sábado, 7 de fevereiro de 2009

LENDAS DE PORTUGAL - IV - SILVES






O rapaz da guitarra
Duas boas aldeias do concelho de Silves queriam constituir freguesia, mas discutiam entre si por causa da localização da sede. De um lado era Cortes e do outro Messines, não se entendendo. Mas, finalmente, lá chegaram a um acordo.
Cada uma das aldeias arranjou um cavalo e um cavaleiro, depois o das Cortes foi para Messines e o de Messines para as Cortes. À mesma hora saiu cada um deles em direcção à sua terra. No lugar em que se encontraram foi construída a sede da sua freguesia. E é aí que se encontra implantada S. Bartolomeu de Messines.
Agora vamos a outra lenda. Esta diz-nos que nos limites da freguesia de Messines com a freguesia de S. Marcos fica o Pego da Carriça. Pois certa noite ali passava um rapaz que levava consigo uma guitarra. Ia para uma festa qualquer. E às tantas ouviu que o chamavam. E lhe pediam que tocasse a guitarra. Julgando que era alguém a querer gozar à sua custa, achou graça e sem se importar de não ver ninguém, toca de tocar a bom tocar. E então escutou uma voz que lhe dizia: "Por mais espantoso que seja, não te admires com coisa nenhuma!"
E o que é que aconteceu? Pois viu um porco a dançar ao som da guitarra. Logo a seguir viu um touro a fazer a mesma coisa. E não tardou que se lhes juntasse uma serpente. Ele só se ria, sem perceber muito bem o que se passava.
Às tantas, a serpente saiu do pego e veio enroscar-se nas pernas dele. E ele continuou a tocar. Mas a serpente ergueu a cabeça no intuito de lhe dar um beijo. Mas o rapaz, naquele instante, soltou as cordas e disse: "Valha-me Maria Santíssima!"
A serpente desapareceu. E o touro. E o porco. E uma voz zangada disse: "Ah, ladrão, que dobraste o meu encanto! A minha irmã ia dar-te um beijo e era só o que lhe faltava para ficarmos todos desencantados..."
"O que ela queria era tirar-me os óleos no baptismo!"
"Pois, mas perdeste grandes tesouros que estavam guardados para ti!"
Sem dar mais nenhuma palavra, o rapaz meteu a guitarra debaixo do braço e foi-se embora, jurando que nunca mais voltaria a passar por ali.
Bem, já agora não saímos da freguesia. Pois em S. Bartolomeu de Messines há umas casas grandes que as pessoas dizem estarem assombradas. Pois deu-as um homem a um afilhado que para lá foi viver com a mulher. Ele trabalhava nos campos, a mulher fazia-lhe a comida e ia levar-la. Um dia atrasou-se no cozinhar e apareceu-lhe um mourinho para a ajudar durante cinco anos. Se ela deixasse, ao fim desse tempo, ele dar-lhe-ia um tesouro, que lhe mostrou. Mas seria segredo. Ora ela começou a desleixar, fiada que ia ser rica. O marido, vendo-a diferente chegou de repente a casa e ouviu-a falar. Lá confessou que era o mourinho e contou-lhe tudo. Então começou a definhar até que morreu, castigada pelo ajudante. E o viúvo, triste, foi para muito longe.

Sem comentários: