Do castelo de Porches, no lugar chamado Porches-o-Velho, hoje dentro do perímetro do município de Lagoa, restam apenas algumas ruínas. E nem foi incúria dos homens nem nenhuma batalha de extrema violência a provocar aqueles escombros. Foram as forças da natureza em 1755, o terramoto do primeiro dia de Novembro. Construído, ao que parece sobre antigas fortificações romanas, para defesa da costa algarvia contra as invasões dos mouros, nessa altura já há muito cumprira o seu papel. Ora ali bem perto do castelo passa o ribeiro do Vale do Olival, sobre o qual os ocupantes mouros construíram uma curiosa ponte, da qual apenas resta um pilar como amostra de tempos tão antigos.
Certa noite, ao que se diz de um belíssimo luar, um homem, que habitava por aqueles sítios, passou junto a um dos pilares da ponte. Naquele instante pareceu-lhe escutar vozes. Ficou um pouco à escuta e reparou no tom lamentoso dessas vozes, interrogando-se sobre a sua origem. Não parecia que quem assim se queixava estivesse longe do local onde ele se encontrava, pelo que deu uma volta pelo local. Daí a instantes, o homem surpreendeu-se ao verificar que as vozes eram de duas pessoas, seja um homem já de idade e uma jovem, ambos vestidos à maneira dos mouros. Admirou-se do encontro, pois mal tinham passado duas semanas desde que os mouros tinham sido expulsos do Sul pelas tropas cristãs do rei de Portugal, que assim se tornara também rei dos Algarves, como então se dizia. E, discretamente recolhido nuns arbustos, ouviu o mouro dizer para a rapariga:
"Minha querida filha, aqui ficarás enquanto não for cortado este mato e a terra semeada. Depois, se assim não fizerem, não tornarás a aparecer no aduar de teus pais!"
E, num ápice, pai e filha desapareceram, ficando o homem muito impressionado. Não havendo mais nada ali a fazer, foi à vida dele, muito pensativo. Mas ao chegar a Porches não deixou de contar a várias pessoas aquilo que presenciara. Passou-se o tempo e, alguns meses mais tarde, uma mulher do povoado, que andava a pedir esmola, ao passar junto dos pilares da ponte do ribeiro do Vale do Olival, viu algo com que não contava. Havia uma esteira estendida no chão e, sobre ela, figos expostos aos raios solares. Como se alguém os quisesse armazenar secos para o inverno.
Ora ela não contava com aquilo porque ali à volta era tudo mato e não havia figueiras senão a muita distância. Como é que apareciam, então, ali os figos? Aliás, até desconfiou que fossem figos o que estava a ver. E, vai daí, a mendiga apanhou uns quantos e meteu-os na cestinha que levava para guardar as esmolas que lhe desse a caridade dos moradores. Foi a mulher pelo caminho que pensara, quando lhe deu a fome e lembrou-se dos figos. Abriu a cestinha e por cada figo encontrou uma peça de ouro fino. E logo arrepiou caminho. Regressando à ponte, mas já lá não estava a esteira nem os figos. E quando contou o que lhe acontecera, os poucos que nela acreditaram, lembraram-se de que ali ainda estava a mourinha encantada, enquanto não cortassem o mato...
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