A poucos quilómetros de Chaves fica o imponente castelo de Monforte, o velho protector das aldeias daquelas vizinhanças. Mas conta a lenda que mesmo junto dele havia uma povoação que desapareceu devido ao mau carácter de um governador da região transmontana, que era odiado pela população. Pois ele era um tal D. Afonso, príncipe e irmão de D. João V. Não cumprimentava ninguém, ostentando um incomparável mau feitio. No entanto, as raras vezes que o viam, as pessoas, por cortesia para com um cargo, saudavam-no, embora soubessem de antemão que ficavam sem resposta.
Ora, certo dia, apareceu por Chaves e arredores um mensageiro a dizer que se preparassem pois o governador vinha fazer-lhes uma visita oficial. Na tal aldeia ao pé do castelo, reuniram-se então os representantes do povo para deliberarem a maneira como o receberiam. Por fim decidiram enfeitar as ruas com arcos de verdura e flores lhe seriam lançadas à sua passagem. Outros foram comprar foguetes a Chaves e contratar um gaiteiro galego para alegrar os dias da visita.
Porém, faltava a prenda oficial da aldeia para o governador. É que ele era tão rico, que tudo lhes parecia pouco. E, depois, naquela altura do ano, até escasseavam os produto agrícolas. Olhem, havia castanhas, figos secos e pinhas mansas donde se tiravam os pinhões. Bem, as castanhas eram guardadas para a sopa do inverno e sextas-feiras da Quaresma, os pinhões o mais apetecido pelas crianças e os figos para distribuir aos cantadores de Janeiras. Decidiram oferecer uma cesta de figos a D. Afonso. Eram muito doces e saborosos, não podiam deixar de lhe agradar.
E quando chegou a hora da oferenda no cerimonial da recepção do governador, este perdeu a cabeça quando reparou que a prenda oficial era a tal cesta de figos coberta com um pano de linho. Considerou aquilo uma ofensa: "Malditos! Isto é uma miserável afronta! Guardas! Prenda esse cão, amarrem-no àquela árvore!"
Sem perceberem bem o sentido das palavras, os guardas prenderam o representante da população que levava a cesta. E o governador, depois de tomar fôlego, vociferou: "Agora, atirem-lhe à cara todos os figos dessa cesta! Todos! Que não falhe nenhum, ouviram?"E assim foi feito. D. Afonso assistiu, depois retirou-se com a sua comitiva para as suas tendas, a fim de pernoitarem.
A população estava atónita com o inesperado fecho da festa que tinham planeado. Depois do castigo correram a libertar o vizinho, mas este só se ria e comentava para quem o queria ouvir: "Ena, que sorte eu tive em lhe oferecermos figos! Se fossem pinhas outro galo cantaria e a minha cara não estaria tão perfeita!"
Mas a população não esteve para graças. No dia seguinte, quando D. Afonso e os seus se levantaram, não havia ninguém na aldeia. Durante a noite, com os seus pertences, os de Monforte de Rio Livre haviam passado a fronteira e encontravam-se uns na Galiza e outros no Couto Misto, longe da jurisdição do irmão de D. João V.