quinta-feira, 31 de maio de 2018

LENDAS DE PORTUGAL - 114ª - BENAVENTE

MEMORIAL DE S. BACO

Será que S. Baco consta do vosso hagiológio? Estão mais habituados a tratar com o velho Baco, ou S. Máculo, foi um mártir efectivamente cristão, disputadíssimo pelos povos de Benavente e de Salvaterra de Magos. Houve até um príncipe que ofertou ao Convento de Jenicó, em Benavente, a relíquia de um ossinho da cabeça de S. Baco. E lá está também uma boa imagem dele, vestindo o hábito dos frades arrábidos. É o advogado das sezões e o resultado é que a imagem tem as costas raspadas, pois há quem queira curar as suas maleitas fazendo uma mistela com pó do santo dissolvido em água. Até se dizia que curava o paludismo. E o problema é que se dizia que quem se risse das propriedades curativas de S. Baco sofreria terríveis febres!
Mas vejamos agora a lenda de S. Baco. Pois um camponês prometera-lhe, como paga da sua ajuda a arranjar emprego numa quinta, levar-lhe um cacho das melhores uvas da sua colheita. E levou-lo, colocando-lo no altarzinho. E o cacho esteve meses ali, sempre em bom estado de conservação. Como se não tivesse saído da parreira, diziam alguns. O pior foi quando o homem, por qualquer razão, foi despedido. Zangado, foi ao Convento de Jenicó, entrou na igreja, directo ao altar de 
S. Baco, deito a mão ao cacho e ali mesmo comeu as uvas!


Houve quem visse este acto e o seguisse. Assim, soube-se que quando ele entrou em sua casa, sentiu-se mal e acabou por morrer nessa mesma noite. Por isso as pessoas dizem que aquilo foi castigo do mártir.
Em 1834, quando foram extintas as ordens religiosas e  confiscados os mosteiros e conventos, ao ser destruído o de Jenicó, a população de Benavente foi lá buscar a imagem para a igreja matriz. Porque a imagem sempre tem mais de um metro de altura, levaram um carro puxado por uma junta de bois. Porém, a coisa complicou-se. Carregados com a imagem, os bois não conseguiam avançar. Mas quanto a recuar, isso pareciam fazê-lo até de bom grado. 
Furioso com o que lhe pareceu ser birra de S. Baco, o campino que dirigia a manobra picou os olhos da imagem como o aguilhão e, como castigo, logo ai ficou cego.
Os de Salvaterra de Magos, vendo que os de Benavente não conseguiam fazer deslocar o santo, aí por meados do século XVIII, foram eles a Jenicó buscar a imagem de S. Baco. Carregarem-na, é verdade, e avançaram com ela o seu bocado, sem que os bois se mostrassem cansados. Mas quilo foi ilusão de  momento, pois num repente os bois pararam e o carro atascou.
Passou então, por eles um velho de longas barbas, que disse: "Voltem os bois para trás, que eles andarão até ligeiros. Doutro modo, o carro nunca mais sairá daí!"
E assim foi, ficando no ar a dúvida se o velho teria sido o próprio S. Baco...

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