães para matardes a fome. Se precisardes de mais, é só dizer."
E com estas palavras lançou-lhes o último pão que havia em Monção, acentuando no íntimo a desgraça em que se sentiam os sitiados.

Bem, a verdade, a fome até grassava entre os sitiantes. Ora os comandantes acreditaram naquela fartura apregoada e levantaram o cerco, seguindo para terras do Reino da Castela, que então já dominava a Galiza! E o estratagema de Deu-la-Deu tornou-se emblemático.
Nos arredores de Monção há penedos com formas singulares, alguns até bem conhecidos, como Penedo da Toca ou o Penedo da Ponte. Pois em Pias há dois penedos que fazem uma ponte entre si e entre ambos passa um carreiro para o monte, lá para os lados de Taias. Pois por esse carreiro meteram duas mulheres que iam trabalhar longe. Ao passarem, uma delas parou a olhar um campo. A outra quis saber o que era e ela mostrou-lhe uma esteira com qualquer coisa em cima. Foram lá. Eram figos. Olharam à volta e não viram ninguém, pelo que cada levou três figos.
Regressadas do trabalho meteram os figos numa gaveta e só se lembraram deles quatro dias depois. Estavam transformados em moedas de ouro. Pois em vez de andarem a contar, guardaram-nas, acreditando que fosse o tesouro encantado de alguma moura....

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