No Funchal, ao lado do Campo do senhor duque, ficava a pequena igreja de S. Sebastião. Quando esta foi demolida, apenas ficou o nome do mártir na tradição. É que ali foi colocado um monumental chafariz, que na capital madeirense há tempos andava de um lado para o outro, ficando numa parede a placa toponímica com a indicação óbvia de ser o Largo do Chafariz. Mas num no seu largo o chafariz estacionou definitivamente logo à primeira, pois também teve duas ou três colocações antes daquela que é dada como definitiva!
Recorde-se que antes da partida do jovem rei para o desastre de Alcácer-Quibir, ele decretara que, em todas as povoações nobres que o não tivessem, fosse construída uma igreja ou uma capela invocando o patrono do seu nome, daí a quantidade delas que há por este país fora.
Porém, a verdade é que não está ainda fixada a data da fundação do templo demolido, conquanto surja a probabilidade do ano de 1523, pois neste a câmara e o povo do Funchal elegeram o mártir como padroeiro contra a peste. Porém, há quem prefira a data de 1430, mas apenas porque nesse ano ali se fundou a primeira freguesia do Funchal. No entanto, junto ao altar de Santo Elói, existia a sepultura de Álvaro Anes, escudeiro do infante D. Fernando, o mártir de Fez, com o epitáfio datado de 1471, bem, mas talvez a discussão nem valha a pena. E sabemos que, de qualquer modo, em 1803, o camartelo derrubou a igreja para ali ficar a feira. E a lenda começa aqui porque o templo não voltou a ser reconstruído.
Dizem as vozes que, após o desmantelar da igreja, todas as noites, e em horas impróprias para uma pessoa andar na rua, aparecia ali no largo, que fora do mártir S. Sebastião, e mostrando-se em tristeza aos poucos noctívagos dessa época que porventura ali quisesse caminho: certo sujeito de bom porte em bem composto aspecto, homem de ar grave e de boas e leais parecenças, que passeando o largo de lés a lés, em alto pranto falando para os que o ouvissem lhes profetizava o próximo alagamento da cidade pelas águas do mar.
O homem nocturno jurava isso a pés juntos, acrescentando que os homens muito padeceriam caso não reedificassem depressa a casa sagrada no lugar onde sempre estivera.
Semelhante profecia nunca se realizou, mas o homem garantia que se não cumprissem a reconstrução do templo o mar subiria, subiria, galgando as ruas de Funchal. As águas, acrescentava, invadiriam as casas, os campos, acabando por ficar aquela praça transformada num ancoradouro para naus ou garganta de morte para os seus moradores.
Quem seria o tal fantástico ser? Algumas pessoas diziam que era o próprio S. Sebastião com as roupas dos séculos em que aparecia, enquanto outros, mais encantados, aventavam a hipótese de tratar-se de D. Sebastião, o desgraçado rei agravado, protestando por lhe terem destruído o templo do santo do seu nome, de que era tão devoto no pouco tempo que reinou em Portugal.
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