Mesmo ao lado da igreja de Mourilhe, em Montalegre, há uma fonte cuja água é muito boa para os males da garganta. É dada beber num vaso que pertenceu a S. Brás, o que o tomou objecto de culto. Pois o nome de Mourilhe virá de terem lá vivido uns mouros expulsos das suas terras e castelos, não podendo sair da região. Como sempre, entre eles e os cristãos as relações eram péssimas. E chamava-se Mohamed o chefe daquela comunidade.
Ora Aben Amid, filho de Mohamed, fartou-se de estar confinado a um sítio e, querendo voltar às terras a que pertencia, saiu de Mourilhe. Andou de aldeia em aldeia, acabando por chegar às margens do Minho. Aí encontrou uma minhota, Leonor de seu nome, por quem se apaixonou. Namorou-a uns dias e então decidiu voltar a Mourilhe e pediu-lhe que o acompanhasse. Ela, muito triste, disse-lhe que ela era cristã e ele mouro, e as famílias não concordariam. Discutiram, por fim ela consentiu em acompanhá-lo com uma condição: se os mouros não a aceitassem, ele teria de voltar com ela. E ele concordou.
Quando, passado algum tempo, os dois apaixonados chegaram a Mourilhe, o chefe mouro ficou furioso porque o filho escolhera uma noiva cristã. E de tal modo foi grosseiro com Leonor, que ela acabou por ripostar-lhe ser o pai dela mais compreensivo, porque não teria dúvida em aceitar Aben Amid. E Mohamed amaldiçoou e expulsou o filho e a nomorada.
Porém, à hora da saída, apareceu Almina, a aia moura que criara Aben, e os convidou para sua casa. Depois de lhes assegurar que poderiam ficar com ela, regressou a casa de Mohamed Amid, obrigando-o a falar com ela a sós. A velha moura mostrava-se furiosa e o pai de Aben disse que o que mais o irritava era já ter prometido o filho a uma outra jovem moura, Zuleida e teria de casar com ela. Não se calou a moura, atirando-lhe à cara que ele também se apaixonara por uma minhota e por causa dela abandonara a esposa, estando esta grávida de Aben. Depois Almina falou-lhe da morte da amante e da mulher e dos remorsos que o atormentavam, o que pôs Mohamed fora de si. E jurou por Alá que não lhes perdoaria nunca, nem a ela nem ao filho e respectiva noiva cristã.
Dispostas a partir, Aben foi a casa do pai dizer-lhe e Almina decidiu ir procurar Zuleida, julgando que ela poderia ajudar, e Leonor ficou em casa só. Zuleida estava escondida na casa e logo que viu a rival sem mais ninguém, roída pelo ciúme, matou-a com um punhal e fugiu.
Aben e Almina, quando regressaram, deram com o cadáver de Leonor e choraram amargamente. E Aben foi-se embora dali, levando o corpo da namorada nos braços. Zangada, Almina lançou a Mourilhe a praga do fogo: "Malditos sejam os desta terra! Que o fogo, por mim ateado, destrua estas casas. Mourilhe só será purificada quando as chamas a destruírem Três vezes!" E, na verdade, a povoação ardeu dessa vez, já após a reconquista cristã, depois em 4 de Abril de 1854 e ainda em 4 de Julho de 1875, desta vez só escapando a igreja!
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