segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

NOTÍCIA DA SEMANA

A HORA DE SALVAR AS OSGAS

Ninguém gosta delas. Que são venenosas, frias, peçonhentas. Que provocam doenças de pele, como o cobro (zona), febres altas e dores intensas quando entraram em contacto com o homem. Que até podem levar à morte! Mitos e crenças que vitimaram a osga ao longo de séculos. Mas afinal está tudo errado. Este réptil é completamente inofensivo e considerado um "bom insecticida", capaz de comer cerca de vinte mosquitos durante uma hora. Na Universidade de Évora (UE) foi mesmo criado um grupo que quer defender a espécie, lançando o projecto "Salvem as Osgas".
De resto, a tarefa mais árdua deste trabalho desenvolvido pelo Conselho de Estudantes de Biologia da UE é, precisamente, "derrubar" as crenças instaladas entre a população de Évora, que geram uma aversão ancestral em torno da espécie, numa altura em que a osga-turca, com uma distribuição mais restrita em território português do que a osga-comum, já surge com estatuto de "vulnerável" no Livro Vermelho dos Vertebrados, admitindo-se que o seu declínio seja continuado.
O plano, explica o coordenador do projecto, o biólogo Luís Ceríaco, contempla sessões de esclarecimento entre a população, além de entrevistas sobre a relação dos habitantes com as osgas, para se tentar aferir de onde vêm as histórias sobre as falsas crenças.
Em Março, a equipa vai dar mais um passo em frente na tentativa de desmistificar as várias histórias, levando um conto com banda desenhada às escolas primárias da região. "O objectivo é apresentar o animal às crianças sem aquela carga negativa, para acabarmos com a ideia de que a osga é esse animal repugnante de que se fala e explicar que não tem perigo nenhum, porque não é venenosa nem provoca cobro", sublinha Luís Ceríaco.
Uma das características especiais deste réptil, sem pálpebras nos olhos, que levanta suspeitas entre a população sobre a presença de veneno está associada à forma como a osga liberta a sua cauda, que por instantes continua em movimento. Porém, este processo não é mais do que uma reacção defensiva do animal sempre que se sente ameaçado por algum predador. Ou seja, quando pressente que um gato ou uma ave de rapina (os seus principais perseguidores) estão prestes a alcançá-la, joga a "última cartada". Solta o rabo para um lado e foge pelo outro, numa autêntica manobra e diversão. Como a cauda continua em movimento, consegue atrair a atenção de predador, dando tempo para que encontre "porto seguro". O rabo há-de voltar a crescer, embora mais liso e curto, não recuperando a cor original.
De resto, a coloração entre as osgas é das características que apresentam maiores variações, podendo um exemplar alterar a sua própria tonalidade consoante o estado fisiológico ou quando procura camuflar-se no meio ambiente.
Contudo, para os biólogos, o mais curioso é a capacidade de a osga andar por superfícies lisas e de cabeça para baixo "durante horas a fio", segundo a investigação realizada. Não o consegue com ventosas, ou com qualquer substância pegajosa, mas antes devido às inúmeras micropilosidades que possui nas lamelas das patas. Como se e, caminhando lentamente, para emboscar os mosquitos, atraídos pela luminosidade, as traças e as aranhas, apresentando-se como um voraz insectívora.
Além dos vinte mosquitos em apenas uma hora, consegue caçar borboletas, saltando-lhes em cima depois de garantida uma curta distância da presa. "Não haverá melhor insecticida do que este", ironiza Luís Ceríaco.

DN -16.01.2011-

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