Os ovos que dois casais de flamingos estão a incubar na Lagoa dos Salgados (Algarve) até podem nunca chegar a eclodir. Há razões naturais e eventuais forças exteriores que podem explicar o insucesso reprodutivo da espécie. Mas só o facto de terem sido descobertos três ninhos de flamingo, dois dos quais já com ovos, por aquelas paragens do Sul de Portugal é um fenómeno digno de registo. Pela primeira vez esta pernalta tenta nidificar no nosso país.
É que, apesar de existirem em território nacional mais de seis mil flamingos-comuns, a esmagadora maioria das aves que encontramos nas nossas zonas húmidas nasce em Espanha, na região de Fuentedepiedra, o local preferencial de reprodução da Europa, dada a alta salinidade por ali existente, onde abunda o alimento preferido: a artémia, um pequeno camarão. Outros viajam o Parque de Doñana para Portugal e há até uma pequena minoria oriunda de França.
Luís Costa, o presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), entidade que revelou a descoberta dos três ninhos "algarvios" - não se sabe se o terceiro vai ser ocupado -, garante que Portugal até tem vários locais que, pelo menos, em teoria, ofereciam condições favoráveis para os flamingos nidificarem, mas o mais próximo que estivemos disso é uma curta experiência nos anos 80, em Castro Marim, da qual não há qualquer registo que ateste a veracidade da informação.
E que levou os flamingos a darem os primeiros sinais de reprodução em Portugal? Luís Costa admite que o facto de países como Espanha, França, Turquia ou Tunísia estarem a desenvolver trabalhos de conservação da espécie esteja a provocar uma tal recuperação da população, depois de ter chegado a estar ameaçada, que alguns exemplares começaram a "sentir vontade" de se estabelecerem noutros locais.
E que levou os flamingos a darem os primeiros sinais de reprodução em Portugal? Luís Costa admite que o facto de países como Espanha, França, Turquia ou Tunísia estarem a desenvolver trabalhos de conservação da espécie esteja a provocar uma tal recuperação da população, depois de ter chegado a estar ameaçada, que alguns exemplares começaram a "sentir vontade" de se estabelecerem noutros locais.
"É por esta razão que isto acaba por ser uma meia surpresa para nós", refere o biólogo, numa altura em que as zonas de reprodução começam a estar sobrelotadas, optando alguns por se reproduzirem em locais onde não era habitual.
"Outra explicação possível é que se trate de juvenis ou adultos ainda não reprodutores, que não nidificam, pelo que não ocupam lugar nessas colónias reprodutoras", refere.
Eis uma das razões pela qual a eventual não eclosão dos ovos não preocupa os biólogos, já que nem sempre as aves marinhas ou aquáticas de grande porte se reproduzem logo no primeiro ano. Por vezes só o conseguem fazer ao terceiro ou ao quarto ano.
"É natural que não nasçam as crias, porque geralmente o flamingo reproduz-se em grandes colónias e as aves ficam mais protegidas. Quando as colónias novas se estabelecem são sempre mais frágeis", explica Luís Costa, mais preocupado com as causas "não naturais" que poderão comprometer a incubação que dura 28 dias, na medida em que a Lagoa dos Salgados regista "várias perturbações", sublinha, alertando para as variações do nível da água e para o regular aparecimento de cães que costumam comer ovos e crias de outras espécies.
Recorde-se que não é de hoje que a SPEA reclama pela classificação daquela zona, justificando que integra uma das áreas mais interessantes para as aves na País que se encontra "ameaçada". Relativamente ao nível das águas, a Administração da Região Hidrográfica do Algarve já instalou uns tubos para tentar garantir que haja enxurradas ao longo do período de incubação dos flamingos. Já quanto aos cães, pouco há fazer. "Terão de ser os donos a ter o cuidado de os passear à trela e os animais abandonados deverão ser recolhidos pelos serviços municipais", reclama Luís Costa.
DN - 16.05.2010
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