quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

LENDAS DE PORTUGAL - XXVII PINHEL -

A Casa Grande e a Fonte

O concelho de Pinhel é ainda um notável espaço de manifestações etnográficas. A procissão dos Passos, por exemplo, em Atalaia. E a questão do pálio em Cidadelhe. O pálio é uma cobertura rectangular, sustentada por quatro ou seis varas, sob a qual vai o padre nas procissões - nesta aldeia apenas pode sair no Domingo de Páscoa, durante a Procissão do Santíssimo. Todo feito em veludo, forrado a seda e com a data gravada a ouro, este pálio já foi considerado como uma peça de arte muito valiosa. Dado o grande valor, foi decidido pela população não guardar na Igreja. Assim, o pálio anda sempre de casa em casa e, salvo quem o recebe, ninguém mais sabe onde se hospeda. Depois de acompanhar o Santíssimo, o pálio nunca regressa à casa de onde saiu.
No entanto, Pinhel deverá ser a única autarquia do país que tem sede no que se diz ser casa assombrada. Pelo menos é uma casa grande, antigo palácio dos condes de Pinhel, construído na primeira década do século XVIII; por causa das dívidas foi parar às mãos do estado. Pois tem tantas portas e janelas quantos os dias do ano, atribuindo-se a sua edificação ao diabo. Que o Diabo a fez numa só noite! Os autarcas garantem que nunca viram almas penadas vagueando pelos seus corredores ou gabinetes!
Ah, mas querem saber como foi? Eis a lenda. Pois em certo dia de verão, o que dirigia a obra da Casa Grande adoeceu, ficando impossibilidado de continuar a obra. Mandou então chamar um dos seus oficiais, explicando-lhe que deveria ir até à pedreira, situada numa mata, a poucos quilómetros de Pinhel, buscar o granito que faltava. Foi então que, sob segredo,lhe ordenou que levasse um livro e na pedreira o abrisse, pois trabalhadores saídos das páginas o ajudariam a levar as pedras para Pinhel. O outro assim procedeu, mas quando ia já perto da Póvoa d'El-Rei, a curiosidade e abriu o livro. A tentação fora mais forte do que as ordens do mestre. E logo, das páginas saíram figuras demoníacas e burlescas, gritando: "Que queres que façamos?" Ainda atordoado, o pedreiro apenas se lembrou de mandar cortar os silvados que o rodeavam. Assim foi feito. Diz a lenda que o próprio Diabo, "em carne e osso", comandou os seus diabretes no trabalho. Assustado, o pedreiro fechou o livro e correu apressadamente para Pinhel sem mais o abrir.
No outro dia seguinte não havia pedra para a obra. E foi assim que a Casa Grande surgiu, levantada pelos operários com a pedra do Diabo dos seus diabretes.
E agora a lenda sobre a Fonte de Marrocos, coeva da construção da antiga vila de Pinhel. Vivia lá uma moura. Vê quem lhe passa perto de casa, mas não quer que ninguém a veja, e esconde-se sob a densa ramagem da hera que decora a fonte. Mas, noutros tempos, muita gente a viu. Observaram que foi às compras à feira da vila. Mas quando desciam o caminho que a Porta de S. João faz a ligação à fonte, a moura desapareceu-lhes da vista, envolta numa nuvem.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

GIESTA

Classificação científica:
Reino:
Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Magnoliopsida
Ordem: Fabales
Família: Fabaceae
Género: CytisusDesf.
Espécie: C. striatus



Giesta (Cytisus striatus) é uma planta arbustiva de 1 a 3 metros de altura, com ramos abundantes, estriados e flexíveis. Folhas constituídas por três folículos que aparecem na base dos ramos e caiem rapidamente. Flores solitárias nas axilas das folhas, com cálice em forma de campânula, cinco pétalas, amarelas, de grande tamanho. O fruto é uma vagem completamente coberta de pelos acinzentados e arredondada, com até 3,5 cm de comprimento.
É nativa de
Portugal e considerada daninha ou invasiva em muitas regiões. Os ramos são tradicionalmente utilizados para a manufactura de vassouras. Na língua inglesa as plantas do género Cytisus têm o nome comum broom que significa também vassoura. A Cytisus striatus é chamada de Portuguese broom, em referência à sua proveniência.
É comum encontrar quem use giesta para designar o que, talvez mais corretamente, se deveria designar por
retama, ou seja, as espécies da mesma família (Fabaceae), mas do género Retama.
Cultura popular:
No norte de Portugal, é tradição exibir um ramo de giesta no dia 1º de Maio, alegadamente como protecção contra o carrapato (identificado com o
demónio ou com o mau-olhado). Por essa razão a planta é também conhecida como maia.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

