quarta-feira, 21 de setembro de 2011

LENDAS DE PORTUGAL - XXXIV - AROUCA

A RAINHA SANTA MAFALDA



Em 1217, deu entrada na Mosteiro de Arouca a Rainha D. Mafalda, filha de D. Sancho I de Portugal, que acabava de separar-se do Rei Henrique I de Castela, uma vez anulado o casamento que os deveria unir. Na verdade, a filha do segundo monarca português tinha uma educação religiosa muito profunda, o que a conduzia ao gosto pela vida contemplativa e penitente. Só as suas obrigações de princesa a obrigaram a um casamento que não se terá consumado. Porém, não só a anulação do consórcio como a morte do noivo, fizeram com que ela regressasse a Portugal.

Em 1224, por determinação da rainha, graças a uma bula do Papa Honório II, expedida de Latrão, a instituição passava para a ordem de Císter, facultando-lhe ela aumento de instalações e largos rendimentos que permitiram independência daquela comunidade de bernardas. Recorde-se que este mosteiro havia sido fundado em 716 por Luderico e Vandilo, filhos de um fidalgo de Moldes. Nessa altura era da Ordem de S. Bento. Mas o que agora nos importa é o tempo em que D. Mafalda, já com aura de santidade, procedeu à reforma do mosteiro. Nunca ela foi abadessa, embora pertencesse à sua família a primeira fidalga que ocupou tal cargo. Ora, tanto quanto reza a tradição arouquense, Santa Mafalda terá falecido em Rio Tinto, estando o dia historicamente registado como o primeiro de Maio de 1256.

E tanto quanto lendariamente se sabe, ela terá deixado uma disposição pela qual o ataúde que levasse o seu corpo seria colocado em cima de uma burrinha e esta posta a andar. Quando a burrinha parasse, pois aí lhe seria dada a sua derradeira morada.




Conforme o estabelecido, o caixão de Santa Mafalda foi a carga de uma burrinha que logo encetou a marcha. Passou por Alpendurada, por Castelo de Paiva e pelo lugar de Santo António, na freguesia da Santa Eulália, já no concelho de Arouca. Ao longo desse itinerário foram mais tarde colocados marcos comemorativos. E a burrinha apenas parou junto da aporta principal do mosteiro de Arouca, aí aguardando que lhe retirassem a carga. E quando isso aconteceu, o animal caiu para o lado, morto de cansaço. Então, as freiras inumaram o corpo da que se tornaria padroeira de Arouca no chão da igreja e enterraram o cadáver da burrinha no átrio sobranceiro à entrada principal do mosteiro.

No entanto, o testamento da finada dispunha que as suas exéquias fossem como as das rainhas de Espanha, com coroa e ceptro reais. Mas isso era tão caro que não foi cumprido. Bem, e em 1617, perante o bispo de Lamego, foi aberto o túmulo, estando o cadáver incorrupto.

Diz uma lenda que quando Santa Mafalda foi para Arouca, a acompanhou um ruidoso bando de pegas. Irritada pela maneira como elas assinalavam a sua passagem, a rainha excomungou-as e proibiu-as de aparecerem no Vale de Arouca.

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