Entrado-se no museu de
Amarante, logo o olhar cai sobre o Diabo e a Diaba, que ali estão como par nos
receber. Virão os visitantes do túmulo de S.Gonçalo, onde não deixarão de ter
puxado pelo cordão do hábito do santo, na igreja do mosteiro de seu nome, em
intenção do casamento de alguma velha? Não! Não nos confessem, não vale a pena!
Vamos então a lenda...ouçam em voz baixa esta
lenda demoníaca.
A lenda é do tempo das invasões francesas,
quando Loison entrou em Amarante, invadindo o mosteiro de S. Gonçalo, onde
deram com o Diabo e a Diaba, figuras fortemente sexualizadas, simbolizando a
força criadora da natureza, decerto reminiscências de antigos cultos pagãos.
Porém a tropa a francesa decidiu fazer paródia,
vestiu-os com paramentos roubados na sacristia da igreja, passeou os manipanços
pelas ruas da então vila, e acabaram por queimar ambas as imagens.
Mas valha a verdade, os franceses foram logo a
seguir corridos de Portugal, e os frades entenderam por bem encomendar a um
mestre entalhador dois outros diabos, o mais parecido com os vandalizados.
Sabe-se que foi mestre António Ferreira de Carvalho o artista da obra.
Quis o prior do mosteiro que em cada uma das
cabeças fosse praticado um furo para os diabos servirem de peanha á cruz e á
umbela.
Estas imagens do Diabo e da Diaba tinham uma
certa veneração a 24 de Agosto, dia em que o Diabo anda à solta.
Conta-nos o
historiador judeu amarantino Barros Basto que a população respeitava o dia como
se feriado fosse e nas cabeças de ambos eram depositadas diversas ofertas.
Em 1870, D José de Moura, arcebispo de Braga,
quis seguir as pegadas dos franceses. O prelado, achando as imagens chocantes
para os olhares determinou que fossem queimadas.
Todavia ninguém teve coragem para o fazer.
No entanto houve quem se afoitasse a cortar os
órgãos sexuais do Diabo.
Mais tarde como se já fossem propriedade
particular, apareceu um inglês que comprou o demoníaco e monstruoso par. Porém,
o povo amarantino é que não gostou nada do negócio e reclamou.
Mas nada pôde então fazer. Os diabos foram mesmo
para Inglaterra.
Porém, não se sabe as razões, mas decerto
existiram e bem fortes foram, que o Diabo e a Diaba viajaram de novo.
Desta vez, de Inglaterra para Amarante.
O mesmo povo que reclamara fez uma festa de
arromba, andando a rapaziada fantasiada de diabo, passeando pelas ruas da terra
de Pascoais e Amadeu. Foi uma alegria aquele regresso.
E como atrás foi dito, o Diabo e a Diaba estão
na entrada do Museu Municipal de Amarante, que umas vezes é tratado por Albano
Sardoeira, seu organizador e primeiro director, outras por Amadeu de Sousa
Cardoso, uma figura notável da pintura Portuguesa de todos os tempos.
Mas o que desapareceu, a par do pirilau do
Diabo, foi a tal tradição de 24 de Agosto!....
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