Edgar Cardoso transformou a engenharia em evento de massas, e foi a construção da Ponte da Arrábida, união do Porto a Gaia que é agora monumento nacional, que fez dele, digamos assim, produtor de eventos. Não se leia aí ofensa, antes gratidão a um homem que tornou apaixonante algo que outros deixariam à indiferença que junto dos leigos suscita o projeto e cálculo de estruturas de betão. Com Edgar Cardoso, as coisas eram diferentes, não apenas por o notável professor ser uma figura cativante mas também pela genialidade que transparecia da idealização de modelos laboratoriais, da busca de soluções inéditas e, sobretudo, do arrojo dessas soluções em que mais ninguém parecia acreditar.
Quanto foi feita, a Ponto da Arrábida era um fenómeno - o maior arco de betão pré-esforçado alguma vez feito - e gente do mundo inteiro esteve no Porto à espera de a ver cair. A técnica de construção já havia sido testada em menor escala, bem perto do Porto, na ponte que cruza o rio Sousa e sobre a qual tanta gente passa sem se aperceber de que é uma miniatura da grande obra que viria depois. E que teve no fecho do cimbre - realizado em junho de 1961 e aqui documentado - o mais espetacular e fotografado momento. e, à medida que era montado, ia sendo enchido com betão. O tramo central, que fechou o arco, foi construído a montante e transportado, Douro abaixo, sobre batelões puxados por rebocadores, sendo depois içado por gruas, postas de ambos os lados da construção. Tinha 78 metros de comprimento, pesava 500 toneladas e demorou cinco dias a chegar lá ao alto. Depois de pronto o primeiro arco de betão, o cimbre foi deslocado lateralmente para o segundo arco ser construído.
A ponte foi inaugurada a 22 de junho de 1963.Notícias Magazine - 22.6.2015
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