As panelas e o homem de saiasFaçam o favor de imaginar que ouviram falar que em determinado sítio estavam enterradas panelas de ouro, de prata e de peste. Exactamente no lugar de Castelo Ferronho e nos Castelares, duas velhas atalaias do antigo castelo de Freixo de Espada-à-Cinta. E que sabiam que a localização poderia ser feita olhando o primeiro local onde bate o sol no clarear da manhã de S. Miguel. Pois, com uma certa dose de espírito aventureiro, lá aproveitariam esses dados. Pois saibam que isto aconteceu a um tal Albaninho, que sonhou com estas indicações nas tais três tradicionais noites a fio. Pois meteu enxada às costas no dia de S. Miguel do ano correspondente ao sonho e cumpriu a que pôde, que foi dar uns golpes de enxada na terra. E de repente - metam-se na pele do Albaninho, vá! -, ouvem lá de fundo do mundo uma voz cavernosa a dizer:
"Suspende! Nem mais uma enxadada. Se chegas à nossa vista, morrerás fulminado tu e mais meio mundo com a onda do peste! É só bateres aqui com a tua enxada na cobertura desta panela e a peste rebentará como um vulcão!"
O que fariam os senhores? Albaninho fez o que não pensou, pois, tomado de pânico, desatou a correr e consta nem em sua casa parou!
Já a vida aventurosa de caça-tesouros terá corrido melhor a um alfacinha com veia poética. Pois tendo tido o tal sonho do desencantamento do tesouro multiplicado por três noites, pôs-se a caminho de Freixo e não tardou em dirigir-se à fonte de Ménones. Este Ménones era um sujeito bem mais antigo que se chamava Men Nunes, mas a voz do povo não perdoa quando apanha um nome bizarro a jeito. Então o alfacinha deu com um menino de ouro maciço. Agarrou nele e levou-o, deixando o terreno remexido, mas ainda teve tempo de imortalizar o seu gesto numa quadra que deixou na fonte:
Adeus fonte Men Nunes
Quem te dever que te pague;
Qu'eu dentro de ti achei
O valor duma cidade.
Ainda se gabou, o diabo! Mas se em vez de se pôr a escrever versos, procurasse melhor, não deixaria de ter deitado a mão a uma bola de ouro de bom tamanho que lá estava ao pé coberto de musgo!
Conta-se ainda de quando o Convento Oratoriano de Freixo-de-Espada-à-Cinta, nacionalizado e vendido em hasta pública, o homem que o comprou foi impiedoso com um frade velhinho que só queria que o deixasse acabar os seus dias a um canto da igreja desactivada. Não tinha para onde ir e a sua paisagem de sempre foram as paredes interiores daquela enorme casa. "Não quero cá homens de saias!" bradara o inflexível novo proprietário. Então, quando o frade se foi embora, caiu-lhe uma doença na bexiga que lhe provocou incontinência tal que ele teve de usar saiotes até ao fim dos seus dias...!