sexta-feira, 13 de março de 2009

LENDAS DE PORTUGAL - V - ELVAS

O rapto de D. Mência

Um amor infeliz? Que lhe havemos de fazer? Trata-se de D. Lopo de Mendonça, um fidalgo de Elvas com poucos recursos. Assim, sendo uma figura galante, quando pensa em dar um passo mais sério, a caminho do altar, leva com um rotundo não do pai da noiva, que prefere sempre alguém de fortuna. A lenda tem a data de 1637, o que quer dizer que em Elvas, nessa altura, era um andar para lá e para cá no que se refere a Espanha. Ora desta vez, o jovem Lopo é convidado para um baile em Zafra, a pouca distância de Badajoz. Nada que um cavalo não consiga resolver numas horas. E lá foi. A função era em casa dos ricos Ugarte, onde conheceria o grande amor da sua curta vida, D. Mência. Ela também se apaixonou por ele. E o cavalo passou a fazer Elvas-Zafra com os olhos fechados.
Um dia, Lopo regressa a Elvas e dá de caras com o seu grande amigo Álvaro, que lhe nota um ar triste. Nada mais simples, a jovem Mência, por ordem do pai estava para casar com um membro da poderosa família Ramirez del Prado. Como ela tivesse dito não, o pai fechara-a no mosteiro das religiosas de Santa Clara. Felizmente haviam arranjado uma noviça como pombo-correio.
Álvaro é jovem como Lopo e sugere-lhe que a rapte e a traga para Elvas, que ficaria sob a protecção de sua mãe. No dia imediato à chegada casariam e depois logo se veria! Lopo de Mendonça entusiasma-se e lá vai numa cavalgada a Zafra. Consegue que a noviça lhe traga a namorada à fala. Ele empoleirado numa árvore e ela atrás das grades da janela do mosteiro. Mência acede ao rapto e combinam para o dia seguinte de madrugada, ele passará uma corda para o alto da torre e irá lá buscá-la. Em baixo, apenas o seu cavalo e um pajem.
À hora marcada, no alto da torre, Mência aguarda o seu amor. Este chega à base da torre e prepara a corda. A seu lado está o pajem. Não há movimentos suspeitos, nem acha provável que os haja porque fez tudo aquilo pela calada. Deita a mão à corda e, num momento, fica cercado por cinco espadas. O pai de Mência, que avança e o esbofeteia, e quatro criados. Um destes criados é, já se vê, o pajem que ele nessa tarde contratara em Zafra.
E temos uma bela cena de capa e espada. A primeira cutilada de espada ágil do jovem Lopo de Mendonça é mortal e acerta no homem que ele queria ter como sogro. Depressa retira a lâmina ensanguentada e consegue misturar o sangue nobre do fidalgo de Zafra com o vermelhão vulgar dos seus criados. Os outros dois sicários, vendo as coisas mal paradas, desatam a fugir, que o jovem Lopo lhes pareceu demasiado saldado para eles.
No alto da torre do mosteiro, D. Mência está desmaiada nos braços da noviça-correio. O namorado monta e segue para Sevilha. Aí alista-se numa tropa que vai para Nápoles. Entra em batalhas, é ferido muitas vezes. Quer apagar a morte do pai da namorada. Entretanto sabe que esta professou mesmo. E cada vez mais se envolve em batalhas até que a morte lhe apaga da memória o espectro do fidalgo de Zafra.

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