QUANTO A COMIDA QUER O SAL ...
Cada filha era uma formosura e o rei quis saber quanto elas gostavam dele. Juntou-as e fez-lhes a pergunta. A mais velha, sabendo que o pai gostava de palavras bonitas, respondeu:
"Amo tanto o meu pai como a luz cintilante das estrelas!"
O rei ficou contente e voltou-se para a filha do meio, que lhe disse:
"Meu pai, amo-o tanto como ao raio da lua cheia que se reflecte nas águas do mar!"
Muito agradado pela maneira como a filha falara, aguardou a resposta da mais nova:
"Quero tanto a meu pai quanto a comida quer o sal..."
Já o rei não gostou nada desta resposta e, colérico, ordenou:
"Filha ingrata, sai do palácio!"
Muito triste, a princesinha foi-se embora, levando consigo apenas o anel que comprovava a sua qualidade. Atravessou todo o reino, percorreu outro e outro, até que chegou a um reino longínquo. Aí ouviu um arauto proclamar que estavam a querer contratar uma ajudante de cozinha para o palácio real. E a princesinha conseguiu que lhe dessem esse lugar. E ali, humildemente, fez o que nunca fizera na vida, lavando panelas, descascando batatas, aprendendo a cozinhar.
Ora quando o jovem rei desse reino fez anos, a princesinha fez um bolo e meteu dentro o seu anel. E ele, ao abrir o bolo encontrou-o e logo viu que pertencia a pessoa real. Chamou logo o mordomo principal do palácio e ordenou-lhe que descobrisse a quem pertencia o anel. Depois de algumas investigações, levaram-lhe a ajudante de cozinha.
O rei ficou admirado com a beleza da menina e perguntou-lhe quem era. Ela contou ao rei como ali tinha ido parar. Mas tanto como a história o impressionou, o monarca apaixonou-se pela linda menina e pediu-a em casamento, o que ela aceitou.
Anunciando o noivado, fizeram-se os convites. Seria um grande banquete na véspera do casamento e que toda a comida fosse bem temperada excepto para um lugar, onde seria servida sem sal, destinando-se este lugar ao rei pai da princesinha. E quando chegou a altura do repasto, todos comiam satisfeitos excepto o pai da jovem, que fazia caretas a cada garfada. Por fim, deixou de comer. Como lhe perguntassem se não gostava das iguarias, respondeu, relutante:
"A minha comida não tem pitada de sal..."
O rei que ia casar com a filha dele observou:
"Mas não foi Vossa majestade que repudiou uma filha por lhe ter dito que lhe queria tanto quanto a comida quer o sal?!
O rei caiu em si e compreendeu que tinha sido extremamente injusto com a filha que, afinal de contas, tanto o amava!
Apareceu então a princesa e pai e filha abraçaram-se. Então, ele, porque gostava muito do pai, logo ali lhe perdoou.. E lá se fez o casamento e os dois reinos ficaram amigos.