sábado, 17 de dezembro de 2016

OS SAPATOS E AS SUAS HISTÓRIAS



O Museu do Calçado de São João da Madeira proporciona uma viagem no tempo através da moda do design, dos processos de produção e dos pés que andaram calçados com alguns modelos em exposição.
Seis anos de investigação deram nisto: a evolução do calçado desde a pré-história, máquinas e processos explicados do início ao fim, modelos de criadores nacionais e internacionais, exemplares de diferentes épocas. O novo Museu do Calçado de São João da Madeira instalou-se na antiga metalúrgica Oliva, um enorme edifício emblemático da cidade, e da sua tradição industrial.
Tudo o que diz respeito a esta indústria pode ser ali visto, ao perto. Maquinaria pesada, como o balancé que corta a matéria-prima e o pantógrafo que tira medidas às peças conforme os tamanhos. A máquina de costura que as gaspeadeiras usam para coser as peças. Ou ainda a máquina de fechar calcanheiras que dá a primeira forma e a máquina de polir materiais.
Neste museu, os sapatos não são apenas resguardos para os pés. Valter Hugo Mãe doou os sapatos cinzentos com ares de turista com que voltou a pisar Saurimo, em Angola. Eunice Muñoz cedeu os sapatos pretos com que pisou o palco na peça "Mary May" em Dezembro de 1964. Manuela Azevedo enviou os botins que calçou na digressão do álbum "Cintura" e que perderam o salto várias vezes. Há também sapatos castanhos e simples de António Guterres. E sapatos de Mário Zambujal, sapatilhas azuis de Pedro Abrunhosa, sapatos altos de  Catarina Furtado, sapatos-luva de Carlos do Carmo. As sapatilhas Sanjo, outrora as mais procuradas do mercado, têm espaço reservado, assim como os grandes estilistas portugueses e estrangeiros desta arte.
O recuo ao passado é obrigatório. O túnel do tempo é feito em ziguezague com réplicas de sapatos. Cascas de árvores, folhas, peles e fibras vegetais entrelaçadas no pé durante a pré-história. Sandálias encontradas no túmulo de Tutancámon no Egito. O sapato branco com fivela de metais preciosos e salto vermelho de Luís XIV de França. Sabrinas rasas, macias e decotadas do século XIX. Cunhas e plataformas dos anos 30, os Chelsea boots popularizados pelos Beatles nos 60, saltos altos e rasos nos loucos 70, o glamour dos 90, o design cada vez mais apurado no século XXI, Tudo isso num museu de dois pisos.



Evasões # 90

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