O culto de Nossa Senhora de Vagos envolve várias lendas e milagres, mas destaca-se como seu decoto mais querido um fidalgo da Beira-Serra chamado Estêvão Coelho. Mas lá iremos que, para já, importa contar que, no reinado de D. Sancho I, naufragou um barco francês diante da praia da Vagueira. Salvou-se o comandante, assim como alguns dos seus marinheiros. Nadaram para o areal, trazendo consigo uma imagem de Nossa Senhora. Dado o peso, logo a esconderam entre uns arbustos e dirigiram-se para a Esgueira, que era a povoação que viam mais próxima. O comandante dirigiu-se ao padre da freguesia e falou-lhe na imagem. Não tardou que ele e muita gente da população se dirigissem aos arbustos para recolher Nossa Senhora. Só que não a encontraram, o que muito os decepcionou.
Obviamente em clima de lenda, D. Sancho I, que se encontrava em Viseu, viu Nossa Senhora em sonho, tendo sabido onde se encontrava a imagem, para lá se dirigiu com o seu séquito. Neste ponto há uma lenda divergente que nos diz ter Nossa Senhora aparecido a um lavrador indicando-lhe o sítio onde se encontrava, manifestando-lhe o desejo de ter aí uma capela. Mas a primeira deve ser mais certa porque o rei mandou fazer uma capela e uma torre militar, esta destinada a proteger aquela praia de ataques piratas. E desta torre ainda há vestígios de uma parede de certo tamanho, designados Paredes da Torre, a um par de quilómetros da actual capela, que fica a mil metros da vila de Vagos. Esta segunda capela data do século XVII, tem várias lápides sepulcrais e constitui o que se pode chamar santuário. Diz-se que chegou a ter contíguas umas habitações onde se recolhiam em oração quer os condes de Cantanhede quer os senhores de Vila Verde. porém, destas já não há sinal.
Conta a lenda que o primeiro milagre sonante de Nossa Senhora de Vagos no seu primitivo santuário, o que ficava junto da torre, foi curar da lepra Estêvão Coelho. E tão contente ficou este que doou grande parte das suas terras ao santuário, ficando a viver ali, como eremita. E quando faleceu, foi enterrado dentro da própria capela.
Quando se construiu o novo santuário, por manifesta ruína e pequenez do primitivo, quatro vezes trouxeram a imagem e outras tantas ela regressou ao seu lugar de origem. Por fim, foi percebido o que Nossa Senhora pretendia dizer. E l´+a abriram o túmulo do seu primeiro grande devoto e transladaram-lhe as ossadas para o novo e actual santuário. "Logo ficou a Senhora sossegada e satisfeita", diz um dos textos da lenda. E uma pedra com o nome de Estêvão Coelho lá está como memória.
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