terça-feira, 23 de outubro de 2012

ANTÁRTIDA - A DERRADEIRA CONQUISTA DO LUGAR MAIS FRIO DO PLANETA

Aos 68 anos, vai esquiar mais de 3800 quilómetros numa viagem para durar seis meses, atravessando peça primeira vez a Antártida de costa a costa no inverno polar, a maior parte do trajeto na mais profunda escuridão e sujeito a temperaturas médias entre os menos 4o e os menos 55 graus Celsius, mas que podem chegar aos 80 graus abaixo do zero. É Ranulph Fiennes, considerado o mais célebre explorador vivo, autor de múltiplos feitos inscritos no Livro Guinnes da Recordes, e que pretende com a iniciativa recolher mais de 7,5 milhões de euros para o Seeing Is Believing, instituição não lucrativa que combate a cegueira no mundo.
"O importante é não pensar que estamos a ficar velhos", disse em setembro ao apresentar o projeto da expedição. Os cr´ticos afirmam que, pelo contrário, esta obsessão com a aventura e o risco é medo de não saber envelhecer.
A partida de Londres está prevista para 5 de dezembro, a bordo do quebra-gelos SA Agulhas, e o início da travessia para março de 2013 da estação russa de Novolazarevskaya. A chegada será seis meses depois à estação americana de McMurdo no extremo oposto do continente gelado. Aqui terão de permanecer até ao periódo de desgelo no início de 2014 para regressarem a Londres.

Resistência e ciência.
Embora a expedição integre mais pessoas, só Fiennes e outros cinco elementos farão a travessia - a uma média prevista de 35 quilómetros por dia, com um dia de descanso por cada três de viagem. A expedição é encabeçada por dois elementos que seguem de esquis, com uma sonda radar para detetar a presença de crateras e outros acidentes que comprometam o avanço dos tratores Caterpillar D6N, modificados. Estes transportam todo o apoio logístico necessário à expedição, mais equipamento científico fornecido pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (AEE). Várias empresas de tecnologia e de equipamentos polares entregaram produtos seus para serem testados no ambiente extremo da Antártida.
A componente científica da expedição é particularmente importante na parte da climatologia, com os seus elementos a atrevessaram áreas da Antártida nunca antes vistas pelo ser humano. Esta informação irá completar e atualizar os dados recolhidos em 2010 por um satélite da AEE.
A expedição, que manterá um bloque vídeo, é - tem de ser - autossuficiente.
Durante a maior parte do percurso só pode ser alcançada pelos mesmos meios que utiliza: os meios aéreos não são utilizáveis no inverno antártico, devido à escuridão e ao risco de congelamento do combustível.
Mesmo as comunicações não estão garantidas em todos os momentos.
Não é a primeira vez que Ranulph Fiennes percorre a Antártida. Já o fez em 1992-1993, com Michael Stround, um médico nutricionista que o  acompanhou numa travessia "sem assistência" de 97 dias - a pé. Fiennes e Stroud, apesar de um consumo médio de cinco mil a oito mil  calorias diárias, acabaram a viagem em pele e osso, com os corpos e as mentes em estado lamentável. No caso de Fiennes, teve de cortar alguns dedos da mão esquerda devido a queimaduras de frio.
Agora, 20 anos depois, o objetivo é de natureza científica, além do aspeto filantrópico. E de estudo do comportamento humano nos lugares mais agrestes do planeta. Michael Stroud caracteriza a Antártida como um lugar quase "espacial, devido à falta de luz e ao extremo isolamento". E, por isso, "um grande desafio psicológico para os exploradores", explicou na apresentação da viagem.
Ao contrário do que sucedeu com um outro inglês, Robert F. Scott, que tentou conquistar o Polo Sul e o perdeu para o norueguês Rouald Amundsen, em 1911, esta expedição foi longamente preparada e o seu equipamento testado em condições controladas e em meio adverso. Só falta começar a viagem.
Promenores: 6 elementos vão atrevessar a Antártida. 2 Vagões-habitação movidos por dois tratores (de 20 toneladas cada). 155 mil litros de combustível para baixas temperaturas. -80º C é a temperatura mínima no inverno polar. 35 km progressão média por dia.


DN -22.10.2012-

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