A lenda é da freguesia de Benavila que, ao tempo do que se conta, era Boena Vila. D. Dinis deu-lhe foral em 1296, chegou a ter castelo, mas hoje nada se sabe dele. Pois ali viviam duas famílias rivais, o espanhol González Butrón e o português Pedro de Miranda. Este era casado com uma senhora da casa de Guevara, de quem tinha uma filha, a bela Madalena. Os chefes de ambas as famílias evitaram encontrar-se, mas sabiam que uma delas teria de abandonar a região. Por isso, Pedro de Miranda mandou dizer ao inimigo que sendo Avis terra portuguesa, ele é que teria de ceder. Furioso, Butrón decidiu mudar o ruma das coisas.
Mas, com doze anos. Madalena estava apaixonada por José, um pastor de 15 anos, de família com posses. Amavam-se em segredo. Ora numa tarde em que ambos tinham planeado encontrar-se, o rapaz apareceu afogueado, a querer saber do paradeiro de Miranda, pois soubera de uma cilada que, junto a uma ponte, lhe montara o Butrón. E lá foi ao encontro do pai da Madalena. Preveniu-o, mas Miranda desconfiou, mandando verificar. Não tardou a confirmá-la e ficou muito agradecido ao moço pastor, compensando-o com uma corrente de ouro. Embora José nada quisesse aceitar, disse-lhe que se precisasse dele, bastaria mostrar aquela corrente.
Passados tempos, Butrón mudou-se com os seus para Espanha e um sobrinho de Miranda veio viver para as vizinhanças dos seus parentes. Logo Miranda pensou em casar a filha com o primo, mas Madalena continuava amar José, que viera alferes dos campos da guerra. O confessor da rapariga ajudou-a, fazendo com que o bispo não consentisse no casamento por serem parentes próximos. Porém, de ânimo exaltado, o primo decidiu forçar Madalena no seu próprio quarto, numa daquelas noites. Entrando-lhe no quarto por meio de chave falsa, a situação que criaria obrigaria ao casamento. Só que José tinha quem o informasse de tudo e na noite marcada pelo sobrinho de Miranda, conseguiu entrar no quarto da Madalena primeiro que o primo dela. Contou-lhe o que se passava e convidou-a a acompanhá-lo, que a levaria para um convento, onde tratariam depois do casamento. E ambos desciam pela corda ao mesmo tempo que o primo entrava no quarto. Apercebendo-se da fuga, cortou a corda e os dois namorados caíram de grande altura, encontrando a morte no embate dos seus corpos nos rochedos.
O primo saiu do quarto, mas nas escadas deu de caras com Pedro de Miranda que quis saber o que é que ele fazia ali, mas ele respondeu-lhe evasivamente e fugiu. Logo depois, no quarto da Madalena, Miranda percebeu o que se passara. Quis ver quem era que queria fugir-lhe com a filha e viu o cadáver de José, que reconheceu apenas pelo cordão de ouro. Sensibilizado por tão grande amor, Pedro de Miranda mandou erguer uma cruz no lugar em que caíram os namorados, com a inscrição: Madalena e José. Rezem um Padre Nosso pelas suas almas.