Em 1320, a vila de Castro Marim foi doada por D. Dinis à Ordem de Cristo, que ali se manteve até ser transferida para Tomar. Conquistada aos mouros por D. Afonso III, a vila recebera foral em 1277. Campo de numerosas batalhas, Castro Marim viu o seu castelo mudar de bandeira um par de vezes. Ora hoje moura, ora amanhã cristã, ali há também um alfobre de lendas de mouros encantados. Infelizmente, a memória de muitas delas perdeu-se, sobretudo no que se refere a pormenores. E ainda bem que Ataíde Oliveira (1843 - 1915) entendeu coleccionar quanto pôde - e muito foi! - da tradição algarvia. Não fora ele e nada saberíamos de um certo sapo.
Que sapo? Pois um que havia no sítio da Espargosa, numa horta próxima de Castro Marim. Não era um sapo qualquer, era um mouro encantado. Muita gente da vila o viu, mas a partir de determinada altura, desapareceu. Tanto quanto se diz, desapareceu porque se quebrou, por fim, o seu encantamento. Porém, nessa mesma hora foram vistas, pela meia-noite, algumas mouras, pertencentes a outros encantamentos! E também, foram vistas ao meio-dia, que é a hora em que costumam pentear os seus cabelos com pentes de ébano, decorados com embutidos naquele precioso metal. Houve quem as visse.
Por outro lado, os noctívagos de Castro Marim, quando lançam o olhar pelas arruinadas muralhas da sua vila, às vezes topam com um mouro a passear por lá.A lenda diz que o mouro era um homem riquíssimo e que em tempos protegeu uma família, ainda que as pessoas se tenham esquecido porquê! É o mouro do castelo e pronto.
Igualmente, registou Ataíde Oliveira, que no Arco da Herveira, ainda nas imediações de Castro Marim, ao meio-dia e à meia-noite, mouros e mouras encantadas apareciam a quem por lá passava. Uma proprietária daqueles sítios, certa noite, enfrentou-se com uma figura, a quem por diversas vezes atirou o seu punhal, sem lhe poder acertar. Por outro lado, a tal figura também não a conseguiu agarrar. Acabou por esta desaparecer e a senhora, ao chegar a casa, viu que tinha o corpo como se lhe tivessem batido! As pessoas até diziam que fora uma luta da senhoras, que se chamava Ana Faísca, com um bicho monstruoso, por causa do desencanto de um mouro. A senhora não negava a luta, mas não aceitavas a motivação...
Também para aos lados das Vargens de Belixe, reza outra lenda que, ao meio-dia, se escutava, "ais" lamentosos que vinham do meio da terra. Muita gente lá terá ido ouvi-los, mas ninguém se deu ao trabalho de averiguá-lo! Contava se também nos serões desta vila a história dos nove mouros encantados. O próprio Ataíde Oliveira diz que pediu a um amigo que lhe arranjasse os termos da história, mas ele não conseguiu descobrir nada, estava tudo esquecido! E o grande investigador algarvio atribui à accção dos frades a culpa da destruição da memória destas lendas. Todavia, ele sempre contava com o efeito contrário quando surgem tentativas de desmantelamento deste tipo. Bem, mas o esquecimento é muito...
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