Possivelmente conhecem o Cerro do Castelo, em Odemira,. Situa-se entre as herdades do Cerro de Ouro, dos Pesos e dos Pesinhos. Há uma lenda, protagonizada por lavradeira do Cerro de Ouro, que, desde há séculos, se conta em todas as famílias. Pois vamos a ela que, como a maioria das lendas, cronologicamente se situa a noite dos tempos...
Ora, nessa manhã, uma lavradeira do Cerro de Ouro estava a dar de comer às suas vacas quando lhe apareceu uma mulher que ela não conhecia de lado nenhum. A outra cumprimentou-a com m uita simpatia e disse-lhe que estava ali para lhe dizer o seguinte:
"A senhora tem aí duas vacas que estão prenhas e cada qual vai ter seu bezerro. Olhe, gostaria que as criasse sem tirar nenhum leite às vacas, reservando-o todo para os bezerros. Daqui a um ano, mesmo no dia de S. João, ainda antes do sol nascer, vá ao Pego da Laima e ponha os dois bezerros na água, tirando de lá uma grade daquelas de gradar a terra. Aí terá a sua fortuna!"
E a mulher foi cumpridora, deixando o leite das vacas para os seus bezerros. Porém, um dia, vendo ela que eles estavam já quase uns bois, bem nutridos, apetecendo-lhe uma malga de leite, achou que não fazia mal nenhum tirá-lo a uma das vacas. Assim fez, mas quando ia a bebê-lo lá achou que não o devia fazer e atirou com o leite para cima do bezerro, que logo ficou malhado de branco no sítio atingido pelo leite.
Ora o Pego da Laima é uma espécie de lago natural que fica na Ribeira do Vale da Casca, no sopé do Cerro do Castelo. Pois, então, chegou o dia de S. João e lá foi a mulher com os bezerros para o Pego. E logo que os meteu à água atrelou-lhes uma grade igual à que ela tinha, mas vendo que aquela era de ouro. Mas aconteceu que o bezerro malhado não tinha a força do outro e a grade começou a afundar-se daquele lado. Ela bem gritava, mas o bezerro não podia, pelo que ela se viu obrigada a desatrelar ambos os bezerros para eles não morrerem afogados. Então, ouviu-se uma voz triste:
"Ah, desgraçada, que me dobraste o fado por outros tantos anos!"
E a grade desapareceu na águas.
Ah, prometida estava a lenda do nome de Odemira. Pois no castelo viviam os reis mouros, Ode e Jade, e a princesa Anabel. Era uma vida calma a que levavam. Mas a paz não dura sempre e estando a menina a pentear-se viu ao largo barcos cristãos. Aflita, chamou o pai para a varanda:
"Ode, mira! Ode, mira!"
Os seus gritos ouviram-se por toda a parte. Alarme dado, houve duro combate, que acabou com a derrota dos mouros. Ao tomar conta do castelo, o chefe dos cristãos apaixonou-se por Jade, que também gostou muito dele. Houve então uma paz negociada e o cristão pediu a rapariga em casamento, a qual muito feliz ficou. Pois o casalinho ficou a viver para sempre no belo castelo da não menos bela Odemira!