domingo, 18 de outubro de 2009

ALAIN OULMAN

Músico, editor e resistente

Nasceu no Dafundo, em 1928, filho de uma família com negócios com sede em Lisboa mas projecção além das fronteiras. Cedo manifestou um interesse pelos livros e pela música. Não era contudo esse o rumo que o pai lhe destinara, sobretudo depois de ter perdido um filho na guerra. Alain Oulman acabou por contribuir activamente na gestão dos negócios da família. Mas hoje é essencialmente reconhecido pela obra que deixou na música, na edição livreira, igualmente importante sendo a memória de uma postura de confronto com o regime salazarista da qual chegou a resultar uma ordem de extradição.
Alain Oulman começou por estudar Engenharia Química (e Música) na Suíça. Em Paris, pouco depois, chegou a compor para Yves Montand. Em Nova Iorque, já em inícios dos anos 50, conheceu alguns dos nomes que faziam de Greenwich-Village um centro de agitação musical. A intervenção do pai devolveu-o todavia a Lisboa.
O artista não seria contudo abafado pelo dia-a-dia nos negócios. Em 1960 conhece Amália e com ela colabora num álbum que mudaria para sempre o ruma da sua carreira (e do próprio fado). Recordamo-lo hoje como Busto, e na altura dividiu opiniões. Mais complexos que o habitual, os fados eram inclusivamente descritos pelos músicos que acompanhavam Amália como "operas"... Mas fizeram a diferença.
Nos anos 60 desenvolveu também importante papel no teatro em Lisboa. Ma em 1965 a PIDE descobre que cedera uma casa para reuniões clandestinas da FAP (Frente de Acção Popular). Foi detido. E depois conduzido sob escolta até ao Aeroporto de Lisboa e expulso de Portugal.
Instala-se em Londres com a mulher, e ali nasce o seu primeiro filho. A diplomacia francesa consegue um perdão. E de regresso a Portugal grava com Amália "Com que Voz" (1970), outro dos momentos maiores da sua obra conjunta. Mas acaba por se fixar definitivamente em Paris, trabalhando com o editor Calmann-Levy, em que publica, entre outros, Patricia Highsmith, Amos Oz e o histórico "Portugal Baillonné", de Mário Soares.
Alain Oulman morreu subitamente em 1990, com apenas 61 anos. Um documentário realizado pelo seu próprio filho, exibido esta semana no Doc Lisboa, leva agora a sua vida e obra ao grande ecrã.

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