Na ponta mais ocidental do Algarve, aí está o concelho de Aljezur. Da sua antiguidade dão notícia, achados arqueológicos do paleolítico e elementos da cultura mirense (4.000 AC), para além de descobertas de cerâmica grega. Pois na Igreja Matriz desta vila estão depositadas duas caveiras conhecidos como Santas Cabeças. Um pouco de todo a região ali afluem grupos de pessoas, padecendo de mordeduras de cães e de outros animais, dores de cabeça e de dentes, males de coração e outros. Procuram lenitivo, cura. E aquelas relíquias são veneradas e dizem-nas milagrosas. E a história vem do tempo do rei D. Manuel I e do bispo do Algarve D. Fernando Coutinho. Pois então existiam no espaço geográfico deste concelho dois lavradores, João Galego e Pedro Galego, pai e filho, reconhecidamente trabalhadores, bondosos e justos. Porém, a fama deles cresceu quando começou a constar que apenas com o hálito curavam os doentes que junto deles acudiam. E deles restam a lenda e as Santas Cabeças de Aljezur, que continuam a ser veneradas.
Mais recuada no tempo é a lenda da tomada do Castelo de Aljezur, que, como a vila, foi fundado no século X pelos árabes. A conquista cristã ocorreu exactamente no dia 24 de Junho de 1249, reinado D. Afonso III. Numa operação que começou muito de madrugada, cavaleiros do Ordem Militar de Santiago, comandados pelo seu Mestre D. Paio Peres Correia, usaram um estratagema, contando com a traição - inconsciente? - de uma moura apaixonada.
A lenda começa no ano anterior ao da conquista quando a moura Mareares, que tinha amores com um cavaleiro cristão, lhe contou que a 24 de Junho os árabes não faltavam ao Banho Sagrado na Praia da Amoreira. Ora essa informação teve grande importância militar, pois, chegando aquele dia no ano seguinte, os cavaleiros camuflaram-se com arbustos e, enquanto os guerreiros árabes se banhavam na longínqua praia, os guerreiros da Ordem de Santiago entraram no castelo.
O castelo seria tomado ao romper da Alva e logo ajoelharam para agradecer a vitória a Deus e a Nossa Senhora da Alva, ficando esta, e até hoje, como padroeira de Aljezur. Diz-se que a sogra do alcaide, uma velha cega, com a sua neta pela mão, andava a passear pelas muralhas àquelas horas do romper do dia. E a movimentação dos guerreiros cristãos abrigados nas ramagens chamou a atenção da menina, que perguntou:
"Ó avó, as árvores também andam?"
E, mais a meio da manhã, quando os árabes regressavam ao castelo, após o banho ritual, foram surpreendidos e presos pelos homens de D. Paio, que os mandou acorrentar e levar para a zona sul do castelo. Aí, impiedosamente, o mestre de Santiago mandou decapitá-los, ficando o local a denominar-se Degoladouro, sendo depois as suas cabeças lançadas para a zona norte, para um sítio ainda hoje chamado Cabeças!
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