Lagos fica na Costa do Ouro, pois bem douradas e belas são as suas praias. O seu nome deriva de Lacóbriga, pois tendo sido fundada pelo rei Brigo foi assente num local alagadiço. Já existia 400 anos depois do Dilúvio e 1008 anos antes de Cristo. Era rica e poderosa no tempo de Aníbal Barca, mas o seu nome desapareceu com a chegada dos árabes à Península. Quando Sancho I toma Silves aos mouros, Lagos parece recuperar-se. Vamos, então, à lenda do Senhor da Verdade.
Pois era uma vez a bonita Mariana que vivia em Lagos e namorava o pescador António. Ora ele gostava muito da sua profissão, e ela dizia-lhe que tal não era empecilho para o seu amor, que estaria sempre à espera que ele voltasse da faina. Mas, acrescentava, ai de quem se metesse com ela!
No entanto, havia o Jacinto, com quem António ia pescar e era o dono do barco. Dizia-se o seu melhor amigo, mas cobiçava-lhe a namorada. Ela sabia-o e advertiu o António. Mas ele garantiu-lhe que o outro dia seria o último em que pescava com ele, pois arranjara um dinheiro emprestado e já teria um barco seu.
Nesse encontro António mostrou a Mariana um crucifixo em madeira, que ele próprio fizera, dizendo que o destinava ao seu novo barco. E já estava benzido. Porém, acrescentou, tencionava levá-lo no dia seguinte, no costado do barco de Jacinto. Combinaram então casar na ermida da Senhora da Conceição.
--António, não digas nada ao Jacinto sobre o nosso casamento... -- pediu a rapariga, mas ele achou que até era bom que ele se habituasse à ideia. No dia seguinte, com um céu lindo, saíram os dois pescadores de Lagos. Mariana foi à praia despedir-se de António, que ficou muito tempo a olhá-la. Jacinto nem para trás voltou a cabeça.
No dia seguinte, Mariana foi para a praia ver chegar António, mas chegaram todos os barco menos o dele. Demorava e ninguém dizia tê-lo visto. Por último, tardíssimo, chaga o barco, apenas com Jacinto. Contou que uma onda alterosa levara António. Todos acreditaram menos ela. Então fez uma prece para que o Cristo de António viesse à praia dizer o que tinha acontecido, que ele decerto assistira. E todos olharam para a praia onde um objecto acabava de ser trazido pelas ondas. Era o crucifixo. Ela pediu que trouxessem o Jacinto para o confrontar com o Cristo. Trouxeram-no mas ele, sabendo do que se tratava, sempre receou olhar directamente para a imagem. Depois de uma discussão com os pescadores e as suas mulheres Jacinto, pálido, acedeu ao que se lhe pedia, mas quando o fez desatou aos gritos que uma luz o cegava. E acabou por confessar ter assassinado o companheiro.
Ele foi preso, mas a rapariga acabou por morrer de desgosto numa das praias de Lagos. O crucifixo foi levado para a ermida onde Mariana e António iriam casar e lá está, podem ir vê-lo. E o povo ainda recorre a ele chamando-lhe o Senhor da Verdade! Aquela luz de que fala a lenda ficou gravada na tradição.
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