Alexandre Herculano o apurou na sua ronda por terras da Beira: o belíssimo castelo de Penedono foi morada dos antecessores do Magriço, u, dos Doze de Inglaterra, imortalizado opor Camões nos "Os Lusíadas". O seu verdadeiro nome era Álvaro Gonçalves Coutinho, que alguns autores dão como nascido na vila de Penedono. E no poema a lenda é contada por um marinheiro, numa das naus do Gama, quando seguiam de Melinde para a Índia. Vale a pena evocar-se esse feito de um notável filho desta vila.
Pois a lenda, para quem não estiver para ir buscar o seu exemplar do grande poema camoniano e repassá-la em versos alexandrinos, a lenda conta que, no reinado de D. João I, na corte da nossa recém-aliada Inglaterra, nada menos que doze damas foram agravadas por outros tantos cortesãos. Pois queixando-se as ditas ao duque de Lencastre, sogro do monarca português, logo este pensou que seria interessante que as mesmas fossem desagravadas por doze cavaleiros portugueses. E lembrava-se ele de alguns bem galantes e possantes, que conhecera quando por cá andara a apoiar o futuro genro contra os castelhanos. E o desafio ficou no ar, tendo os nomes dos Doze de Inglaterra sido sorteados pelas damas ofendidas.
Tanto quanto se sabe, cada dama escreveu ao cavaleiro português que lhe coubera por sorteio, todas ao rei de Portugal e o Duque de Lencastre a todos. Assim, chegaram as cartas ao nosso país e não tardaram a partir do Porto os que viriam a consagrar-se como os Doze de Inglaterra. Houve, no entanto, um que não quis embarcar, preferindo a Inglaterra ir por terra. Exactamente o cavaleiro de Penedono, o Magriço.
E não é que o Magriço foi u último a chegar ao torneio de Londres, mesmo em cima da hora? E os cavaleiros portugueses venceram os cavaleiros britânicos. Porém, é curioso como ao cabo de tanto protocolo arrolado na lenda esta história não seja descrita por nenhum cronista da época, seja ele português ou inglês. Por isso se inclinam as gentes a supor tratar-se de uma lenda. E está muito bem que o seja.
Bruno, por exemplo, entende que se trata da adaptação de uma justa ao tempo de Ricardo II, realizadas em Londres, em 1390. Mas Teófilo Braga, Faria e Sousa e Jorge Ferreira da Vasconcelos, entre outros, aceitam o episódio dos Doze de Inglaterra como facto histórico. Mas a verdade é que o livro "Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda"(1561), deste último, é a única obra que a tal se refere anteriormente ao poema de Camões. Na 2ª edição dos "Diálogos de Vária História" (1599), de Pedro de Mariz, é incluída pela primeira vez em prosa a narrativa do torneio de Londres. No seu estudo sobre a "Relação ou Crónica Breve das Cavalarias dos Doze de Inglaterra", Magalhães Basto refere que lá não diz que o Magriço chegou em cima da hora do torneio, afirmando que o primeiro combate foi com maças de ferro e depois à espada, não permonorizando se combateram a cavalo ou a pé.
Assim, o interessante desta lenda é a romântica façanha portuguesa em que participa destacadamente o Magriço, que, com um bocado de paciência, acabaremos por ver passear entre as barbacãs do castelo de Penedono, enquanto lemos em voz alta sua lendária aventura!
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