Durante a terceira invasão francesa, uma ala do exército de Massena, dirigindo-se a Viseu, passava por Gradiz e subiu a Monções, no concelho de Aguiar da Beira. Fora uma marcha rápida e a tropa, de arma e mochila, chegou ali completamente derreada. E em Monções não estava ninguém, nem para os ajudar nem para eles descarregarem a raiva do que tinham suportado.
Revistaram todas as casas e nem uma côdea ou um copo de água. A população desaparecera da aldeia. Por fim, os soldados franceses arrombaram a porta da capela, onde havia uma imagem de Santo António. Pareceu-lhes que era a única coisa de valor que havia por ali e decidiram levá-la, abandonando de imediato a aldeia. Não sentiam nada de bom no ar.
E estava a tropa de Massena a começar nova marcha forçada quando os homens começaram a notar cintilações à distância. Na verdade eram as pedras húmidas da chuva na véspera. E conta a lenda que os franceses julgaram que se tratava da cintilação das baionetas dos exércitos aliados de Portugal e de Inglaterra e apanharam tal medo, que desataram a fugir pela Serra da Lapa fora, largando logo a imagem do santo. E Santo António voltou para o seu altar.
Bem, vamos agora voltar a nossa atenção para o lugar da Barroqueira, na freguesia de Forninhos, a pouco mais de três léguas da sede do concelho. Um pastor dali poderá guiar quem for até à entrada de uma gruta, disfarçada que está com silvedos e arbustos. Essa entrada, contam as gentes, foi feita pelos mouros. Lá dentro há um salão enorme, onde desaparecem as ovelhas que para lá entrem. Come-as uma moura. Aliás uma lindíssima moura encantada. Pois de cem em cem anos, no dia de S. Pedro, a moura sai da gruta e, com muito cuidado, para não ser vista, empoleira-se nuns penedos a olhar a lua que, estando em quarto crescente, lhe lembra a sua terra e os seus...
No entanto, também se diz que todas as noites, a moura corria currais de ovelhas e comia quantas podia, como se estivesse a saciar uma fome de cem pessoas! Ora, continua esta lenda, que é variante da outra, uma noite, um pastor, farto de prejuízos, levou o seu rebanho até ao pé da entrada da gruta. A dada altura, a moura saiu e ele apontou-lhe a escopeta que levava.
E sem querer saber da beleza dela, perguntou-lhe:
"Que andas a fazer?"
E ela respondeu-lhe, sorrindo:
"O que tu sabes..."
Zangado, gritou-lhe o pastor:
"Pois ou voltas para a tua gruta ou vai chumbada!"
"Pois ou voltas para a tua gruta ou vai chumbada!"
Cheio de medo, a moura desapareceu num ápice. Bem, e acabaram-se assim as visitas aos redis e foi a última vez que ela foi vista na Barroqueira.
Sem comentários:
Enviar um comentário