sexta-feira, 12 de agosto de 2011

BARBOSA DU BOCAGE



Foi em verso que disse adeus ao rio
Corria o ano de 1765 quando no número 12 da Rua de São Domingos nasceu aquele que viria a tornar-se num dos mais consagrados poetas portugueses. Manuel Maria Barbosa du Bocage, o homem que um dia usou verso para se descrever a si próprio como "magro, de olhos azuis, carão moreno/Bem servido de pés, meão na altura/Triste de facha, o mesmo de figura/Nariz alto no meio, e não pequeno".
Os anos passaram, a rua que o viu nascer em Setúbal já mudou de nome, e a sua casa ganhou um: Casa Bocage, hoje transformada em biblioteca, galeria e arquivo fotográfico.
No ano 1786, ao ser nomeado guarda-marinha do Estado da Índia, partiu Bocage para o Oriente, não sem se despedir da sua pátria e do seu rio:
"Eu me ausento de ti, meu pátrio Sado
Mansa corrente deleitosa, amena
Em cuja praia o nome Filena
Mil vezes tenho escrito, e mil beijado
Nunca mais me verás entre o meu gado
Soprando a namorada e branca avena
A cujo som descias mais serena
Mais vagarosa para o mar salgado."
Depois de quatro anos fora e após passagem pelo Brasil, regressou em 1790 a Portugal para no ano seguinte publicar o primeiro de três tomos de rimas.
Boémio e mulherengo, passava grande parte do seu tempo em cafés e salões até ser encarcerado em 1797 na cadeia do Limoeiro por ordem da Pina Manique, que o acusou de conspiração contra a segurança do Estado, como "autor de papéis ímpios, sediciosos e críticos".
Até morrer, vítima de um aneurisma com apenas 40 manos, Bocage viveu numa casa arrendada no Bairro Alto, em Lisboa, onde escreveu os seus últimos sonetos.

DN-12.8.2011

3 comentários:

Bárbara disse...

Muito interesante.
Gostei muito do que li.

Alberto David disse...

Retrato próprio

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste da facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage

Anónimo disse...

Muito obrigada pelo poema completo.
Um abraço
Werngard