No livro de Margarida Tengarrinha da memória do povo, que são interessantíssimos materiais etnográficos portimonenses, vejamos a lenda do Sítio da Mulher Morta, contada por D. Rosa Furtado, de Poio, Mexilhoeira Grande. Seleccionamos este texto pela beleza da sua oralidade transposta ao papel:
O qu'eu sempre tenho ouvido, já da minha avó, dos meus bisavós, todos daqui destes sítios, tenho ouvido sempre assim: Na Quinta-Feira da ascensão a gente antigamente ia sempre pela religião católica e a minha família sempre dizia - não se lava na Quinta-Freira da Ascensão, que é um dia santo, até porque se os passarinhos bem soubessem num ao ninho iam. E há outro ditado que diz que é um dia tão santo, que na Quinta-Feira da ascensão coalha a amêndoa e nasce o pinhão.
Mas havia duas senhoras, duas comadres, e então uma era católica e a outra não era. E uma foi lavar à ribeira nesse dia. Aquela que não foi lavar disse assim: ó comadre, mas então vocemecê vai lavar hoje, Quinta-Feira da Ascensão, um dia tão santo?
Eh, entaõa, pois a roupa está suja e eu vou lavar.
E a mulher fpo lavar. Mas em certa altura, quando estava a lavar, a mulher desapareceu. Ninguém mais soube fim nem mandado dessa mulher. Pronto.
Aconteceu que daí ficou sempre a Mulher Morta. Essa mulher desapareceu, ninguém soube contar mais fim nem mandado dessa senhora e daí, ficou esse dia, se até aí era santo, mais santo ficou.
Depois daí a gente (eu não, que já era mais nova), mas os meus familiares mais velhos como a minha mãe e a minha avó, diziam que ouviam à hora da missa, ao meio-dia de Quinta-feira da Ascensão a mulher bater na ribeira, além. Diziam elas que era a bater na roupa.
Isto passou-se na Ribeira da Mulher Morta, que é a ribeira que vem da pereira e que vai desaguar ao rio Mexilhoeira. Esse sítio passou a chamar-se A Mulher Morta depois que isso aconteceu.