Ele é o meuo tic-tac. Bem sei que há despertadores, que se podem programar aparelhos de rádio ou de televisão e qie até há serviços de despertar. São máquinas, dezenas de máquinas sempre prontas para acordar os humanos, para lhes facilitar a vida, para lhes resolver problemas. São tic-tacs mecânicos, impossoais, são ruído e sobressalto que nos acordam, fazendo-nos pular na cama.
Não preciso. Não preciso e mão quero. Eu tenho o meu tic-tac. Após dez horas de sono, quando sáo umas certíssimas sete horas e trinta da manhã, o José corporiza-se ao pé da minha cama e diz-me devagarinho: "Mãe, acorda. Já tenho saudades tuas." Não há despertador, trrim-trrim, gong, música estridente que se compare a esta meiguice. Começo o dia com esta festinha que a voz dele faz ao meu cérebro. Haja Deus.
Pois é, mas não há bela sem senão. O relógio biológico de uma criança não quer saber de fins-de-semana nem feriados. Ou seja, nessas manhãs plácidas, depois de uma mulher, para aliviar a correria de dias seguidos de rotino doméstica e maternal, se ter permitido estender o serão um pouco para lá do habitual, lá tenho o José à minha beira, a umas rigorosíssimas sete horas e trinta minutos, a anunciar-me que já há vida lá fora e que tenho de acordar. Não adianta explicar-lhe que nãu há escola nesse dia: ele já não concede à mãe estremunhada o direito sequer a meia hora de sono auplementar., Minto, meia hora ainda consigo.
Mesmo aos domingos e feriados, a essas horas de que até o sol tem uma ponta de vergonha, frente aos desenhos anumados mais loucos e estranhos que o fazem rir, sei bem que esse "acorda, já tenho saudades tuas" é um hino à vida. nenhuma máquina, nenhuma comodidade, nenhum conforto mecânico e impessoal se substui à verdade genuína da voz do José, que, no fundo, me está a dizer que o mundo acabou de ser criado naquela instante e que temos de merecer o presente que é cada nova e linda manhã.
Só quem acorda assim sabe a felicidade que pode haver num simples tic-tac.Maria Inês Almeida
Sem comentários:
Enviar um comentário