NOTÍCIA DA SEMANA

A HORA DE SALVAR AS OSGAS

Ninguém gosta delas. Que são venenosas, frias, peçonhentas. Que provocam doenças de pele, como o cobro (zona), febres altas e dores intensas quando entraram em contacto com o homem. Que até podem levar à morte! Mitos e crenças que vitimaram a osga ao longo de séculos. Mas afinal está tudo errado. Este réptil é completamente inofensivo e considerado um "bom insecticida", capaz de comer cerca de vinte mosquitos durante uma hora. Na Universidade de Évora (UE) foi mesmo criado um grupo que quer defender a espécie, lançando o projecto "Salvem as Osgas".
De resto, a tarefa mais árdua deste trabalho desenvolvido pelo Conselho de Estudantes de Biologia da UE é, precisamente, "derrubar" as crenças instaladas entre a população de Évora, que geram uma aversão ancestral em torno da espécie, numa altura em que a osga-turca, com uma distribuição mais restrita em território português do que a osga-comum, já surge com estatuto de "vulnerável" no Livro Vermelho dos Vertebrados, admitindo-se que o seu declínio seja continuado.
O plano, explica o coordenador do projecto, o biólogo Luís Ceríaco, contempla sessões de esclarecimento entre a população, além de entrevistas sobre a relação dos habitantes com as osgas, para se tentar aferir de onde vêm as histórias sobre as falsas crenças.
Em Março, a equipa vai dar mais um passo em frente na tentativa de desmistificar as várias histórias, levando um conto com banda desenhada às escolas primárias da região. "O objectivo é apresentar o animal às crianças sem aquela carga negativa, para acabarmos com a ideia de que a osga é esse animal repugnante de que se fala e explicar que não tem perigo nenhum, porque não é venenosa nem provoca cobro", sublinha Luís Ceríaco.
Uma das características especiais deste réptil, sem pálpebras nos olhos, que levanta suspeitas entre a população sobre a presença de veneno está associada à forma como a osga liberta a sua cauda, que por instantes continua em movimento. Porém, este processo não é mais do que uma reacção defensiva do animal sempre que se sente ameaçado por algum predador. Ou seja, quando pressente que um gato ou uma ave de rapina (os seus principais perseguidores) estão prestes a alcançá-la, joga a "última cartada". Solta o rabo para um lado e foge pelo outro, numa autêntica manobra e diversão. Como a cauda continua em movimento, consegue atrair a atenção de predador, dando tempo para que encontre "porto seguro". O rabo há-de voltar a crescer, embora mais liso e curto, não recuperando a cor original.
De resto, a coloração entre as osgas é das características que apresentam maiores variações, podendo um exemplar alterar a sua própria tonalidade consoante o estado fisiológico ou quando procura camuflar-se no meio ambiente.
Contudo, para os biólogos, o mais curioso é a capacidade de a osga andar por superfícies lisas e de cabeça para baixo "durante horas a fio", segundo a investigação realizada. Não o consegue com ventosas, ou com qualquer substância pegajosa, mas antes devido às inúmeras micropilosidades que possui nas lamelas das patas. Como se e, caminhando lentamente, para emboscar os mosquitos, atraídos pela luminosidade, as traças e as aranhas, apresentando-se como um voraz insectívora.
Além dos vinte mosquitos em apenas uma hora, consegue caçar borboletas, saltando-lhes em cima depois de garantida uma curta distância da presa. "Não haverá melhor insecticida do que este", ironiza Luís Ceríaco.

DN -16.01.2011-

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

HONORÉ DE BALZAC

A infelicidade tem isso de bom:
Faz-nos conhecer os verdadeiros amigos!

domingo, 9 de janeiro de 2011

NOTÍCIA DA SEMANA

As pontes flutuantes
Depois de ter concebido duas pontes flutuantes para as Ilhas Maldivas, não faltou quem visse nos pés de suporte daquelas construções os dedos de um gigantesco anfíbio. Jorge Moura, arquitecto, 37 anos, filho de pai português, mas a viver na Holanda desde os 4 anos de idade, achou interessante a ideia, mesmo que aquela hipótese não tivesse ligação alguma com a realidade. O motivo de inspiração fora, afinal, um minúsculo inseto com quatro patas. O desenho das pontes, diz, "é inspirado num pequeno corpo suspenso por quatro grandes pés que usam a tensão da força da água para flutuar e permanecer à superfície".
Hoje, com responsabilidades na história Royal Haskoning, uma grande companhia holandesa de consultoria com características multidisciplinares, Jorge Moura conquistou o NET 2010 - Prémio Nacional Energia do Futuro - pelo projeto de arquitetura da Escola de Engenharia em Delf, na Holanda. Entre os seus principais trabalhos destaca-se, de momento, um projeto para as Ilhas Maldivas que prevê uma grande área de ocupação turística, um centro comercial, uma escola, vários edifícios de serviços e habitação. Uma das originalidades de todo este empreendimento é a construção de duas pontes flutuantes de legação entre ilhas. Trata-se de uma proposta, diz Jorge Moura, cujo conceito visa responder em simultâneo "aos desafios da engenharia e aos desafios do ambiente e manter-se ao mesmo tempo dentro de um orçamento razoável". Uma vez que o mar entre as ilhas é muito profundo, era fundamental encontrar uma ideia capaz de ultrapassar esse constrangimento.
Um design convencional, diz Moura, "implicaria grandes fundações no fundo do mar, o que não só é muito caro, como complexo em termos construtivos, além de que teria um impacto muito negativo em qualquer forma de vida existente" na profundeza daquelas águas. O jovem arquiteto, ao olhar para as Maldivas não podia deixar de ficar impressionado por aquele deslumbrante grupo de ilhas rodeadas por uma grande massa de água.
Essa constatação levou-o a considerar que faria todo o sentido tentar de alguma forma tirar partido da força daquelas águas. O conceito da ponte flutuante pode ser aplicado no futuro "para ligar outras ilhas de forma a preservar a qualidade" daquela zona, acrescenta.
Jorge viveu em Portugal apenas entre os 2 e os 4 anos de idade. Toda a sua vida tem sido passada na Holanda e nunca teve uma educação de raiz portuguesa. Ainda assim, aprendeu a falar e a ler português sozinho e sempre que pode visita familiares e amigos residentes nas zonas de Lisboa e de Sintra.
Com trabalhos em várias partes do mundo, Jorge Moura mantém-se fiel ao princípio de que se "pode criar boa arquitetura com qualquer tipo de orçamento. Só temos de ser mais criativos enquanto arquitetos".

RevistaÚnica - 8.1.2011-