Quem tiver o ouvido afinado para a música poderá entender esta lenda melhor que ninguém. Bastar-lhe-á jornadear até ao Alto Douro, ao concelho de Alijó, e visitar as aldeias de Carlão e de Ribalonga. E quando repicarem os sinos, logo perceberão que o primeiro clama por Ribalonga e o deste por Carlão. Mas, o que se passa?
É que os sinos foram trocados numa oficina do consertos em Braga e o comodismo dos homens não consentiu na reparação do erro. "O serviço é o mesmo", terá comentado uma voz. E assim ficou.
Os sinos é que estão desgostosos e lamentam a sua sorte! Verificarão que hoje estão afinados, aliás a lenda diz-nos que já antes do episódio que vamos narrar eram afinadíssimos. Ora virá-lo quando o repicavam, puxando os rapazes a corda, era sinal de força! No entanto, os sinos fartam-se, racham, envelhecem, quase como as pessoas.Pelo menos alguns. E aconteceu isso a ambos os sinos das duas aldeias. Na oficina de Braga, como se disse, puseram-nos como novos, mas trocaram-nos. Após ligeira discussão inicial, concordaram as partes que o fundamental era que repicassem. E isso fazem-no, ainda que de som trocado. E assim continuam hoje, que ninguém os repôs nas torres de origem...
E há outra lenda, a da Nossa Senhora da Boa Morte do Pópulo. Pois diz que Nossa Senhora, achando que a freguesia de Vila Verde era uma aldeiazinha agradável, em que podia viver, andou até ao cabeço conhecido como das Bilheiras, para ficar com outra perspectiva. Porém, ao ouvir como discutiam entre si as mulheres na fonte, fugiu para o Pópulo!
No entanto, podemos conhecer ainda uma outra lenda de Ribalonga, referente ao seu lugar de Santa Ana. Pois neste lugar há uma fraga enorme, rectangular, tendo na parte superior três sulcos, o da cabeça, o do tronco e o dos membros de uma pessoa. A voz do povo, essa mesma voz que escreve as lendas, linha a linha, diz que esses sinais foram ali deixados por Santa Ana, quando andava em peregrinação aos Lugares Santos.
Pois a lenda faz-nos saber que Santa Ana, cansadíssima, não vendo outro sítio
para se deitar, aproveitou aquela fraga. E a pedra tornou-se então mole para ficar mais confortável, tornando mesmo a forma do seu corpo. E no dia seguinte, logo ao amanhecer, repostas as forças, meteu-se a santa a caminho. Do texto da lenda não consta que alguém a visse, mas quer-nos cá parecer que testemunha deve ter havido, doutro modo...
Pois, saindo a santa, pela fraga começaram a passar as pessoas que iam para os seus trabalhos, reparando nos sulcos, ficaram admiradas. Alguns voltaram a Ribalonga dar a notícia. E logo ali se juntaram umas dezenas de pessoas a discutir o fenómeno. Como é que chegaram à conclusão de que fora Santa Ana, de quem eram devotos? Não se sabe. Testemunha que não quis declará-lo? De qualquer modo, aquele monte onde está a fraga ficou a ser conhecido como Monte de Santa Ana.