O mais velho instrumento de música tem 35 mil anos
Descoberta: Arqueólogos encontraram nas grutas de Hohle Fels, no Sudoeste da Alemanha, a mais antiga prova de uma tradição musical. Flauta foi feita a partir de um osso de grifo, uma espécie de abutre
Há 35 mil anos, um rádio já dava música. Ou melhor, o osso da asa de um grifo (uma espécie de abutre) já tinha sido talhado pelos povos do Paleolítico Superior que viviam no Sudoeste da Alemanha na forma de uma flauta, a mais antiga prova de uma tradição musical alguma vez encontrada. A descoberta é revelada hoje na revista científica "Nature".Até agora, as mais antigas referências musicais datavam de há 30 mil anos e eram oriundas da França e da Áustria. Esta flauta foi encontrada no Verão de 2008 na região de grutas de Hohle Fels -que em alemão significa rochedo oco.
O instrumento estava partido em 12 fragmentos que, depois de unidos, mediam 21,8 centímetros de comprimento e tinham um diâmetro de oito milímetros. Foi fabricada a partir do rádio de um grifo (Gyps fulvus), espécie cujas asas podem medir entre 230 e 265 centímetros de envergadura.
"A superfície e a estrutura da flauta estão em excelente estado e revelam vários detalhes sobre o seu fabrico", indicam Nicholas Conard e Susanne Muenzel, da Universidade de Tuebingen, e Maria Malina, da Academia da Ciência de Heidelberg, no seu artigo. Além de cinco orifícios para dedos (o instrumento não está completo, mas ainda assim, é um dos mais perfeitos alguma vez encontrados), apresenta dois entalhes profundos em forma de V, que se pensa albergava o bocal.
Os arqueólogos ainda não construíram uma réplica deste instrumento, mas acreditam que seria tocada soprando directamente pelo bocal. Uma outra flauta mais pequena (três orifícios), encontrada no mesmo sítio arqueológico -na região do Vale do Ach, a 20 km de Ulm -, revelou quatro notas básicas, além de outros três tons. Com a nova, deverá ser possível tocar mais.
Além da flauta de osso de grifo, a equipa encontrou ainda fragmentos de outros dois instrumentos iguais, desta vez cravados a partir de marfim. "A tecnologia para fazer flautas de marfim é muito mais complicada do que a partir do osso de uma ave", indicaram Conard, Muenzel e Malina. Isto porque é necessário arredondá-lo, antes de o partir ao meio para o tornar oco e finalmente voltar colar.
"Os investigadores aceitam universalmente a existência de complexos instrumentos musicais como uma indicação do comportamento moderno e comunicação simbólico avançada", explicam no seu artigo. "Os habitantes destes locais tocavam os instrumentos musicais em diversos contextos culturais e sociais", referem, lembrando que a flauta foi encontrada perto de uma revolucionária figura feminina.
"Os investigadores aceitam universalmente a existência de complexos instrumentos musicais como uma indicação do comportamento moderno e comunicação simbólico avançada", explicam no seu artigo. "Os habitantes destes locais tocavam os instrumentos musicais em diversos contextos culturais e sociais", referem, lembrando que a flauta foi encontrada perto de uma revolucionária figura feminina.
"A presença da música na vida dos povos do Paleolítico Superior não produziu directamente uma economia subsistente mais efectiva ou uma maior capacidade de reprodução", indicam."Contudo,
vista num contexto comportamental alargado, a música pode ter contribuído para a manutenção de redes sociais mais amplas e, talvez por isso, favorecer a expansão demográfica e territorial dos humanos ,modernos, em relação à cultura mais conservadora e mais isolada dos homens de Neandertal", acrescentam.
Uma Vénus pré-histórica
A figura feminina também encontrada no mesmo local é talhada em marfim de abutre e é a mais antiga representação feminina conhecida. Tal como a flauta, tem 35 mil anos. Esta Vénus pré-histórica altera radicalmente a imagem que os arqueólogos tinham da arte do Paleolítico Superior. A figura rechonchuda descoberta em Hohle Fels está quase completa, faltando apenas o ombro e braço esquerdos.
Diário de Notícias -25.06.2009-
Sem comentários:
Enviar um comentário