O fidalgo chamava-se D. Florentim Barreto, mas era conhecido por D. Sapo. Tinha a sua torre e o seu solar em Cardielos, Ponte de Lima. E possuía o abominável direito de pernada, seja de dormir a primeira noite com cada recém-casada dos seus territórios. Era um enxovalho para o povo de Cardielos, mas o fidalgo amparava-se numa data de outros poderosos fidalgos na corte. Arrogante e ruim, D. Sapo tinha aquele povo na mão.
No entanto, não há mal que sempre dure. E não durou a partir do momento em que um rapaz de Cardielos decidiu casar e não consentir que o D. Sapo lhe gozasse a noiva no dia do casamento. E quis levantar o povo, mas a reunião deu para o torto. Toda a gente receava, mais do que D. Sapo, as represálias do rei e dos amigos de D. Sapo.Então, o moço noivo sugeriu que uma representação se deslocasse à corte e procurasse ser recebida pelo monarca. E assim aconteceu.
"Majestade, viemos dar-lhe conhecimento do que se passa na nossa terra, em Cardielos. Há lá um sapo que tira a virgindade às raparigas casadoiras..." O rei sorriu daquela notícia que lhe pareceu ingénua. "E nós precisamos de Vossa Majestade para nos autorizar em acabar com o peçonhento..."
Achando que era um divertido jogo, o rei disse ao secretário que escrevesse uma declaração. Nela dizia que autorizava o povo de Cardielos a acabar com o sapo que assim fazia. E assinou.
Regressados da corte, os homens de Cardielos armaram-se e lançaram-se contra o D. Sapo matando-o, destruindo-lhe o solar e a torre. Mas não tardou que ali se apresentassem os fidalgos amigos de D. Florentim com as suas tropas para vingarem aquele morte. Mas os de Cardielos recorreram ao rei, exibin do a carta que autorizava o extermínio do sapo. E o rei, sabedor do ocorrido, deu-lhes razão, mandou retirar de Cardielos os amigos do tiranete e protegeu aquela gente que, com expediente, soubera salvar-se das ruindades de D. Sapo.