quarta-feira, 14 de abril de 2010

LENDAS DE PORTUGAL - XVIII - MONDIM DE BASTO

O Monte da Farinha
Há quantos anos aconteceu isto? Ora, trata-se de uma lenda e as lendas são sempre de há muito, mesmo muito tempo. Tal como esta, que é do tempo em que os mouros ainda ocupavam a maior parte da península Ibérica. E o cenário é o Monte da Farinha, junto ao qual fica a Pedra Alta e a capelinha da Senhora da Graça, aí a umas duas léguas da vila de Mondim de Basto. Não sei se já lá foram, de qualquer modo vale a pena subir àquele alto que a paisagem soberba os compensará sobejamente. É mesmo uma graça para o olhar dos romeiros ou dos curiosos por grandes emoções no contacto com a Natureza. Pois há muitos, imensos anos, por Terras de Basto andava um moleiro com a sua carroça, onde levava um moinho e sacos de farinha, puxada por um velho burro que sabia muito bem que não é preciso andar a correr por este mundo.
O moleiro chegava a uma povoação, passava a sua gaitinha pelos lábios, tocando de uma dada maneira. E toda a gente ficava a saber que no meio da aldeia estava o moleiro, que trocava sacos de grão por sacos de farinha, que ali mesmo moía. E tinha sempre freguesia em toda a parte. Acabado o trabalho, lá voltava àqueles caminhos, em busca de mais grão, vendendo farinha.
Ora daquela vez, faltando umas três léguas para chegar a Mondim de Basto, o moleiro encontrou na estrada uma jovem senhora, com os pés em sangue de tanto andar. Logo a convidou para subir à carroça, que bem podia com ela, poupando-lhe o cansaço do resto da jornada. A senhora agradeceu e aproveitou. E lá foram. Tudo estaria bem se os não visse uma quadrilha de mouros, que logo combinaram assaltar o moleiro um bocado mais adiante, quando faltavam só uns dez quilómetros para a vila. Porém, o moleiro, quando eles se lhe iam meter ao caminho, vendo que os não podia enfrentar, quis acelerar a passada ao burro. Este é que não estava habituado a corridas, pelo que tropeçou numas pedras e virou-se a carroça. A este tempo, chegaram os mouros ao local e logo mataram o moleiro. A senhora, que saltara da carroça para uma pedra, gritou:
"Abre-te pedra! Faz-me esta graça!"

A pedra abriu-se, deixando-a entrar, mas como era pequena, cresceu até à altura da senhora a quem valera. Vendo aquilo, os mouros ficaram de tal modo admirados que já nem quiseram saber de mais nada. Desataram a fugir, que aquilo não era deste mundo,bem pensaram. E com isto, diz a lenda que nem tocara, na carroça. Ora como o moinho que o moleiro levava consigo estava a trabalhar com grão no momento do assalto, nem com a queda da carroça parou de trabalhar. E a farinha que produzia crescia até fazer um monte tão alto que, quando parou de moer as pessoas vinham vê-lo e exclamavam:
"Ai que monte de farinha!"
E o nome ficou tal como a pedra se passou a chamar Pedra Alta. E o povo de Basto fez a capelinha à Nossa Senhora da Graça. Vão Lá!

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