sábado, 11 de julho de 2009

NOTÍCIA DA SEMANA

Portugueses pioneiros em estudo da cafeína no Alzheimer

Um estudo publicado esta semana no Journal of Alzheimer Disease mostra que uma dose de cafeína equivalente a cinco chávenas diárias de café permite reduzir significativamente, no cérebro e no sangue de ratos idosos com Alzheimer, os níveis da proteína ligada à doença, diminuindo também os seus sintomas. Este é só o último de uma série de estudos nesta área, que se iniciaram no final da década de 90, pela mão de dois portugueses: Luís Maia e Alexandre Mendonça. Um pioneirismos que tem uma história e cujo futuro parece promissor.
Psicólogo de formação, Luís Maia decidiu fazer no final da década de 90 um mestrado diferente. Rumou à Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e foi aceite no mestrado de neurociências. Sob a orientação de Alexandre Mendonça, neurologista e especialista em doenças neurodegenerativas no Hospital de Sta. Maria, em Lisboa, o hoje professor e investigador da Universidade da Beira Interior lançou-se numa investigação que acabou por um abrir um novo caminho.
"Em 1999 saiu um artigo de cientistas norte-americanos, no qual se relatava um efeito neuro- protector da nicotina na doença de Parkinson", contou ao DN Luís Maia. Por essa altura, estavam também a ser desenvolvidos estudos para se perceber que factores poderiam ser neuro- protectores no envelhecimento. As xantinas, substâncias-primas da cafeína, tinham bons resultados em ensaios clínicos, em alguns países, e deste contexto surgiu a ideia de estudar a cafeína -um dos produtos "mais consumidos no mundo", sublinha Luís Maia-, em relação à doença de Alzheimer.
"Lembrámo-nos de trabalhar com os doentes do Serviço de neurologia do Hospital de Sta. Maria, olhando para a sua história de vida, e tentar perceber se a cafeína podia ser isolada como factor neuro-protector da doença", conta.
A pergunta era arriscada e o resultado poderia ter sido negativo. Mas o que aconteceu foi o contrário. "Utilizámos uma metodologia muito refinada, o estudo de caso-controlo emparelhado", explica o psicólogo.
Durante um ano, foram avaliados 72 doentes de Alzheimer e comparados com 72 pessoas saudáveis com características de género, sociodemográficas, de idade e de escolaridade idênticas. "Para encontrarmos as pessoas tivemos de contactar mais de 150", lembra o investigador.
Os resultados compensaram. Comparando a ingestão de café dos doentes nos 20 anos que antecederam o diagnóstico, com o mesmo período nas pessoas saudáveis, e também haviam ingerido mais do dobro do café no primeiro período considerado, e quase o quádruplo no segundo. Conclusão: quem não consome café tem um risco acrescido em 40% de desenvolver a doença de Alzheimer.
Estava aberto caminho a novos estudos. Alexandre Mendonça continua a desenvolver investigação na área. Luís Maia continua a trabalhar em doenças neurodegenerativas. Mas, cafeína, só nas duas a três chávenas que bebe todos os dias.
Mais de 30 citações internacionais
Luís Maia e Alexandre Mendonça não ficaram surpreendidos por a sua investigação mostrar o efeito protector da cafeína na doença de Alzheimer. A boa surpresa foi outra: "Os dados mostraram que a cafeína era o único factor estatisticamente significativo nessa protecção", conta Luís Maia. Em 2001, os investigadores decidiram publicar os resultados, mas a primeira submissão não correu bem. "Enviamos o artigo para uma revista americana. Disseram-nos que os resultados eram fantásticos mas que se levantavam dúvidas". O European Journal of Neurology, "a melhor revista cientifica europeia na área", como sublinha o psicólogo, é que não teve dúvidas, e publicou o artigo em 2002. Sete anos depois, ele tem mais de 30 citações internacionais e os seus resultados foram confirmados experimentalmente por outros grupos no mundo.
Diário de Notícias -11.07.2009










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