domingo, 24 de outubro de 2010

LENDAS DE PORTUGAL - XXIV - CORUCHE

O Funileiro Varandas
Naquele tempo, no tempo que hoje já ninguém consegue datar, na zona do Couço, em terra de Coruche, havia um homem que era um verdadeiro Zeca Diabo. Mau como as cobras, muitas vezes chegava a ser provocador, pelava-se por uma cena de pancadaria. Chamava-se Varandas e come era funileiro de profissão, apontavam-no dizendo: o funileiro Varandas. Ora uma festa qualquer, ele pôs-se a rondar umas raparigas, dirigindo-lhes palavrões, ameaçando-as do que estava disposto a fazer.
Porém, a rapaziada dali estava atenta e uma dúzia de rapazes atraiu o desordeiro para fora do recinto. Mal o conseguiram fazer, caíram-lhe em cima e deram-lhe tantas, tantas que o homem já não se conseguiu levantar. Os rapazes mexeram-lhe, voltaram-no e acabaram por verificar que o tinham matado. Então, agarraram no corpo e levaram-no para junto da Ribeira Santa, tendo-o enterrado perto da água.

As pessoas, claro, deram pela falta do funileiro e não atinavam com justificação. Subitamente, deixara de aparecer na tabernas da zona, onde era bom cliente! E o tempo corria, havendo gente que dizia ouvir bater no ferro quando passava na margem da Ribeira Santa. Dez anos passaram e a história não morria, sobretudo por causa daqueles ruídos. Pois numa taberna, quando alguém se referiu a eles, um dos matadores do funileiro, já bebido, disse:
"Ora! Como é que ele pode bater no ferro se está morto e bem morto?"
O problema é que na taberna estava um homem chamado baptista, que era da Guarda e o prendeu, obrigando-lhe mesmo a confessar o que se tinha passado. E depois daquele, denunciados, foram os outros presos. E não tardaram a serem levados ao sítio onde se ouvia o bater no ferro. A ribeira levava pouca água e foi possível abrir a cova.
Para admiração de quantos assistiram, o corpo do funileiro estava como se tivesse sido acabado de enterrar! E o povo dizia que o funileiro Varandas lançava aqueles sons como aviso de que se encontrava ali e queria que o vingassem.
Ah, é verdade, ainda hoje quer na Vila do Couço quer na aldeia de Santa Justa, quando alguém se mete com uma rapariga, há sempre quem resmunga:
"Dizes isso porque não sabes o que aconteceu ao Varandas..."

1 comentário:

Alberto David disse...

Olá, os meus parabéns pelo número de visitas alcançado e pela qualidade das postagens.

Um abraço amigo