Em Olhão existe, pelo menos existia até bem entrado o Século XX, uma importante propriedade chamada Quinta do Marim. A sua principal fonte para a riqueza é um abundante veio de água. Obviamente que uma lenda de mouros encantados poderá explicar como num chão seco brotou aquele manancial. Ataíde Oliveira, no seu livro sobre as mouras encantadas do Algarve, fala mesmo de "esterilidade pasmosa"!
No tempo em que os mouros dominaram a província, e longos séculos foram, o dono dessa quinta era um velho mouro que vivia num edifício acastelado no meio dela. Consigo, uma filha, belíssima rapariga cuja fama era motivo de conversa em todo o Reino dos Algarves. Além disso, os pretendentes à sua mão eram muitos. E o velho mouro corria com eles, pois não concebia ficar sozinho ou longe da filha. Porém, havia um jovem mouro, músico e poeta, que não lhe largava a porta. Nas mais belas noites ia cantar sob as janelas da casa e a mourinha começou também a amá-lo. Mas o velho mouro é que não se conformava. Ralhava com a filha, mas ele bem via que a jovem não lhe queria saber das palavras para nada. Mal escutava os acordes do alaúde, ela levantava-se da cama e ia pôr-se à janela, entre as cortinas, a dar-lhe um sinal da sua atenção. Quando o pai aparecia a querer contrariá-la, soltava umas lágrimas, que o confundiam ainda mais.À falta de melhor argumento, o velho mouro teceu um plano e chamou o jovem pretendente, que não tardou a apresentar-se. Perguntou-lhe se amava a filha, tendo o poeta proferido a mais empolgada das frases afirmativas. E observou-lhe o velho mouro:
"Livre-me Alá de contrariar as vossas inclinações, mas tenho um voto a cumprir. Como sabes, os meus campos não têm água. Assim, só concederei a mão da minha filha a quem, numa só noite, transportar para junto do meu castelo a famosa nascente da Fonte do Canal..."
"A que distância fica daqui?"
"Treze léguas".
Foi-se embora o poeta e o mouro suspirou de alívio.
Mas nessa mesma noite, lá estava ele a cantar-lhe debaixo das janelas. Assoma-se o mouro e vê um grande reservatório de água para onde caía a água aos cachões. Sentado na borda, o poeta cantando. Furioso, foi ao quarto da filha, agarrou nela e lançou-a da janela. Atingiu o corpo do rapaz e ambos os amantes desapareceram no reservatório.
Não morreram. Porque muitas pessoas os viram sair, em algumas noites de luar, de braços cruzados, passeando pela quinta. Cantando, acrescentam, essas testemunhas. Seja, estão encantados, porque Alá os não deixou morrer. Porém, também encantou o velho mouro. Porém, este está metido no que resta da casa acastelada, donde apenas sai nas noites de tempestade, arrastando o ódio dos vizinhos ao longo dos séculos...
2 comentários:
As lendas, as flores e tudo o mais...
Vale a pena vir até aqui!
Com carinho
A
Lourdes
Muito obrigada, Lurdes!
Um abraço
Helena e Werngard
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