"Isto é tudo estudado!", afirma Carlos Capinha, no seu jeito brioso, enquanto mostra os pormenores de soldadura numa fateixa (pequena âncora) com comprimento inferior a um dedo polegar.
Atualmente é o único antigo pescador que se dedica à construção de barcos em miniatura, trabalho considerado como a mais típica manifestação de artesanato em Sines.
Aos 69 anos de idade, já perdeu a conta ao número de embarcações de pesca esculpidas e pintadas com as próprias mãos. Começou por fazer nassas (redes de pesca), depois gaiolas de grilos e só mais tarde se aventurou na construção dos primeiros barcos, em folha de palmeira. Podia ter seguido as pisadas de outro ex-pescador artesão, Chico Carola, entretanto falecido, que usava como matéria-prima a cortiça, mas teve um chamamento diferente. Optou pela madeira, além do latão ou do arame de cobre, admitindo contudo que é "mais complicado" de moldar: "sobretudo quando se fazem as cavernas (estrutura interna das embarcações) ou se talha a proa". Estes "pormenores mais miúdos", em vez de o desmotivarem, aumentam a sua perseverança.
A própria mulher, Maria do Rosário, que melhor que ninguém conhece o empenho de Carlos Capinha, refere que ele passa horas, na exígua marquise do apartamento de ambos, a afinar detalhes. "Devias era ter sido serralheiro civil!", comenta, de sorriso posto no marido.
Alguns dos seus trabalhos estão expostos na Arte Velha - Associação de Artesãos de Sines e apesar de várias vezes o terem encorajado a fixar preços, nunca o fez. Explica que lhe falta a "alma de vendedor".
Deixou a faina no mês passado e adianta que agora, finalmente reformado, tem "todo o tempo do mundo para o seu passatempo. E em particular para aprimorar os detalhes que verdadeiramente o desafiam, ao sabor das recordações de tantos anos no porto de pesca junto à praia.
Dica da Seman - 15.5.2014 - Lina Manso
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