sexta-feira, 28 de outubro de 2011

LENDAS DE PORTUGAL - XXXV - BOTICAS

O BEZERRO DE OURO


Nas lendas dos encantamentos, por vezes estes estão quase a ser desencantados quando uma hesitação por parte do protagonista deita tudo a perder. Pois aí por volta de 1960, o senhor Domingos Coelho contou ao arqueólogo Santos Júnior o que ele garantia ser a sua experiência no castro de Carvalhelhos, em Boticas, que este escavava.

Não fora uma aventura a solo, pois o senhor Domingos Coelho ia acompanhado de um seu irmão, já falecido na altura em que ele contou o que se passara. Aquilo ocorrera aí por volta de 1916. Os irmãos Coelho souberam, pela tradição em Boticas, que naquele castro, que eles conheciam como as palmas das mãos, se encontra enterrado um encanto sob a forma de um bezerro de ouro. Pois o mano Domingos, contou, sonhou três noites a fio com o bezerro de ouro, o que já era um começo necessário.

Assim, lá foram ambos,muito em segredo. Levavam um exemplar do então raro Livro de S. Cipriano, uma broca, uma caçadeira, uma marreta e duas bananas de explosivos. A caçadeira era para matar o bezerro mal ele aparecesse e quebrar-lhe o encantamento, ficando os manos com todo o seu peso de ouro!

E numa noite, lá foram os dois manos para o extremo norte do castro de Carvalhelhos. Dirigiram-se para junto ao penedo maior que ainda lá se vê e as pessoas conhecem por Cavalo dos Mouros. Seguindo os dizeres de S. Cipriano, escolheram uma pedra ali e que julgaram a certa, abriram-lhe dois buracos, meteram lá as bananas de explosivo. Depois deitaram fogo ao rastilho e, a distância segura, esperaram pelos resultados das explosões. E mal estas se escutaram, saltou de debaixo da pedra um magnífico bezerro de ouro!

Mas foi tal a surpresa, apesar de tudo, que o sr. Domingos Coelho não conseguiu disparar a caçadeira.

--Em quatro saltos pôs-se lá em baixo no ribeiro, enfiando pela Ola da Moura, que é a mais funda!-- contou ele a Santos Júnior.

--Perdeu-se para sempre, para nunca mais lhe poder deitar a mão!--

O Senhor Domingos Coelho contou o que protagonizara, e com tanta convicção o fez, que o experimentado antropólogo ficou perplexo. Comentaria este que quando o seu informador, então já com os oitenta anos feitos e refeitos, lhe narrou o que ficou dito, olhava o espaço de castro de Carvalhelhos como quem ainda calcula a quantidade de tesouros que por ali devem estar encantados à conta do tal bezerro de ouro, que lhe escapou!

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