segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

LENDAS DE PORTUGAL - XXXVII - PESO DA RÉGUA

A TRISTEZA DE DONA MIRRA



Do alto do Monte de S. Leonardo, goza-se um dos mais belos panoramas durienses. À nossa vista, em esplêndida patina verde e amarela, os socalcos que são as escadas dos gigantes. E ali perto é a aldeia da Galafura, estamos no concelho do Peso da Régua e vamos ao encontro da lenda de Dona Mirra. Ah, mas a facilidade dos acessos dos nossos dias, naquele tempo era bem diversa. Vinhas até nem haveria muitas, mas multiplicavam-se os matagais. E um pouco abaixo do lugar onde hoje temos a capelinha de S. Leonardo, aí um sarraceno fez edificar o seu prodigioso palácio de paredes forradas a ouro, pendendo dos tectos maravilhas de pedras preciosas, preenchendo os aposentos o mais sumptuoso mobiliário. Ali escolhera ele viver com sua filha. Dele não sabemos o nome, mas ela permanece na nossa memória lendária como Dona Mirra.

A entrada do palácio apontava a nascente e era protegida por duas enormes fragas encostadas no vértice. Conta quem sabe a lenda que de dia se encostavam, impedindo o acesso aos eventuais intrusos, e de noite afastavem-se, permitindo aos moradores poderem sair para gozar a paisagem nas melhores noites de luar. Porém, se alguém se atrevesse a tentar transpor as portas do palácio, pelo mágico poder do sarraceno, as fragas juntar-se-iam e quem quer que fosse seria esmagado!

Pois certa vez, o sarraceno teve um negócio urgente nas suas terras africanas, mas não quis levar consigo a filha. E, receoso de que alguém poderia aproveitar-se da sua ausência, encantou a filha com as seguintes palavras:

-Fechai-vos, fragas, até que nasça linho sobre este monte, com o linho façam uma toalha, e sobre a toalha comam um jantar, e até que sejam ditas, tim-tim, por tim-tim, estas mesmas palavras.-

Porém mero acaso, passava por ali um pastor que tudo escutou. E não perdeu tempo em cumprir tudo o que ouvira. Porém, meses depois, quando se encontrava à boca da mina, não atinou com as palavras necessárias e a porta do palácio não se abriu. Como mais ninguém sabia o segredo, Dona Mirra lá ficou.


O pai sarraceno demorava e Dona Mirra estava farta da espera. Uma noite estendeu uma manta com figos no sopé do monte. Passou um aldeão, mas só levou alguns para o trabalho. No dia seguinte, quando foi por eles, viu que tinha peças de oiro. Foi a correr, mas já não deu com a manta nem com os figos. E os que deixara em casa já eram carvões! Então a mourinha apareceu em sonhos a um rapaz de Galafura para que fosse à meia-noite a determinado sítio onde havia um cavalo branco à espera dele para o levar ao palácio, onde um tesouro o esperava. O rapaz foi, mas arrependeu-se, com medo, porque o cavalo só tinha três patas!
Dona Mirra ainda apareceu a uma menina, pedindo-lhe fosse à mãe para lhe fazer um pão, que lhe daria muito dinheiro, só não podia denunciá-la. Mas a rapariga não foi capaz de guardar o segredo. Houve mais peripécias, mas nenhuma resultou. Dona Mirra lá está no Monte à sua espera, leitor. Anima-se a desencantá-la?

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