Deve-se a Braamkamp Freire, em Os Brasões da Sala de Sintra, uma concisa biografia de Santa Senhorinha, venerada em Terras de Basto. Pois essa biografia tem foro de lenda. E esta lenda começa com a morte de D. Teresa, a condessa de Basto, poucos dias após ter dado à luz aquela que viria a chamar-se Senhorinha. E este nome nasce da exclamação de seu pai ao vê-la tão pequena quando nasceu: "Ai! Quão miudinha és, minha senhorinha!"
Filha segunda dos condes de Basto, a menina foi educada por uma sua tia freira, Godinha por nome e irmã de Teresa. E a educação foi de tal modo que Senhorinha apenas pensava na sua entrega a Deus. Por isso, cumprindo sete anos, o filho de um conde muito rico apaixonou-se por ela. E disse-lho. Apesar da sua pouca idade, a menina respondeu-lhe que ela não estava reservada a fazer vontades a ninguém, nem ao pai nem ao pretendente. E este correu a contá-lo ao pai de Senhorinha.
O conde ficou irritado com a desfaçatez da filha, chamou-a logo. E ela lembrou-lhe que desde havia muito estava traçado o seu futuro como esposa de Deus! O conde ficou perplexo com a resposta da filha. Pensativo passou o resto do dia e, quando adormeceu, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor a confortá-lo, dizendo-lhe que, afinal, Senhorinha escolhera o melhor destino e, uma vez ela tinha decidido ser esposa de Jesus, que a deixasse seguir a vocação.
Logo pela manhã, o conde contou a visão que tivera à filha e nesse mesmo dia providenciou o início da construção de um mosteiro que passaria a designar-se como de S. João de Vieira. Seria sua primeira abadessa a cunhada freira beneditina, D. Godinha. Aí, em 970, o conde assistiu à profissão de fé de Senhorinha, que tinha pouco mais de oito anos.
Quando faleceu a abadessa Godinha, Senhorinha, que lhe herdou o cargo, pressionou a família para que edificasse um novo mosteiro em Basto e nele se recolheu.
No entanto, o estado de saúde da jovem não era muito bom. Os frequentes jejuns e a mortificação com os cilícios abalaram-na muito. Porém, já a nova abadessa tinha uma áurea de santidade. Fez com que aparecesse farinha quando já não havia que comer no mosteiro de Basto, mandou também calar as rãs cujo coaxar perturbava os cantos religiosos, arredou tempestades e quebrou os grilhões com que seu irmão foi preso. Porém, depois de morta, diz a lenda que deu vista a um cego, entre outros milagres que lhe são atribuídos.
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